É cada vez mais comum ouvir um homem dizer que é feminista. Eu já disse. Hoje, não mais. Não que eu tenha me juntado ao odiento grupo de homens antifeminismo. Não! Só achei um termo com o qual me sinto mais confortável e, principalmente, mais honesto: pró-feminismo.
O feminismo me interessa há muito tempo, desde a adolescência, talvez porque tivesse dificuldade de me ajustar aos estereótipos masculinos. Os homens, com sua necessidade de ser fodões, maiorais, mais-mais — o que muitas vezes significava ser bem escroto com as mulheres e com os próprios amigos — me deprimiam e também me intimidavam, porque eu tinha medo do que eles fariam se percebessem que eu não me sentia muito como eles e até os achava bem ridículos. As mulheres pareciam pessoas muito mais bacanas, e era infinitamente mais agradável, e seguro, ficar na companhia delas.
Mas, mesmo sendo esse garoto, eu era um garoto, um homem. E mais: um garoto classe média alta, branco, cheio de facilidades na vida que, depois aprendi, se chamam privilégios. Eu não sofria assédio dos professores na escola, não era abordado na rua por caras que diziam coisas ameaçadoras, não corria o risco de ficar mal-falado se sumisse por um tempo com uma menina no meio de uma festa, não achava que não valia nada só por ser gordo, não me intimidava em expressar minhas opiniões porque era incentivado a cultivar e expressar minha inteligência, não pensava duas vezes antes de fazer palhaçadas, falar alto, gargalhar, dizer palavrão… Enfim, gozava de uma liberdade e de muitos estímulos encorajadores dos quais as garotas não gozavam.
Com o tempo, fui vencendo minhas angústias, resolvendo meus desafios da juventude, achando meu espaço no mundo, ganhando mais segurança e não me sentindo mais intimidado pelos machões bobocas. E a vida ficou mais simples, boa, tranquila, excitante.
Olhando lá no fundo de mim, enxergo um cara que tem medo da liberação sexual das mulheres, porque ela revela minhas inseguranças e neuras.
E aí chegamos ao feminismo. Eu penso: se eu me disser feminista, estou me equiparando à Lola, às Déboras, à Viviany, à Nana, à Djamila… Elas são feministas e eu também? E aí eu começo a me sentir um embuste, uma baita de uma fraude. Porque, olhando lá no fundo de mim, enxergo um cara que tem medo da liberação sexual das mulheres, porque ela revela minhas inseguranças e neuras. Enxergo um cara que tem dificuldade de perder uma discussão para uma mulher e que reluta muito mais em admitir que está errado quando na minha frente está uma interlocutora. Enxergo um cara que gosta de falar pacas em sala de aula e só depois de um esforço racional se dá conta de que as colegas não estão se expressando. Enxergo um cara que demorou muito para ter ídolas, mulheres que eu admirasse pelo talento e pelas realizações, e não só pela beleza. Um cara que… é machista, oras.
Então, como posso me dizer feminista se sou machista? Como posso me dizer feminista se várias vezes opto pela facilidade de usufruir do meu privilégio masculino e seguir a vida comodamente? Como posso me equiparar às feministas quando sei que este texto, no qual admito ainda ser machista, vai fazer muita gente, inclusive mulheres, me admirar mais que a Lola, a Débora, a Nana, a Djamila…? Só porque fui sincero, sou um homem sensível…
Não, é mais honesto me dizer pró-feminismo. Apoio o feminismo porque ele é uma causa justa que, de quebra, me educa, me revela a mim mesmo, me mostra como eu e os homens costumamos agir e contribuir para a manutenção do machismo. Sou pró-feminismo porque acho que esse machismo que reside em mim tem que sumir antes de eu morrer, mesmo que envolva lidar com meus medos. Sou pró-feminismo e não me ofendo quando uma mulher me diz que não posso ser feminista. O feminismo é das mulheres. No feminismo, aos homens, cabe um papel que, ao longo da vida, eles vão infelizmente aprendendo a rejeitar: o de aprendizes das mulheres. Não rejeitemos esse papel, amigos. Nos reconheçamos alunos delas. Sejamos pró-feminismo.
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