Toque do companheiro reduz a dor do parto, sugere estudo

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Eis um estudo capaz de reavivar nossa crença no amor! Uma dupla de pesquisadores da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, e da Universidade de Haifa, em Israel, encontrou evidências de que o simples toque do nosso parceiro é capaz de aliviar nossas dores físicas. Os mecanismos por trás desse efeito mágico do companheirismo ainda não estão muito claros, mas a pesquisa pode ajudar a explicar algo que muitas mulheres já descreveram: o quanto segurar a mão do parceiro na hora do parto parecia tornar o momento menos dolorido.

Aliás, o principal autor do estudo, Pavel Goldstein, doutorando da universidade norte-americana, conta que a ideia do estudo surgiu justamente quando ele assistia ao nascimento da filha, hoje com 4 anos. “Minha mulher estava sentindo dores e tudo que eu podia pensar era: ‘O que eu posso fazer para ajudá-la?’ Eu segurei sua mão e isso pareceu ajudar”, conta, em um comunicado. “Eu, então, quis testar no laboratório: Alguém pode reduzir a dor apenas com o toque? Se sim, como?”

Pavel bolou o seguinte experimento: convocou 22 casais heterossexuais com uma longa relação e, avaliando cada dupla por vez, colocou neles sensores capazes de medir o batimento cardíaco, a respiração e a atividade cerebral. Primeiro, ele pediu que cada casal se sentasse na mesma sala sem se tocar, depois dando as mãos e, por fim, em salas diferentes. Essa fase mostrou que os parceiros, só de estarem perto um do outro, mesmo sem encostar, entram em uma espécie de sincronia, ajustando a respiração e o batimento cardíaco de forma que eles fiquem parecidos.

Depois disso, veio a parte da dor. Nessa segunda etapa, o homem observava a companheira receber no braço uma fonte de calor que, apesar de não queimar, provocava um certo grau de dor. Se a observação ocorria com o homem em outra sala ou na mesma sala sem poder tocar a mulher, a respiração e o batimento cardíaco dos dois ficavam descompassados.

Mais empatia, menos dor

Assim que era permitido ao homem tocar sua parceira, a sincronia de antes era aos poucos retomada, e as mulheres diziam que isso tornava a dor mais suportável. Outro interessante resultado foi que as mulheres que disseram sentir menos dor graças ao toque eram aquelas cujo parceiro havia se mostrado mais empático (capaz de se colocar no lugar do outro) em testes feitos por meio de questionários.

“Aparentemente, a dor interrompe essa sincronia interpessoal entre casais”, diz Goldstein. “O toque a traz de volta”, completa o cientista, que ainda não analisou os dados coletados sobre as ondas cerebrais dos voluntários e planeja realizar o mesmo experimento fazendo com que os homens recebam a dor e também usando casais do mesmo sexo.

O estudo assinado por Goldstein e sua colaboradora Simone Shamay-Tsoory foi publicado este mês (coincidentemente, no Dia dos Namorados!) na revista especializada Scientific Reports. No trabalho, não há ainda explicação sobre como funciona essa sincronia entre amantes capaz de aliviar a dor, mas Goldstein explica que o fenômeno da sincronia interpessoal tem sido muito estudado.

Outros trabalhos já demonstraram que as pessoas, inconscientemente, sincronizam seus passos aos da pessoa com quem estão caminhando ou ajustam a postura corporal para espelhar um amigo enquanto conversam. Estudos recentes também mostraram que quando assistimos a um filme emocionante ou cantamos com outros, nossos batimentos cardíacos e respiração entram em compasso. Mas o estudo de Goldstein e Shamay-Tsoory é o primeiro a investigar os efeitos desse fenômeno sobre a dor.

Se Goldstein tiver que arriscar um palpite sobre qual é o mecanismo biológico por trás do resultado de sua pesquisa, ele diria que a resposta deve estar em uma área do cérebro chamada de córtex cingulado anterior, que parece relacionado à percepção de dor, empatia e funções cardiorrespiratórias. Mas essa é uma resposta que vai depender de mais pesquisas. Por enquanto, o principal autor fica com uma hipótese incrível: “Pode ser que o toque seja uma ferramenta para comunicar empatia, o que resulta em um efeito analgésico”.

Humberto Rezende

Jornalista desde 1997.

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