A educação sexual masculina ainda é pouco discutida no Brasil. Enquanto a ida das adolescentes ao ginecologista já se tornou uma prática comum, a consulta urológica não é vista com a mesma naturalidade e pode resultar em falhas no desenvolvimento saudável da sexualidade masculina, tanto do ponto de vista fisiológico quanto psicológico. Para o urologista e andrologista Leonardo Sousa Ramos, da Clínica Uros, falar sobre o tema é essencial para desconstruir mitos, promover o autoconhecimento e prevenir problemas futuros de saúde e desempenho sexual.
Segundo o especialista, é na adolescência que surgem as primeiras noções sobre a anatomia masculina e sobre o que é considerado normal ou não. Ele explica que, nesse período, muitas dúvidas relacionadas ao tamanho da genitália, à distribuição de pelos e a outras características físicas podem gerar grande insegurança. “Esse ambiente de descobertas pode impactar até mesmo o comportamento do adolescente ao longo da vida adulta”, pontua Ramos.
O médico destaca que, muitas vezes, nem os pais, nem a escolas, têm preparo ou abertura para tratar do tema. “Falta sensibilidade em levar o adolescente a um profissional especializado para ter essa conversa sincera e estabelecer padrões de normalidade”, defende. Para o especialista, esse contato inicial com a saúde sexual e fisiológica é fundamental, especialmente no caso dos meninos, cuja educação nesse campo é muito menos incentivada do que a das meninas.
Entre os cuidados práticos, Ramos aponta a importância do autoexame dos testículos desde cedo. “É uma prática pouco falada, mas que deve ser iniciada na adolescência e mantida ao longo da vida. Ela ajuda a identificar se houve descida normal dos testículos, alterações de consistência e até sinais precoces de câncer”, explica. Questões como fimose, inflamações recorrentes e alterações no meato uretral também devem ser observadas nessa fase.
Além do aspecto físico, a educação sexual contribui para a prevenção de desinformações e mitos. Ramos alerta que muitas vezes jovens interpretam incorretamente condições como as glândulas de Tyson ou curvaturas penianas, tratando-as como doenças graves ou confundindo-as com infecções sexualmente transmissíveis. “Se não há orientação profissional, o risco é receber informações erradas que podem trazer prejuízos emocionais e físicos”, diz.
Outro ponto abordado pelo urologista é a relação entre hábitos de vida e performance sexual. Ele defende que uma boa saúde sexual depende diretamente de fatores como controle de peso, prática de atividade física, alimentação equilibrada e saúde mental. “Para uma boa performance sexual, precisamos cuidar do corpo e da mente. Conversar sobre ansiedades e dificuldades também faz parte desse processo”, afirma.
Ramos ainda alerta para os riscos do consumo de pornografia e de informações distorcidas encontradas na internet. Conforme o especialista, esses fatores contribuem para problemas como ejaculação precoce e disfunção erétil, principalmente entre jovens adultos. “Muitos sofrem de ansiedade de performance, medo de fracassar e crença em padrões irreais. É fundamental desconstruir esses mitos no consultório, antes mesmo do início da vida sexual”, explica.
Apesar da relevância do tema, o especialista reconhece que os homens ainda evitam procurar orientação médica sobre sexualidade. “No Brasil, o homem, de maneira geral, não tem tradição de se cuidar. Muitas vezes está mais focado no trabalho e no sustento da família do que na própria saúde”, avalia. A vergonha dos adolescentes e a falta de incentivo dos pais também contribuem para esse afastamento.
Para Ramos, a solução está em estimular o diálogo aberto e desprovido de preconceitos, com orientação profissional confiável. “Hoje a internet está recheada de informações inverídicas e exageradas. Procurar o médico especializado é a melhor forma de prevenir doenças, evitar desinformação e construir uma vida sexual segura e saudável”, conclui.

