Castidade: escolhi não me meter na vida alheia

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A castidade é uma questão de escolha?

Tem gente que escolhe esperar até o casamento. Outros se jogam no sexo na primeira oportunidade. Muitos se arrependem da escolha. Alguns se decepcionam de terem feito ou de não terem. Para os que gostam de amor sem sexo ou sexo sem amor, uma coisa é certa: a tal da castidade não diz respeito a ninguém, a não ser àquele(a) que preferiu tal ato (ou a ausência dele). E é muito bom discutir isso, porque o ser humano é muito mais do que sexo, mas não pode fugir de sua sexualidade.

Ora, dizem, mas pode não ser uma escolha. A pressão pela castidade vem de uma sociedade machista ou de imposições religiosas. Sim, romeus-e-julietas do meu Brasil, mas as coisas têm mudado, vocês não viram? Hoje pode mãe solo, pai que cumpre seus deveres, poliamor, relacionamento aberto. Quer criticar? Fique à vontade, mas isso não vai mudar o fato de que a sexualidade vivida atualmente é bem mais ampla, livre e irrestrita que há duas décadas. Mesmo em um país tão careta como o Brasil.

Sim, mas há a imposição religiosa, não é mesmo? É mesmo, e não serei hipócrita. Há mandamentos, regras e dogmas que falam sobre isso em diversas religiões. E, se eu sigo essa religião, nada mais normal que eu cumpra essas leis. Mas para que essas leis, querido escriba? Para proteger os fiéis, ora pois. São colocações morais de quem procura a santidade dentro de uma religião. Não quer seguir? Fique à vontade, Deus te ama do mesmo jeito.

“Por que julgar quem escolheu esperar? O sexo não é uma receita certeira para libertar alguém — apesar de conhecer muita gente que se libertou com o sexo. O que eu posso falar de experiência própria é que sexo é bom. Não: é excelente. Não: é supremo. Ainda mais quando se faz com quem você ama.”

Ai, lá vai ele se embrenhar para o lado da religião, da moral e dos bons costumes… Sim, um pouco. E quer saber? Quase sem querer, escolhi a castidade. Se eu recomendo? Desculpa, pergunta muito pessoal, muito íntima. E cheia de dúvidas. Vez em quando, me pego com questionamentos sobre minha escolha (sobre a castidade, fique bem claro, e não sobre a minha alma gêmea). Então, eu sou mais santo que os outros? É bem pouco provável. Sigo feliz e tranquilo desde o dia em que o papa Francisco disparou: “Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?”. Que diabos, quem sou eu para julgar alguém que escolheu não esperar?

Triumphs of Love, Chastity, and Death, de Francesco Petrarch

Então, por que julgar quem escolheu esperar? O sexo não é uma receita certeira para libertar alguém — apesar de conhecer muita gente que se libertou com o sexo. O que eu posso falar de experiência própria é que sexo é bom. Não: é excelente. Não: é supremo. Ainda mais quando se faz com quem você ama. É experimentar o céu — correndo o risco de cometer heresia. Por isso, eu digo: sexo pelo sexo, nunca experimentei, mas deve ser legal, divertido, prazeroso. Procurar isso incessantemente, porém, pode ser exaustivo e vazio.

A pagação de sapo do liberal é tão chata quanto a hipocrisia da religião. Afinal, como ignorar pessoas que hasteiam a bandeira da castidade e fazem sexo? Sim, porque sexo oral, anal e com qualquer outra parte do corpo também é sexo. Fechem os olhos: ouvi de uma jovem serelepe e cheia de discursos que nunca tinha transado com o namorado. Nada mesmo? Ah, só um beijinho ali, outro aqui e aquelas coisas feitas nas coxas… Ô, amiga, ô, amigo, não gritem para Deus e o mundo que vocês decidiram esperar! Vocês decidiram enganar! A questão, santinhos e santinhas, não é a penetração. O problema é moral e, se vocês ignoram isso, não aprenderam o moral da história…

Vivam e deixem viver. Escolham não se meter na vida alheia. Essa sim é uma receita redondinha para não se chatear e não deixar ninguém chateado.

Leonardo Meireles

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Leonardo Meireles

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