Não faz muito tempo eu comecei a jornada pelo uso da cannabis medicinal. Meu ponto de partida foi um encontro especial por meio de uma tela: uma videochamada em 10 de julho com a doutora Bárbara Arranz, a primeira biomédica especializada em terapia canabinoide e a primeira a ser habilitada pela Anvisa para prescrição de medicamentos à base de cannabis.
Eu, que sofria de insônia, picos de ansiedade, problemas com libido — após anos de uso de remédios psicotrópicos — e secura vaginal, estava ansiosa para ver se um tratamento natural seria capaz de colocar fim a fatores que promoveram um verdadeiro incômodo na minha vida pessoal.
Bárbara foi uma indicação da Juliana Guimarães do ODispensário, o primeiro dispensário canábico do Brasil, que trabalha com a facilitação para o acesso a profissionais especializados em terapia canabinoide e produtos de cannabis medicinais.
Como Bárbara mora na Espanha, nossa consulta foi via videochamada, que, na verdade, foi mais um bate-papo e uma aula sobre os benefícios da cannabis medicinal. Primeiro ela se apresentou, falou da formação na área da saúde e como se especializou na terapia canabinoide, com o qual atua há sete anos. O que a estimulou a pesquisar sobre o tema foi a necessidade. Mãe de um filho autista, foi na cannabis medicinal que encontrou o melhor tratamento.
Depois de falar das minhas queixas, a biomédica me explicou sobre alguns produtos à base de cannabis usados para o tratamento dos meus incômodos, ressaltando como todas são interligadas e que o tratamento é feito de maneira conjunta.
Para o meu tratamento em específico, Bárbara me prescreveu óleo, gummies, lubrificante vaginal e um creme para dores no corpo, todos à base de canabidiol.
Ela me explicou que o grande trunfo da cannabis medicinal é fugir da dependência e das repostas negativas causadas pelo uso prolongado de medicações controladas
“As medicações controladas atuam na interrupção dos neurotransmissores. Por isso, sugere-se o uso do óleo de CBD + CBDA como uma alternativa, uma vez que estimula a interação natural com os principais neurotransmissores, como serotonina, GABA, glutamato e adenosina. O CBDA é utilizado para potencializar os efeitos do CBD”, explica.
As gummies de CBD são indicadas como uma opção prática para situações de ansiedade ou como um modo de evitá-las. Já o gel íntimo tem a finalidade de prevenção a longo prazo, auxiliando na secura vaginal e relaxamento muscular, sem alterar o pH da vagina. O creme para dores no corpo é indicado como pré ou pós-treino, aliviando dores musculares, articulares e inflamatórias
“Tudo isso é um tratamento de suporte, como um tratamento suplementar, uma vez que o CBD e esses fitocanabinoides não-psicoativos são considerados suplemento alimentar. Eles são usados para trabalhar em cima de toda essa resposta que a medicação controlada trouxe, que agem na interrupção dos principais neurotransmissores, principalmente a dopamina, a serotonina, a ocitocina e a endorfina”, explicou a doutora.
Naquele momento vi que o tratamento não era milagroso, e sim um processo sério que iria fazer uma espécie de reset no meu corpo, pouco a pouco. “A gente vai trabalhar justamente nessa interação natural, como um detox, já que foram muitos anos usando essas mediações controladas”, emendou Bárbara.
De quebra, ganharia uma forma de sanar a ansiedade e conseguir melhor qualidade de vida também por meio da saúde mental, que seria fortalecida por meio do estímulo nos neurotransmissores.
“Juntos, esses produtos são como uma fonte natural de felicidade, porque eles trabalham com os quatro principais neurotransmissores. Consequentemente, acaba sanando a ansiedade e trabalhando o equilíbrio do corpo, e conseguindo ter resultados até de forma preventiva de qualidade de vida”, defende Bárbara.
Para o meu tratamento, Bárbara prescreveu alguns produtos da linha que ela desenvolveu, mas ela explica que esse não é o padrão, que geralmente, por questão ética, receita itens de outros farmacêuticos. A prescrição, assim como a maioria das receitas para remédios controlados, tem uma validade de 30 dias.
Rumo à liberação
Depois da consulta e da prescrição, é hora de conseguir a liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Para isso, novamente recorri à Juliana do ODispensário.
O óleo de canabidiol é um dos produtos listados pela Anvisa que já tem liberação imediata. Outros itens como lubrificante, gummies e cremes precisam de avaliação e podem levar de três a sete dias para serem autorizados.
A Juliana me explicou que o pedido pode ser feito pela própria pessoa por meio do sistema on-line do governo federal (gov.br), mas há detalhes que, se preenchidos de maneira incorreta, podem acarretar na negativa da Anvisa — por isso, a empresa dela oferece auxílio para submeter a solicitação.
O atendimento funciona assim: a Ju, como passei a chamá-la, pede para o solicitante que necessita de autorização de importação do produto entrar no próprio cadastro do gov.br. Quando já está logado no sistema, ela vai até o serviço de solicitação da Anvisa. Com a receita do paciente em mãos, é feito o preenchimento do formulário com os dados da pessoa.
Juliana pontua que muitos médicos acabam fazendo a prescrição errada e deixam de fornecer dados necessários para o pedido. A prescrição perfeita, segundo ela, deve ter a marca do produto, o produto e a dosagem. Exemplo: HempVegan Coldpress CBD + CBDA 100mg/ml THC <0,2%.
No caso de prescrição de mais de um produto da mesma marca, Juliana sugere abrir uma solicitação para cada. Ela explica que, caso o paciente faça o pedido de todos os itens em uma única solicitação, pode vir a ter problema com a Receita Federal. Isso porque, no texto do documento de autorização, a Anvisa coloca apenas como liberado o primeiro item e os seguintes como não autorizado. Embaixo vem um texto explicando que, como todos os produtos “são da mesma marca, do mesmo fabricante”, a autorização se estende para todos os produtos solicitados, independente da apresentação ou da concentração. No documento de autorização, de fato, aparece como autorizado a marca, e não o nome dos produtos. Abaixo, um exemplo da resposta:
“Essa não é uma orientação oficial da Anvisa, não existe isso determinado em lugar algum. Foi uma coisa que eu, quando verifiquei a prescrição, pensei que poderia ter umm problema de entendimento ou de interpretação.ara não correr o risco, uma vez que se trata de uma autorização excepcional para importação e para uso, achei melhor ter uma autorização para cada. Por isso é melhor fazer a divisão e solicitar cada produto em formulários separados”, destaca Juliana.
Uma vez feita as solicitações de importação, o paciente receberá um e-mail quando a autorização for liberada. Segundo o portal gov.br, a autorização é válida por dois anos e, durante esse período, os pacientes ou os representantes legais dele podem importar o produto autorizado.
Vale lembrar que distribuir ou comercializar o produto derivado de cannabis importado para uso medicinal próprio é crime. “Este produto é de uso estritamente pessoal e intransferível, sendo proibida a sua entrega a terceiros, doação, venda ou qualquer utilização diferente da indicada”, alerta a Anvisa no formulário de autorização.
Passaram-se alguns dias e em 23 de julho recebi o e-mail da Anvisa informando que o status das minhas solicitações mudaram e, enfim, chegou o resultado, o que significava que ou meu pedido foi autorizado, ou negado. No meu caso, todos os quatro produtos tiveram uma resposta positiva.
A Ju me explicou que a demora da resposta pode ter sido por conta de uma atualização das normas de importação da Anvisa, que passou a proibir a importação de cannabis in natura e partes da planta, represando algumas solicitações.
Com a autorização em mãos, juntamente com a cópia de um comprovante de residência do endereço para receber os produtos (tem que ser o mesmo que está na receita), a cópia da minha identidade e da receita, fiz o pedido ao fabricante. Os produtos são enviados através de transportadoras.
Início do tratamento
Em 9 de agosto os produtos chegaram na minha casa e eu dei início ao tratamento. Conforme minha prescrição, apliquei o gel íntimo na área vaginal e perineal antes de dormir, um processo que virou minha religião — praticada três vezes por semana.
Além disso, passei a usar o óleo de CBD, pingando duas gotas embaixo da língua 30 minutos após minha primeira refeição do dia. Também o utilizei à noite, mas em um processo diferente: dez minutos antes de pingar o óleo, que nessa hora eram quatro gotas antes de dormir, eu fazia uma terapia complementar chamada binaural, que consiste em ouvir ondas sonoras, disponíveis no Spotify da Hemp Vegan.
A doutora Bárbara explicou que essa terapia auxilia o paciente no tratamento ao proporcionar frequências propícias para o relaxamento e o bem-estar.
Por fim, as gummies foram prescritas para serem ingeridas antes e depois de atividades físicas, porque além de ajudar no sono e na ansiedade, ela atua como suplemento supralimentar multivitamínico. Ah, ela auxilia também na dieta, desintoxicação e recuperação muscular — para quem treina na academia e pratica judô de maneira regular, como eu, é o melhor dos mundos.
O resultado
Ao escrever essa parte do experimento lembrei como era minha rotina. Insônia começou a ser uma amiga cada vez mais frequente. Quando dormia, não descansava, além de acordar diversas vezes durante a noite, o que me deixava bastante cansada durante o dia.
Depois que comecei a tomar a medicação, lá para o quarto dia do tratamento, já comecei a notar a diferença no meu sono. Passei a dormir a noite inteira e o cansaço diurno começou a diminuir, restando apenas o desgaste natural da rotina diária. Eu, inclusive, já nem preciso mais tirar o cochilinho costumeiro depois do almoço.
Por outro lado, os incômodos na cama, como falta de libido e dificuldade de focar na hora H, também sofreram uma super mudança.
Após o início do tratamento, vi esse aspecto melhorar da água para o vinho — meu namorado que o diga! Já na quarta semana, comecei a notar que minha libido aumentou significativamente e o sexo, que já era bom, ficou sensacional: pela primeira vez tive orgasmos múltiplos — o que passou a acontecer com frequência, inclusive. Além disso, tanto eu quanto meu namorado percebemos que não mais apresento a secura vaginal que por muito tempo foi um incômodo tanto na hora do sexo como no meu dia a dia, com sintomas como sensação de queimação e coceiras.
Hoje, quando escrevo esse texto, estou na quinta semana de tratamento e pretendo continuar. O tratamento com o CBD se mostrou, de fato, eficaz e uma excelente alternativa aos psicotrópicos. Embora não seja barato — o vidro do óleo de CBD de 10ml, por exemplo, pode chegar a custar cerca de R$400 e o gel íntimo de 30 ml custa em torno de R$230 —, valeu muito a pena para mim. Também percebi que o acesso ao tratamento não é exatamente difícil, apenas burocrático. Mais do que uma substância tida como recreativa, senti na pele o quão poderosa é esse medicamento, capaz de tornar espinhos diários em uma vida muito boa de se viver.
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