Postos de gasolina aumentam a margem de lucro

Publicado em Deixe um comentárioConsumidor

Planilha elaborada pelo Procon indica que os donos dos postos de combustíveis aproveitaram a alteração na tributação do Pis/Cofins para elevar os ganhos com a gasolina

Crédito: Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press. Brasil
Crédito: Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press. Brasil

Por Flávia Maia e Ana Viriato

A escalada de preços nos combustíveis do Distrito Federal revolta os consumidores, ainda ressabiados após anos de prática de cartel. Pesquisa do Procon do Distrito Federal obtida pelo Correio mostra que, dos 43 postos analisados pelo órgão, 32 subiram as margens de lucro após alteração na tributação federal e majoração no Pis/Cofins. Em alguns casos, o ganho subiu quase 15 vezes. Com os dados em mãos, o Procon e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) investigarão até que ponto o repasse está relacionado com os impostos ou se houve oportunismo. Querem entender, também, por que antes do aumento nos tributos era possível encontrar diferença de até R$ 0,63 por litro da gasolina e, agora, a variação máxima é de R$ 0,15.

A planilha mostra acréscimos significativos nas margens de lucro de postos em todo o DF. Em um estabelecimento da Asa Sul, subiu o percentual, de 1,89% para 15,31%. Em outro, em Taguatinga, de 0,01%, saltou para 14,74% .

“A princípio, nós observamos que teve alta nos preços dos combustíveis e aumento considerável na margem de lucro”, analisa Ivone Machado, diretora-geral do Procon no DF. “Entretanto, como na Constituição Federal há a livre iniciativa de mercado, a gente não pode simplesmente lacrar e multar os postos. Temos de manter o pé no chão; por isso, pedimos o auxílio do Ministério Público”, pondera.

Os postos pesquisados só serão notificados após a manifestação do MPDFT.

A planilha está aos cuidados da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor. Responsável por receber a demanda do Procon, o promotor Trajano de Melo explica que ainda precisa analisar as tabelas e os relatórios enviados pela autarquia. “Pelo que pude observar de imediato, a maioria das margens está abaixo de 15% — porcentagem firmada entre o Ministério Público e a rede Cascol — e que os preços estão mais diversos do que no passado, quando as diferenças eram de milésimos de centavos”, adianta. “É possível que a promotoria apenas tome ciência e não tenha o que fazer”, admite.

Integrante do Conselho Regional de Economia, José Luiz Pagnussat faz uma análise mais crítica da planilha. Para ele, “os preços aumentaram acima da média razoável”. O especialista destaca a importância do acompanhamento de órgãos de controle em relação às variações das margens de lucro de empresários do setor para que seja possível classificar se os altos valores são uma reação usual do mercado à majoração dos tributos ou se houve a prática de preços abusivos.“Caso trate-se apenas de um susto, a tendência é que, com o tempo, a concorrência volte a ser vista nas bombas de gasolina, com promoções e, consequentemente, preços mais baixos”, avalia.

José Luiz também estranha o fato de 43 postos de gasolina apresentarem poucas variações de preços. “A prática de cartel requer que uma organização criminosa esteja por trás da semelhança de valores. Então, não é possível bater um martelo sobre o tema. Mas o fato é que existe uma similaridade muito grande. É preciso que o Cade esteja de olhos abertos para que algum empresário não assuma a liderança e comece a ditar os preços”, alerta.

A alta dos preços dos combustíveis gera uma reação em cadeia; por isso, especialistas são unânimes em afirmar que é preciso frear qualquer prática de alinhamento. Se os preços sobem na bomba, o valor do imposto distrital também sobe. Isso porque o tributo local é cobrado por um regime chamado de substituição tributária. A Secretaria de Fazenda faz uma pesquisa a cada 15 dias dos preços dos combustíveis e cobra 28% sobre o praticado no mercado. Assim, se o governo distrital usa R$ 3,99 como parâmetro, R$ 1,11 será cobrado de contribuição.

No bolso

Enquanto isso, o brasiliense segue pagando a conta. O corretor de imóveis Agnaldo Machado, 51 anos, desembolsava R$ 210 por semana com combustível, nos tempos em que a gasolina era encontrada a R$ 3 devido às promoções relâmpago de postos. Na semana seguinte à majoração do PIS/Cofins, porém, a bomba passou a marcar R$ 259 a cada vez em que o morador de Águas Claras enchia o tanque.

Crédito: Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press
Crédito: Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press

“É fato que usaram o imposto para aumentar o lucro. Mas o maior problema é a ausência de concorrência. Hoje, escolho o posto pela confiabilidade, porque, se fosse pelo valor do combustível, poderia ser qualquer um. O mercado deixou de ditar os valores. Quem o faz é um conjunto de empresários”, acredita.

O bancário Dario Garcia, 44, também reclama. “Se fosse mercado, veríamos preços diferentes devido à livre concorrência. Quando há igualdade, fica claro o movimento de empresários para aumentar a margem de lucro e controlar o setor em desfavor da população”, argumenta.

Procurado pelo Correio, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do DF não se posicionou, até o fechamento desta edição, sobre a elevação da margem de lucro dos proprietários de postos de gasolina.

 

Baixa de preços de combustíveis na refinaria ainda não chegou nas bombas

Publicado em Deixe um comentárioConsumidor

Por Equipe do Correio

Apesar de a Petrobras ter anunciado corte de 3,2% no valor da gasolina nas refinarias, poucos postos de combustíveis diminuíram os preços no Distrito Federal. O custo mínimo encontrado no Plano Piloto se mantém em R$ 3,23, como na semana passada. Entre os revendedores que já cobravam menos que R$ 3,30, apenas três tiveram reduções, que variam de R$ 0,02 a R$ 0,04 a menos por litro. Muitos proprietários de postos alegam que ainda estão com os estoques altos e comprados antes da redução no valor nas refinarias.

Dos 22 postos visitados pelo Correio na tarde de ontem (17/10), sete tiveram redução. A maior queda foi de R$ 0,28 em um estabelecimento da Asa Sul, mas o custo cobrado anteriormente era superior a R$ 3,54. Os gerentes dos postos não souberam dizer se o recuo foi influenciado pela redução nas refinarias da Petrobras, mas garantem que a queda na distribuição será repassada aos consumidores.

Os novos valores nas refinarias estão em vigor desde sábado (15/10). As distribuidoras compram o combustível nos pontos de vendas da estatal e o repassam pelo preço desejado. “A Petrobras baixa lá na refinaria, mas os distribuidores finais podem reduzir ou não os valores. Isso depende das circunstâncias das operações, dos custos e da demanda”, explicou o consultor econômico Carlos Eduardo de Freitas.

A BR Distribuidora, vinculada à Petrobras, disse que não comenta a precificação final dos combustíveis, que é feita, informou, “a partir de variáveis como estrutura de custos fixos e variáveis, carga tributária, política comercial, concorrência etc”.

Leia aqui como é feita a composição do preço da gasolina

O brigadista Werley José Machado, 29 anos, diz que o preço justo da gasolina deveria ficar abaixo de R$ 3. “É um absurdo o produto custar R$ 0,94 na Venezuela e bem mais no Brasil, onde há maior consumo”, considerou. Ele e a família ficaram 35 minutos na fila de um posto que vendia gasolina a R$ 3,23 na Asa Norte. “O dinheiro que sobra eu coloco no cofrinho do meu filho, Matheus. Já consegui economizar R$ 400”, destacou.

Questionada se iria baixar os preços, a Rede Jarjour informou que o cenário em cada região é diferente, o que não garante uma redução igual na bomba em todo o país. “Em Brasília, estamos trabalhando com uma margem extremamente reduzida”, informou a empresa. O Correio não conseguiu contato com Rede Cascol, que está sob intervenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. A Rede Gasolline não respondeu às perguntas.

A assistente social Maria Aparecida Gomes, 51 anos, sempre pesquisa preços antes de abastecer. Desde o início do ano, ela conseguiu economizar entre R$ 100 e R$ 150 com a queda nos valores, e espera por novas reduções. “Vamos ver se os postos vão reduzir o preço. Espero que sim”, disse.
Confira os valores do combustível no DF

Posto de combustível 14/10 17/10
Petrobras Quadra 300 Sudoeste 3,59 3,59
Petrobras Quadra 305 Sudoeste 3,59 3,59
Petrobras Quadra 1401 Cruzeiro Novo 3,27 3,23
Shell Eixo W Quadra 16 Sul 3,54 3,28
Petrobras Eixo W Quadra 14 Sul 3,35 3,34
Jarjour Eixo L Quadra 11 Sul 3,25 3,25
Petrobras Eixo W Quadra 9 Sul 3,39 3,39
Auto Lu’s Eixo W Quadra 7 Sul 3,44 3,38
Petrobras Eixo W Quadra 5 Sul 3,39 3,39
Petrobras Eixo W Quadra 3 Sul 3,44 3,44
Petrobras Eixo L Quadra 14 Norte 3,29 3,29
Ipiranga Eixo W Quadra 11 Norte 3,39 3,35
Shell Eixo L Quadra 11 Norte 3,39 3,39
Ipiranga Eixo L Quadra 10 Norte 3,25 3,23
Petrobras Eixo L Quadra 9 Norte 3,25 3,25
Jarjour Eixo L Quadra 7 Norte 3,25 3,25
Ipiranga Eixo L Quadra 5 Norte 3,66 3,66
Petrobras Eixo L Quadra 3 Norte 3,61 3,61
Ale SHCS 05 (Próximo à Torre de TV) 3,25 3,25
Petrobras QE 23 Guará II 3,38 3,38
Petrobras QE 36 Guará II 3,38 3,38
Shell Eixo W Quadra 9 Norte 3,25 3,23