A sangria de Petrus e a teoria do consumo ostentatório.
Ladies and gentlemen, i present you the most expensive sangria in the … | TikTok
A notícia está em todas as mídias, com direito a imagens, em um show beneficente realizado no restaurante La Guérite, na ilha de Sainte-Marguerite, na França, um determinado cidadão, junto com sua turma, elaborou em sua mesa um coquetel sangria de cerca de €120 mil utilizando algumas garrafas do vinho Petrus.
Argumentou que o problema era que a mesa premium, que havia reservado, tinha uma consumação mínima de € 100 mil e que apenas com champanhe estava difícil de chegar ao valor. Assim encontrou uma solução, pedir o vinho mais caro da carta.
Agora que o vídeo vazou declarou que não está entendendo tanto barulho, afinal, “É SÓ VINHO!”
O Petrus, não é um vinho qualquer, é um ícone do Pomerol, sub-região de Bordeaux, França. São produzidas em média, apenas 32 mil garrafas, por ano. É quase sempre 100% de Merlot, representa o sonho que todo Merlot gostaria de atingir.
Resolvi encomendar ao Instituto Data Eu Mesmo uma pesquisa de opinião sobre o tema.
O Sommelier Demósthenes lembra que a prática de misturar frutas ou ervas ao vinho era para mascarar seu sabor, que ficava muito ruim devido à falta de conservantes. Neste caso da sangria a lógica se inverteu e foram as frutas e sucos que encobriram a qualidade do Petrus.
Como podemos assistir apenas a um recorte do filme da farra, o Sommelier Ricardo Kowalsky levanta uma lebre. Será que estas garrafas, que vemos já abertas, continham mesmo o líquido original? O pior é que eu acredito que sim, continham mesmo o vinho correspondente ao rótulo.
A enófila Talita toca em um ponto chave “é muita ostentação e desperdício”, o mesmo que o Demósthenes considerou como uma “ostentação para “causar” nas redes sociais. Mas é o dinheiro deles e eles gastam como bem entenderem.”
Lendo duas vezes a palavra “ostentação” minha cabeça, cheia de informações aleatórias, voou para a teoria dos bens de Veblen ou a Teoria dos bens de consumo ostentatório.
Em 1899, foi publicada A Teoria da Classe Ociosa, de Thorstein Veblen, vinda daí a tal Teoria dos bens de Veblen.
Agora vou me meter a tentar explicar algo que não entendo. O bem Veblen seria um produto de alta qualidade, com grande sensação de exclusividade, e que, contraditoriamente, vende mais conforme mais altos ficam seus preços. Não procurem uma explicação lógica, mas se os preços baixarem a procura destes produtos pelos consumidores ostentatórios também cairá.
Os novos ricos precisam exibir publicamente seu poder e o novo status social, não importa se real ou aparente, tanto que priorizam o carro de luxo ao imóvel residencial.
Para esta turma o preço elevado torna os bens mais desejáveis, relógios mega-tops viram símbolo do status social elevado do comprador.
Acredito mesmo que cheguem a acreditar que quanto mais caro o produto melhor será sua qualidade, em uma curva de crescimento sem fim.
E além do consumo ostentatório tem o lazer ostentatório, como uma mesa em um show que tem a consumação mínima de € 100 mil. No vídeo podemos observar que o dinheiro não trouxe finesse aos participantes, nos botecos que frequento os consumidores se comportam com muito mais classe.
Será que tinha algum vegano naquele grupo? Afinal o Petrus é clarificado com clara de ovo.
Mas não posso encerrar sem deixar a minha opinião. Lamento o desperdício de um grande vinho, mas precisamos dos idiotas para a economia poder girar. Quanto maior for o desperdício do dinheiro e mais fora de propósito, mais empregos serão criados e mais baratos ficarão os produtos que podemos consumir.
Portanto, levanto daqui um brinde, com um vinho muito bom e bem mais baratinho, para que estes nouveaux arrivés continuem em sua busca frenética por sinais exteriores de riqueza cada vez mais elevados.
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