Barragem chega ao nível mais baixo já registrado e DF está a um passo do racionamento

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Caesb ainda não tem prazo para execução do plano, mas diz que está pronto

A Barragem do Descoberto começa o ano com menos da metade da água registrada no mesmo período do ano passado. A marcação mais recente indica 19,3% da capacidade, o menor índice já registrado – a mesma marca só ocorreu no último dia 19 de novembro. Em 2016, em janeiro, o reservatório acumulava 45,77% de água. Desde o último dia 27 de dezembro, o volume vem caindo e já está abaixo dos 20% – índice de restrição que permite o racionamento. Neste cenário de escassez, a chuva não está ajudando: em 10 dias choveu apenas 8% do esperado para todo o mês de janeiro. Enquanto a situação se agrava, a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) já gastou mais de R$ 28 milhões em investimentos que foram acelerados para conter a mais dramática falta de água que o DF já viveu. Mesmo com os custos a mais, a empresa ainda é evasiva sobre quando deve colocar em prática o plano de racionamento que está pronto.

Segundo Maurício Luduvice, presidente da companhia, o plano está feito e a população será comunicada três dias antes do início da execução. Entretanto, ainda não há uma data específica para começar o processo. O presidente diz que a empresa não está resistente nem omissa em relação à crise hídrica. “Estamos seguros em relação ao momento de colocar em prática o plano de racionamento. É uma decisão técnica, que está levando em conta aspectos operacionais”, explica.

A direção da Caesb alega que a operação de racionamento é cara e, se não for bem feita, pode comprometer todo o sistema. Além disso, demanda grande volume de mão de obra. “O fechamento e a abertura de um sistema que abastece uma região exige todo um cuidado operacional. A tubulação fica vazia e, se a volta da pressão da carga (água) não for bem feita, pode comprometer toda a rede de distribuição”, explica Luduvice. O plano de racionamento prevê rodízio de abastecimento água entre as regiões e o uso de caminhões-pipa para manter prédios públicos, como escolas e delegacias.

Na opinião de Jorge Werneck, presidente do Comitê da Bacia do Paranoá e pesquisador da Embrapa Cerrados, o plano de racionamento não é uma decisão fácil. Para ele, são “várias coisas envolvidas”. Entretanto, ele é enfático em pedir uma solução urgente para o problema. “Considerando a situação, alternativas como racionamento e a tarifa se mostram necessárias. O risco de chegarmos em agosto e setembro sem água é uma realidade e um cenário que temos que evitar”.

Enquanto o plano de racionamento não vem, a Caesb aposta na redução do consumo. Segundo dados da empresa, a retirada de água do Descoberto pela empresa caiu 13,7% desde o início das ações de economia, como tarifa extra para consumo acima de 10 mil litros por mês e diminuição da pressão de água em 15 regiões administrativas. A empresa também tem feito obras para diminuir as perdas e desperdícios do sistema e aumentar os pontos de captação de água, de modo a depender menos do Descoberto – que atualmente abastece 65% da população da capital federal. O córrego do Crispim, no Gama, e um novo poço artesiano em São Sebastião são exemplos. A captação no Bananal deve ficar pronta apenas no fim do ano. E a obra de Corumbá IV vai atrasar novamente. Embora a obra esteja em execução, o prazo de entrega foi dilatado, assim como os gastos. Em fevereiro de 2015, o prazo de entrega da estrutura seria 2017. Entretanto, de lá para cá, os recursos aumentaram em R$ 13 milhões e a inauguração da obra foi jogada para julho de 2018.

Conscientização

Enquanto a chuva é insuficiente e os níveis de água caem de maneira alarmante, a a contribuição da população é essencial. Zelador de um prédio no Sudoeste Econômico há 11 anos, Lindomar Rocha dos Santos, 43, lavava o piso do prédio de duas a três vezes por semana. Agora, com a falta de água, só usa a água uma vez. E a redução não foi só na limpeza. “Aqui no condomínio, lavávamos carros, o que não fazemos mais. Eu tenho uma mangueira toda furada que utilizava para regar as plantas, agora, por causa do racionamento, não uso. Se a gente brincar um pouquinho, ficaremos sem água”, conta.

Crédito: Helio Montferre/Esp.CB/D.A. Press.
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Orlando Silva, 40 anos, é lavador de carro há mais de cinco anos e conta que possui um tanque de mil litros e consegue trabalhar com ele durante uma semana. Antes, o lava a jato usava o dobro. “Economizo pegando menos água. Às vezes chega uns carros muito sujos e para facilitar, usamos produtos para amolecer a sujeira”, explica.

Pouca chuva

O esperado de chuva para o mês de janeiro, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia é de 247 mm. No entanto, até o dia 10 só choveu 20 mm. “Até o dia 15, esperamos pelo menos 30 mm. Apesar disso, a primeira quinzena do mês não alcançará nem metade da média informada. Em relação a 2015 e 2016, as chuvas estão bem menos intensas”, explica o meteorologista Luiz Cavalcanti.

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Colaborou: Carolina Cardoso, estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Volume morto do Descoberto garante apenas 30 dias de abastecimento; custo de captação não compensa

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Se a crise hídrica se agravar, o Distrito Federal não pode contar com o volume morto dos reservatórios como ocorreu em São Paulo. Segundo informações da Agência Reguladora de Águas (Adasa), a reserva existente na Barragem do Descoberto não seria suficiente para abastecer a capital do país nem por 30 dias, o que não justificaria os custos da obra para captação. Para retirar o volume morto é preciso a instalação de bombas coletoras porque não é possível fazer a retirada por gravidade. Em Cantareira, o sistema custou R$ 120 milhões e a obra demorou dois meses. No DF, não há previsão de custos. Também não há hipótese de utilizar a reserva do Santa Maria porque o reservatório está localizado em área de proteção ambiental.

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A estiagem prolongada e a redução do consumo em velocidade mais lenta do que o esperado preocupa os órgãos ambientais porque os reservatórios não conseguem se estabilizar e encher. Dessa forma, o uso do volume morto poderia ser uma alternativa no abastecimento, caso a tarifa de contingenciamento e o plano de racionamento não fossem suficientes para suprir a demanda de água. Entretanto, essa hipótese ainda não está entre as frentes de ação da Adasa e da Companhia de Saneamento do DF (Caesb).

“Em São Paulo, o volume morto era grande. No Descoberto é pequeno, não daria nem para 30 dias. O custo-benefício não compensa”, analisa Camila Campos, coordenadora de informações hidrológicas da Adasa. A Caesb informou, via nota, que “não tem o menor interesse de falar desse assunto no momento. Estamos preparando o plano de racionamento, que, esperamos, não haja necessidade de ser implantado”.

O volume morto do Descoberto é de 16% em relação ao total do reservatório – o que corresponde a 13,7 bilhões de litros. Em Cantareira é 23%, o que equivale a mais de 330 bilhões de litros. O volume morto é o local onde o ponto de captação de água não chega. A engenharia da obra de captação do Descoberto foi feita de uma maneira que a tomada fosse feita com profundidade, o que deixou pouco espaço para o volume morto.

A discussão sobre a possibilidade de uso dessa reserva surgiu por conta do baixo nível dos reservatórios do DF. O Descoberto atingiu 21,99% da capacidade e o Santa Maria, 41,77%. Dos dois pontos de tomadas de água existentes no Descoberto apenas uma está funcionando porque o outro está na zona seca. O plano de racionamento passa a vigorar quando um dos reservatórios atingir 20%. Entre as ações previstas estão o rodízio de água por região – os endereços ficariam 72 horas com água e 24 sem – e o abastecimento de escolas e delegacias por caminhão pipa.

Volume morto

A coordenadora de informações hidrológicas da Adasa, Camila Campos, explica que alto valor do uso do volume morto se dá porque é preciso investir em infraestrutura. Além das bombas de captação, a estação de tratamento de água não está preparada para a qualidade mais baixa da água da reserva. “Essa água é de qualidade inferior. Tem muitos sedimentos pela proximidade com o fundo. E o nosso sistema está adequado para tratar uma água mais limpa”, explica. Entretanto, Camila acredita que não será necessário usar o recurso. “Com as chuvas e o racionamento, os estudos da Adasa apontam que, em novembro, o Descoberto pare de esvaziar e retome a subida de nível”.
Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o volume morto começou a ser utilizado quando o Sistema Cantareira atingiu cerca de 8% da capacidade, em maio de 2014. Em dezembro de 2015, as reservas foram recuperadas e, desde então, o estado usa apenas o volume útil.

Para saber mais

Os reservatórios do Distrito Federal estão registrando os menores índices de volume da história em 2016. Por isso, a Caesb tenta diversificar os locais de captação. As apostas são a retirada de água no Lago Paranoá, Corumbá IV e Bananal. Essas obras podem aumentar em 57,8% a produção de água potável. Hoje a capacidade máxima diária é de 9,5 mil litros por segundo. Os três sistemas quando implantados em sua totalidade podem acrescentar mais 5,5 mil litros à vazão por dia. Esse incremento deve garantir a segurança hídrica até 2050, prevê a Caesb.

Aviso sobre cobrança de taxa extra começa a chegar na casa dos consumidores

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A redução insuficiente no consumo per capita, a estiagem prolongada e a falta de investimentos no setor estão levando o Distrito Federal à situação de restrição de uso da água, que pode resultar em um racionamento nunca vivido na história do DF. A partir desta terça-feira (25/10) os consumidores vão receber nas faturas de água um aviso sobre a cobrança da taxa extra chamada de tarifa de contingência. Mas o pagamento em si virá na fatura posterior àquela do comunicado. A ideia da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) é primeiro deixar o consumidor ciente para, só então, iniciar a cobrança, que deve chegar nos boletos de novembro e dezembro. O DF é a terceira unidade da federação brasileira a apelar para a taxa de contingência devido à crise hídrica. São Paulo usou o recurso entre janeiro de 2015 e abril de 2016 e o Ceará faz a cobrança desde dezembro de 2015.

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A preocupação do governo é evitar que o DF precise entrar em estado de racionamento, como ocorreu com o estado de São Paulo no ano passado. Entretanto, a possibilidade está cada vez mais próxima. Tanto que o plano de contingenciamento de água feito em conjunto entre a Agência Reguladora de Águas (Adasa) e a Caesb está pronto em fase de ajustes e passa a valer quando o reservatório do Descoberto ou de Santa Maria chegar ao índice de 20%. De acordo com Luduvice, é preciso evitar a necessidade de uso do volume morto, como ocorreu em São Paulo porque o formato do Descoberto faz com que essa reserva seja pequena, o que deixa a captação mais cara e com menos possibilidade de uso.

O plano de contingenciamento deve deixar cidades inteiras sem água por períodos específicos. Por exemplo, uma região fica com água 72 horas e 24 horas sem. Diferente da taxa de contingência que vale para todo o DF, o racionamento valerá somente para os clientes que recebem água do sistema Descoberto e Santa Maria – 85% do público.

Por uma liminar concedida pela Justiça do Distrito Federal graças a uma ação movida pelo Ministério Público do DF, o acréscimo para os consumidores residenciais que usarem mais de 10 mil litros por mês será de 20%, ou seja, metade do previsto na resolução publicada pela Adasa, onde o adicional seria de 40%. “Vamos praticar os índices da liminar na Justiça. Caso isso se reverta, a gente faz a adaptação”, garantiu Maurício Luduvice, presidente da Caesb. Assim, clientes residenciais, comerciais e industriais terão a mesma alíquota caso ultrapassem o limite previsto. Vale lembrar que, como a fatura de água é composta metade pelo uso de água potável e metade pelo saneamento, o impacto na conta final será de 10%.

A taxa extra passou a ser cobrada porque no fim da manhã de ontem a Barragem do Descoberto, responsável por 65% do abastecimento, chegou a 24,87%. Pela resolução da Adasa, o acréscimo valeria a partir do momento que a represa chegasse a 25%. O aumento abrange todas as residências do DF que consumirem mais de 10 mil litros por mês e ela só acaba quando outra resolução da Adasa for publicada cessando a cobrança. O que significa que, mesmo que o reservatório ultrapasse os 25%, a quantia a mais continua a ser paga até que os reservatórios alcancem “patamares que garantam a segurança hídrica”, alertou a Caesb. Segundo a empresa, a taxa extra deve chegar em 55% dos consumidores, o que dá 293 mil unidades.

A expectativa da Adasa e da Caesb é que a tarifa extra force uma queda de 15% no consumo, ou seja, R$ 2,4 bilhões de litros dos 16 bilhões consumidos mensalmente. A tarifa deve render de R$ 8 a R$ 9 milhões a mais e o dinheiro será depositado em uma conta do banco de Brasília (BRB) e só pode ser usado para diminuir os impactos da crise hídrica.

Consumo

Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press
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Mesmo com toda a crise, ainda há quem desperdice água. No Cruzeiro, a reportagem encontrou um motorista lavando o veículo de trabalho com mangueira. Sem se identificar, o motorista declarou não saber da situação hídrica da capital. “Não sabia de crise, mas tem coisas que não dão para cortar. Eu preciso do meu automóvel limpo para trabalhar”, afirmou.

O aposentado José Felipe da Costa, 74, mora com a esposa em uma residência no Cruzeiro Velho. A última conta de água apontou o uso de 13 mil litros de água, no valor de R$ 89,80. Por ultrapassar o limite de 10 mil litros de água por lote, a família pagará a quantia extra, no valor de 20%, o que faria o valor aumentar para R$ 98,78. “Sou contra essa cobrança porque ela é abusiva um modo do governo conseguir mais dinheiro”, declara. Para economizar, a família passou a utilizar a água da chuva para lavar a área e o carro.

O professor de manejo de bacias hidrográficas da Universidade de Brasília (UnB), Henrique Leite Chaves, avalia que a solução é tardia e deveria ter sido tomada em junho, quando os reservatórios estavam com 60% e a chuva apresentava inconstância. “Talvez essas medidas não surtam efeito necessário agora. Daqui para dezembro os reservatórios poderão estar com menos de 20% e para chegar no 0 é muito rápido”.

Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press
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Colaboraram: Pedro Grigori e Alessandra Modzeleski, especial para o Correio

Tarifa de contingência de água deve valer em 10 dias: entenda como vai funcionar a cobrança

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A tarifa de contingência deve começar a compor a fatura de água do consumidor do Distrito Federal nos próximos 10 dias, prazo que a Barragem do Descoberto deve chegar a 25% do volume útil, porcentagem prevista pelo decreto local que instituiu a taxa. Segundo cálculos da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), 60% dos imóveis residenciais pagarão pelo acréscimo, pois consomem mais de 10 mil litros de água por mês. Uma vez instituída, a cobrança vale até a edição de outra resolução da Agência Reguladora de Águas (Adasa) cessando a tarifa.

O que significa que mesmo que o reservatório suba e saia dos 25%, a taxa continua valendo até a agência julgar necessário. “O término da cobrança ainda não está totalmente definido. Não dá para estipular um percentual porque uma chuva pode elevar o reservatório por um dia e, no seguinte, o volume continuar caindo”, explica Cássio Leandro Cossenzo, coordenador de estudos econômicos da Adasa. “Por isso, só deve acabar quando a Adasa julgar que não há escassez hídrica, a partir de novos estudos e parâmetros”, complementa.

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Os 40% a mais no valor pago na conta de água valerá para todo o Distrito Federal, independentemente da unidade ser abastecida ou não pela Barragem do Descoberto, uma vez que o sistema é interligado. Atualmente o Descoberto é responsável por quase 70% da água que chega às torneiras das residências brasilienses. Ontem, a represa estava com 28,88% do volume e o ritmo de queda continua de 0,4% por dia. De acordo com o Instituto de Meteorologia (Inmet) não há previsão de chuva suficiente para encher o reservatório até o fim de outubro. As precipitações estão previstas para novembro.

Atualmente o DF consome 16 bilhões de litros mensais de água. A previsão da Adasa é que a tarifa de contingência gere uma economia mensal de 15%, ou seja, 2,4 bilhões de litros. Porcentagem de economia que não foi atingida pela população do DF desde o início da crise hídrica de 2016. “A gente espera que as pessoas economizem água, que os condomínios suspendam a lavagem de calçadas e outros desperdícios”, analisa Maurício Luduvice, presidente da Caesb.

Segundo Luduvice, o esforço deve se concentrar para evitar o racionamento, que será instituído quando o reservatório registrar 20% de volume. Ele explica que o plano de contingência está quase fechado. “Estamos trabalhando com a hipótese do Descoberto chegar a 20% e o nosso plano  está em fase final”, adianta. Entretanto Ludovice vê a possibilidade como um grande problema. “O racionamento é complexo e não é barato. Vamos ter que fechar redes para abastecer uma região um dia e no outro não. O sistema não foi projetado para isso. Fora que temos que manter água para espaços públicos como delegacias e escolas, ou seja, todo um aparato de caminhões-pipa”, alerta.

Apesar dos índices registrados, o governo se mantém otimista. Segundo o secretário de Meio Ambiente, André Lima, o volume dos reservatórios têm baixado mas a uma velocidade constante. “Percebemos uma curva menor. Se a chuva em alguns pontos mantiver e começar a chover realmente pode ser que nem chegue nos 25%”, afirma.

A aposentada Silvia Mourão, 66 anos, é a favor do aumento. Ela divide uma casa no Cruzeiro com o marido, e pagou apenas R$ 68 na última conta de água. “Eu poupo muito, até os jardins da minha casa são aguados com água reaproveitada. O aumento por gasto é justo. Tem gente na minha rua que passa horas com a mangueira ligada pra regar jardim ou lavar o carro. Agora pesando no bolso, quem sabe a população se conscientize”, argumenta.

O acréscimo de valor na conta de água devido à escassez é previsto na lei federal do Saneamento Básico. Estados como São Paulo e Ceará já fizeram uso do dispositivo. O objetivo é forçar a redução do consumo. No DF, o volume do uso de água cresce a cada ano, assim como o consumo per capita.

Tira-dúvidas:

Quem vai pagar a tarifa de contingência?

Consumidores residenciais e comerciais que gastarem mais de 10 mil litros por mês.

Quando a tarifa vai ser cobrada?

A partir do momento que o reservatório do Descoberto chegar ao nível de 25% do volume.

Qual será o valor?

Contas acima de 10 mil litros terão acréscimo de 40% no valor cobrado pela água. Como a fatura é composta por água e esgoto, o impacto no preço final será de 20%.

Como vai vir na fatura?

O modelo será similar à cobrança das bandeiras tarifárias na energia elétrica. Ou seja, o consumidor vai saber quanto está pagando por consumir mais água. Porém, o valor será somado e pago no mesmo código de barras.

Quem tem isenção?

Consumidores que gastam menos de 10 mil litros de água por mês, hospitais, hemocentros, centros de diálise, pronto-socorro, asilos e presídios.

E os consumidores comerciais?

A tarifa comercial já é mais alta do que a residencial. Dessa forma, esse grupo pagará 20% a mais sobre o valor da água se consumir mais de 10 mil litros. Como a fatura é dividida com saneamento, o impacto na quantia final será de 10%.

Como a tarifa vai funcionar no caso dos condomínios sem hidrômetro?

Para composição da tarifa, a Caesb divide o consumo pela quantidade de unidades. Se o consumo por unidade for superior a 10 mil litros, o condomínio paga a tarifa.

Seca atinge plantações e alimentos chegam até 100% mais caros para os consumidores

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Por Flávia Maia e Rafael Campos

Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press.
Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press.

 

O amarelado da seca em outubro tornou-se uma coloração nova para a propriedade do agricultor Rodrigo Barzotto Werlang, 38 anos, localizada em Planaltina. Acostumado a ver pés de milho altos nessa época do ano, ele espera o aval de São Pedro para começar uma outra safra. “Se estivéssemos em um ano normal, todo esse terreno estaria verde”, garante. Rodrigo e outros milhares de agricultores do Distrito Federal são personagens da história da mais expressiva crise hídrica vivida na capital do país. Os produtores sofrem duas pressões: a falta de chuva e a redução da captação de água para as plantações no intuito de não atrapalhar o abastecimento nas residências. Nesta semana, os principais reservatórios da capital do país – Barragem do Descoberto e Santa Maria – chegaram aos volumes mais baixos da existência. Há previsão de que o Descoberto chegue a 25% e se inicie a cobrança de um valor a mais na fatura mensal de água.

Na gestão do escasso recurso hídrico, os produtores tiveram que aprender a revezar a água, a deixar campos sem plantação e a abrir mão da safrinha. Segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater), na seca de 2016 houve queda de 70% na produção de grãos e diminuição de 30% da área plantada. As produções de milho e feijão foram as mais afetadas, assim como as hortaliças sentiram o peso da falta de água. O resultado começa a refletir no preço de itens da feira, como tomate, milho, chuchu e batata que chegaram a subir até 100%.

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A situação está tão alarmante que, pela primeira vez na história do DF, um canal rural teve que ser fechado para evitar desabastecimento de água ao consumo humano. O acesso fica na região do Descoberto e a água era usada para cultivo de plantas de paisagismo. “Com a baixa do reservatório, priorizamos o abastecimento das casas e as plantações destinadas à alimentação”, explica Hudson Rocha de Oliveira, coordenador de fiscalização da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do DF (Adasa).

Outros canais agrícolas, como o Santos Dumont, no Pipiripau, em Planaltina, e o Roteador, na Bacia do Descoberto, próximo a Ceilândia e Águas Lindas (GO), tiveram as vazões reduzidas, dessa forma, os produtores estão com menos acesso à água. No Santos Dumont, a quantidade do líquido disponível para a agricultura caiu pela metade e no Roteador a queda foi de 30%. A saída encontrada pelos agricultores foi o revezamento – a propriedade fica 24 horas com acesso a água e 48 horas sem. Nas fazendas localizadas na região do Rio Preto, em Planaltina, onde há propriedades maiores e com uso de pivô, a solução foi mais radical: como a vazão do Ribeirão Extrema estava baixa, todos os grandes produtores suspenderam as plantações desde julho para não ligar os equipamentos de irrigação e abriram mão da safrinha.

Para evitar que as estiagens prejudiquem a produção de alimentos no futuro, a estratégia traçada pela Adasa consiste em combater as perdas no transporte da água. No Santos Dumont, por exemplo, nos 20 quilômetros de extensão, a perda é de 40%, esse volume de água dissipada seria suficiente para abastecer cidades com o porte como o de Planaltina e Brazlândia. Por isso, a agência tem projetos para transformar os canais que correm a céu aberto em tubulações para diminuir a perda de água no trajeto do rio à propriedade.

Enquanto os órgãos públicos pensam na melhor gestão para que os recursos sejam suficientes para todos, os produtores começam a se adaptar a escassez vivida na pele. “A falta d’água começou a ser sentida em outubro de 2015, porque choveu pouco. Até então, os reservatórios estavam normais. Mas, em abril deste ano a situação foi se agravando e começamos a ter pouca água para os sistemas de irrigação”, comenta o produtor Rodrigo Werlang, que vive no PADF, em Planaltina. “Perdi entre 30% a 40% na safra que ainda nem foi plantada, porque, como ainda não pude começar, vou plantar atrasado. Na passada, tivemos perdas que chegaram a 80% por falta de água”, garante Werlang, que está há 34 anos na região e diz que jamais viu uma situação tão crítica.

 

Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF
Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press. Brasil. Brasília – DF

 

A 70km dali, o drama se repete. Desde 1970, a chácara na Estrutural em que vive o pai do agricultor Eurípedes Ferreira da Silva, 54 anos, tem uma cisterna. “Nunca ela havia ficado sem água. Este ano, secou pela primeira vez”, relata. Desde que começou a plantar em seu próprio terreno, em 1986, tem no cuidado com as nascentes um dos seus objetivos como produtor. “Mas essa atitude é de poucos. Estão destruindo nascentes, cavando poços e ninguém preserva nada. A água da minha chácara não está contaminada pelo Lixão (da Estrutural) porque eu cuido”. Eurípedes, que produz, entre outros vegetais, mandioca e quiabo, diz que, caso a situação se repita no ano que vem, ele vai desistir da lavoura. “É triste, mas sem água não é possível”.

Segundo dados do Instituto de Meteorologia, o ano de 2016 ainda sofre as consequências das pouca chuva e das altas temperaturas do ano passado. Em 2015 chouve 19% a menos do que a média. Neste ano, nos nove primeiros meses choveu mais do que no mesmo período do ano anterior. Entretanto, não foi o suficiente para recompor a perda.

Itens mais caros na feira

O reflexo da escassez de água na agricultura começa a chegar na feira e nos supermercados. Produtos mais dependentes de água como milho, quiabo, chuchu, abóbora, batata-doce e tomate estão mais caros, segundo o índice semanal divulgado pela Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF). O impacto nos preços só não está mais expressivo por conta da crise econômica que o país vive, que levou a diminuição do consumo de alimentos e formação de estoque. “Mas se a produção estivesse normalizada, certamente, o preço dos alimentos estariam mais em conta”, analisa Adalmyr Morais Borges, coordenador de operações da Emater.

O tomate chegou a subir 100% em setembro. O quiabo, 43,37% na primeira semana de outubro, assim como o chuchu chegou a 26,46% e a batata, 22%. O milho também subiu e impacta na criação de animais, uma vez que o grão é o principal elemento da ração. Assim, leite, ovos e carne também sofrem com a queda de produção.

O economista da Ceasa-DF João Bosco Soares Filho explica o peso da crise econômica para composição dos preços. “Você tem de olhar produtos específicos porque a cesta, no geral, não tem recuperado seu valor de mercado”. A cesta que ele cita é a seleção de produtos analisada mensalmente pelo setor de estatística da Ceasa.

Marcos Franco, engenheiro agrônomo da Ceasa, explica, no caso do mercado do DF, a crise hídrica local e nacional influenciam no preço dos produtos. “Apenas 25% do que é comercializado na Ceasa é produzido no DF, o restante vem de fora”.

Presidente do Sindicato dos Produtores Orgânicos do Distrito Federal (Sindiorgânicos), Éder Diniz, lembra que mesmo com esse tipo de plantação, com manejo sustentável da água, a crise hídrica tem causado prejuízos. “Há culturas que, antes, recebiam duas regas diárias e agora só recebem uma”, conta. O especialista garante que os itens de ciclos longos, como as frutas, sentirão o impacto da falta d’água em 2017. “Por isso, temos intensificado o uso racional dos mananciais, inclusive conversando com quem não trabalha com orgânicos.”

Crise hídrica avança e consumidores estão preocupados com valor a mais na fatura de água

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Por Flávia Maia e Pedro Grigori

Os principais mananciais de abastecimento de água do Distrito Federal – a Barragem do Descoberto e a represa de Santa Maria – atingiram os menores níveis registrados desde o início da série histórica, que começou há 28 anos. No Santa Maria, o volume está em 45,64% e no Descoberto, 30,25%. A situação acendeu o alerta às autoridades e a estimativa é que a Tarifa de Contingência – que vai aumentar a fatura da água em até 40% – comece a vigorar dentro de 15 dias. A perspectiva é que os reservatórios comecem a se recompor somente a partir de dezembro, se as chuvas vierem.

Segundo cálculos da Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa), o Descoberto vem perdendo 0,4% de volume ao dia. Dessa forma, se não chover e o consumo não cair, em duas semanas, o nível do reservatório deve chegar a 25%, índice estabelecido pela resolução da Adasa para início do acréscimo no boleto mensal enviado à residência do consumidor. As normas da cobrança adicional foram publicadas na segunda-feira no Diário Oficial do DF. O adicional será cobrado para as residências que ultrapassarem o consumo mensal de 10 mil litros por mês. “Os 40% serão cobrados sobre o valor da água. Como a fatura é composta metade por água, metade por saneamento básico, o impacto no bolso do consumidor será de 20% na fatura total”, explica Cássio Leandro Cossenzo, coordenador de estudos econômicos da Adasa.

O valor adicional virá discriminado no boleto a ser pago, em modelo similiar às bandeiras tarifárias da energia elétrica. O dinheiro arrecadado pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) será destinado para uma conta contábil e a quantia só poderá ser usada para investimentos ou custos relacionados à crise hídrica. “A conta da Tarifa de Contingência será separada para melhoria no sistema como redução das perdas de água e outras fontes de captação, como estamos fazendo no Bananal. O dinheiro não pode ser usado para custeio da empresa”, afirma Maurício Luduvice, presidente da Caesb.

O acréscimo de valor na conta de água devido à escassez é previsto na lei federal do Saneamento Básico. Estados como São Paulo e Ceará já fizeram uso do dispositivo. O objetivo é forçar a redução do consumo. No DF, o volume do uso de água cresce a cada ano, assim como o consumo per capita. Em seis anos, 25 bilhões de litros passaram a ser consumidos a mais – em 2010 foram 158 bilhões de litros e a previsão da Caesb para 2016 é de 183 bilhões.

Dessa forma, o crescimento populacional e o aumento de consumo de água por pessoa reforçam o quadro crítico causado pela estiagem. Informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que, até outubro, 2016 não pode ser considerado o ano mais crítico de chuvas da década. De acordo com a meteorologista Morgana Almeida, o reflexo da escassez atual está relacionado a forte seca de 2015, em que houve queda de 19% na quantidade de chuvas. “O El Niño, que deixou as temperaturas mais altas e diminuiu as chuvas no ano passado não está influenciando em 2016. Em outubro de 2015, nos primeiros dez dias as temperaturas estavam acima de 32º, o que não está acontecendo agora”.

Consumidores preocupados

 

Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF
Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press. Brasil. Brasília – DF

 

Enquanto as chuvas não são suficientes para subir o nível dos reservatórios e o consumo de água diminui em ritmo lento, a Tarifa de Contingência preocupa os consumidores. A moradora do Cruzeiro, Candida Ribeiro, 64 anos, não sabe de onde poderá tirar dinheiro para pagar mais na conta de água. “Tento economizar o máximo que posso, mas pago por mês cerca de R$170 em uma casa de três pessoas. Não acho que a crise esteja sendo causada pelo consumo da população de classe média. Deveriam aumentar a conta de empresas que gastam muita água e das mansões que têm piscina”, opina.

No lote de Renata Coelho, 35, vivem três famílias, que juntas totalizam oito pessoas. Por dividirem o mesmo relógio, as contas de água chegam ao valor médio de R$ 300, número que subirá para R$360 com o aumento. “Existem modos mais eficazes de diminuir o consumo, não dá pra colocar um limite nos gastos, pois existem famílias maiores como a minha. Terei que tirar o dinheiro utilizado em atividades básicas para pagar um aumento na conta”, relata.

Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF
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Colaborou Camila Costa