Conversando sobre Vinho

O QUANTO DE ÁGUA TEM NO VINHO? QUAL É A SUA PEGADA HÍDRICA?

O sommelier e meu leitor Rudinei enviou uma sugestão, comentar sobre o consumo de água em todo o processo de vitivinicultura, ou seja, a “pegada hídrica” necessária para a produção de uma garrafa de vinho, desde o cultivo das uvas.

Antes de entrar no tema, é interessante lembrarmos que, dentro de uma garrafa de vinho, a maior parte do líquido é água. Descontados os álcoois (etanol, glicerol e outros), os ácidos orgânicos, os polifenóis (como antocianinas e taninos), os minerais, os compostos voláteis e outros elementos, teremos, normalmente,  pouco mais de 80% de água.

Mas a pergunta principal é sobre a “pegada hídrica” na produção do vinho. E o que é isso? A “pegada hídrica” é um indicador ambiental que “mede o volume de água utilizado ao longo de toda a cadeia de produção de um bem de consumo ou serviço”.

O conceito de “pegada hídrica” foi criado em 2002 por Arjen Hoekstra, enquanto ele trabalhava no Instituto UNESCO-IHE para a Educação em Recursos Hídricos. O objetivo era “criar consciência sobre o enorme volume de água exigido pelos nossos processos de produção e hábitos de vida, promovendo um uso racional e sustentável”. Além de minimizar os impactos ambientais.

Componentes da Pegada Hídrica

1. Água Verde: Proveniente de chuvas, utilizada pelo cultivo.
2. Água Azul: Obtida de fontes superficiais ou subterrâneas, usada na irrigação e produção industrial.
3. Água Cinza: Necessária para diluir poluentes e manter a qualidade da água.

A Pegada Hídrica do Vinho

Para a produção de vinho, temos as seguintes médias globais:

• Uvas: 610 litros de água por kg;
• Vinho: 870 litros de água por litro, ou 660 litros por garrafa de 750 ml;
• Taça de vinho (125 ml): 110 litros de água, em média.

A garrafa de vidro requer apenas 0,5 litro de água para sua produção. Já o papelão das caixas usadas no transporte do vinho é mais exigente, consumindo cerca de 540 litros por kg.

Nem vamos calcular a quantidade de água que o sobreiro, árvore que produz a cortiça das rolhas, necessitou nos 30 anos que levou para chegar ao momento da colheita. Imagine, então, os milhares de litros que, ao longo de 120 anos, o carvalho francês precisou até o ponto de poder virar uma barrica.

Para efeito de comparação vamos ver a “pegada hídrica”, na produção por litro, de outras bebidas:

• Cerveja: 300 litros;
• Leite: 1.020 litros;
• Cachaça: 110 litros;
• Refrigerantes: 300 litros;
• Água Mineral: 3 litros;
• Chopp: 190 litros;
• Chá: 140 litros.

Antes de acharem que o vinho consome muita água, vale saber que, para produzir cada quilo de carne bovina, são necessários 15.400 litros de água. Sim, é por quilo, não é por boi!

Hoje observamos que há um crescente consumo consciente, com a procura por produtos sustentáveis. E felizmente sabemos que várias práticas vem sendo adotadas para a redução da “pegada hídrica” do vinho, como a irrigação por gotejamento, o tratamento de efluentes para reutilização da água além de práticas agrícolas que conservam a umidade do solo.

Nesta história da “pegada hídrica” do vinho nem vou somar a água que sempre sugiro para ser consumida junto com cada taça.