A geração Z — aquela nascida entre 1995 e 2010 — pode ser considerada uma das mais livre em relação a questões de gênero e sexualidade. Isso porque, as informações sobre sexo e prazer nunca foram tão fartas. Crescendo junto com as redes sociais e dos aplicativos de namoro, essa parcela da população também tem uma maior praticidade na hora de encontrar alguém para se relacionar. Mesmo assim, estudos e pesquisadores afirmam que os jovens de hoje estão transando menos do que as gerações anteriores.
Um estudo britânico avaliou que em 1990 os casais faziam sexo em média, cinco vezes por mês. Em 2000, o número passou para quatro vezes, e em 2010 para três vezes por mês.
Uma pesquisa sobre gerações, a IGen, feita pela psicóloga norte-americana Jean W. Twenge reforça que os jovens da geração Z têm menos interação sexual que os millennials e que seus próprios avós, quando tinham a mesma idade. Segundo o levantamento, os membros da geração X, nascidos nos anos 1970, relataram uma média de 10,05 parceiros sexuais ao longo da vida, ao mesmo tempo que os membros da geração Z afirmaram ter feito sexo com 5,29 parceiros ao longo da vida.
Mostrando as mesmas mudanças, um estudo realizado em 2020, pelo Instituto Karolinska na Suécia — em parceria com a Universidade de Indiana — com 9.500 pessoas concluiu que 30,9 % dos rapazes entre 18 a 24 anos não fizeram sexo nos últimos doze meses, antes da entrevista. Isso significa que um em cada 3 não praticaram sexo em um período de um ano. Em 2002, num estudo conduzido pelo mesmo instituto de pesquisa, a abstinência sexual entre os rapazes era de 18,9%. Entre as meninas, a abstinência saltou de 15,1% em 2002 para 19,15% em 2018.
O “apagão sexual”, descrito por alguns especialistas, é também ilustrado na queda da gravidez na adolescência no Brasil. Segundo levantamento publicado em 2017, realizado pelo Sistema de Informação Sobre Nascidos Vivos (Sinasc), de 2004 a 2015 houve uma queda de 17% na taxa de natalidade de mães entre 10 e 19 anos. A pesquisa associou a queda de nascimento com a diminuição da atividade sexual.
Mas, por que a geração com maior acesso a informação e relacionamentos casuais parece não está aproveitando?
Autores que estudam o tema, defendem que o excesso de pornografia e a erotização resultam em uma habituação do estímulo sexual. Ou seja: as pessoas veem tanto, que ficam um pouco insensíveis com o tema.
A sexóloga Luísa Miranda avalia que a Geração Z recebe muitos estímulos digitais, e a realidade pode ser um pouco frustrante comparada ao mundo on-line. “Viver a realidade passou a ser pouco estimulante e muito frustrante, porque viver a realidade significa entender que não temos controle sobre muitas coisas, incluindo frustrações e decepções amorosas e sexuais.”
“Diferente da realidade, a vida virtual, incluindo a pornografia, proporciona por sua vez, mais controle, o que tende a diminuir a ansiedade e inseguranças. Em frente da tela a pessoa é quem quiser e não é julgado por isso. Na realidade, as consequências sociais podem ser inúmeras quando não se é “adequado” socialmente. E com toda essa pressa de recompensa imediata, através da dopamina, se relacionar pessoalmente pode ser menos recompensador do que buscar outras recompensas, por exemplo”, acrescenta a profissional, sobre as frustrações de uma realidade diferente que o ideal que a tecnologia proporciona.
A sexóloga traz outro ponto, a conscientização sobre um sexo prazeroso e seguro para todos os envolvidos. “A educação nos leva a ter consciência e falar sobre conscientização e prazer é algo relativamente delicado, apesar de não parecer. Infelizmente prazer no sexo de uma forma consciente e presente não é tão comum como pensamos, porque envolve outras camadas que envolvem abusos, culpa, acolhimento, redescoberta, empoderamento, voz”, avalia a sexóloga.