O VINHO E O ACASO ALEATÓRIO
Para mim é uma rareza, ocorre apenas de tempos em tempos, uma aventura ao sabor da casualidade. Sair sem premeditação e sem destino, exposto ao sabor da sorte e da aventura, sem controle sobre a sucessão dos acontecimentos. Ou seja, um rolê aleatório! Esta infrequência e as surpresas no caminho os tornam ainda mais especiais.
O acaso aleatório acontece quando não há lógica ou previsibilidade nos eventos, com os resultados de uma determinada ação escapando ao nosso controle. São a prova constante que nem tudo segue alguma determinada ordem, por maior que tenha sido o planejamento, a imprevisibilidade e o inesperado estarão sempre a um passo de acontecer.
A origem do vinho parece ter sido um maravilhoso acaso aleatório, uvas colhidas e esquecidas, fermentaram espontaneamente devido à ação das leveduras naturais presentes em suas cascas, transformando seus açúcares em álcool, resultando em uma bebida que dava um efeito legal em quem provava. Este acaso aleatório veio a se tornar um processo de elaboração.
A produção de vinho é profundamente influenciada pelo acaso, com destaque para dois aspectos. Primeiro os relacionados à natureza, o terroir, que é composto pelo solo, altitude, proximidade do mar ou de montanhas, as condições climáticas com as variações de temperaturas e ciclos das chuvas que acabam por produzir safras únicas que não se repetem.
Outro aspecto é relacionado à filosofia de alguns produtores de não utilizarem, no processo de fermentação, leveduras cultivadas que oferecem resultados definidos. Fazem uma opção pelas leveduras selvagens, as naturais do ambiente, com resultados mais inesperados.
Ainda podemos acrescentar os fatores sobre o julgamento humano, sujeito a erros e imprevistos, com relação ao momento exato da colheita, etapas da vinificação, cortes de uvas e o tempo de envelhecimento.
Garrafas de vinho do mesmo lote podem evoluir ao longo do tempo de forma distinta, devido a pequenas variações no processo de engarrafamento, na vedação e na microoxigenação. Também influenciam as condições de transporte e de guarda fora da temperatura e umidade ideal, com as garrafas sofrendo trepidações, fatores que podem levar a alterações no sabor, aroma e estrutura do vinho. Portanto cada garrafa tem a sua própria história, que é única.
A qualidade do conteúdo de uma garrafa de vinho é um equilíbrio entre o controle humano e a intervenção do acaso. Essa interação entre o planejado e o imprevisível é o que torna o vinho uma expressão artística da natureza e da habilidade humana.
O acaso também está presente na experiência da degustação quando provamos rótulos desconhecidos ou uvas que ainda não conhecíamos. Fazer uma descoberta que redefine seu padrão de gosto. Saiba que para isso é necessário que o acaso se encontre com o seu conhecimento. Saber identificar esta oportunidade tem nome, serendipidade, a combinação de acaso e sagacidade.
Muitos encontros, para uma simples taça de vinho, acabam se tornando um rolê aleatório, em que o acaso assume o comando, alguns rolês são tão memoráveis que se tornam uma lenda, sempre recordada dentro do grupo de amigos.
Vamos filosofar. Comprar uma garrafa de vinho, ou pedir uma taça no bar, é uma metáfora para a aceitação do imprevisível. O vinho nos recorda que na vida não há uma repetição perfeita, portanto vamos valorizar este momento, já que aquela combinação de ambiente, companhias, tempo e sabores nunca poderá se reproduzir.
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