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Caesb é uma das empresas mais caras do país
Os custos da crise hídrica vão chegar ao consumidor a partir de junho. A Caesb está em fase de elaboração da planilha para pedir a revisão anual de tarifa. Como o racionamento tem elevado o gasto de operação da empresa, ele deve ser um dos principais pesos na composição do reajuste. As horas extras de funcionários, a manutenção das interrupções e o rompimento das redes por causa do rodízio são os principais responsáveis pela elevação do preço, segundo o presidente da Caesb, Maurício Luduvice. “Todos esses custos precisam ser considerados na revisão tarifária. A Caesb precisa sobreviver como empresa”, afirma.
A companhia ainda não sabe mensurar quanto está gastando a mais com a operação crise hídrica e quanto será necessário subir o valor da tarifa para manter as contas da empresa saudáveis. A Agência Reguladora de Águas (Adasa) informou que vai analisar os dados enviados pela Caesb e se, necessário, concederá o aumento, desde que justificado.
Em 2016, o reajuste foi de 7,98% para consumidores residenciais. Desde 2010, a Caesb subiu 79,8% o preço do m³ de água, o que a deixa entre as 10 empresas mais caras do país. “Oferecemos água de excelente qualidade e com ótimo padrão de atendimento. Tem cidade brasileira que todo dia falta água e não é por escassez hídrica”, explica Maurício Luduvice.
A tarifa de contingência também será usada para os gastos com a crise hídrica. Entretanto, o dinheiro ainda está em uma conta sem uso porque falta regulamentação de como a verba pode ser usada. O valor acumulado está em R$ 9,3 milhões. Esta semana haverá uma audiência pública para discutir a minuta da resolução que já está disponível no site da Adasa. Após esse rito, o dinheiro pode ajudar a custear os gastos com a crise.
Volume morto do Descoberto garante apenas 30 dias de abastecimento; custo de captação não compensa
Se a crise hídrica se agravar, o Distrito Federal não pode contar com o volume morto dos reservatórios como ocorreu em São Paulo. Segundo informações da Agência Reguladora de Águas (Adasa), a reserva existente na Barragem do Descoberto não seria suficiente para abastecer a capital do país nem por 30 dias, o que não justificaria os custos da obra para captação. Para retirar o volume morto é preciso a instalação de bombas coletoras porque não é possível fazer a retirada por gravidade. Em Cantareira, o sistema custou R$ 120 milhões e a obra demorou dois meses. No DF, não há previsão de custos. Também não há hipótese de utilizar a reserva do Santa Maria porque o reservatório está localizado em área de proteção ambiental.
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A estiagem prolongada e a redução do consumo em velocidade mais lenta do que o esperado preocupa os órgãos ambientais porque os reservatórios não conseguem se estabilizar e encher. Dessa forma, o uso do volume morto poderia ser uma alternativa no abastecimento, caso a tarifa de contingenciamento e o plano de racionamento não fossem suficientes para suprir a demanda de água. Entretanto, essa hipótese ainda não está entre as frentes de ação da Adasa e da Companhia de Saneamento do DF (Caesb).
“Em São Paulo, o volume morto era grande. No Descoberto é pequeno, não daria nem para 30 dias. O custo-benefício não compensa”, analisa Camila Campos, coordenadora de informações hidrológicas da Adasa. A Caesb informou, via nota, que “não tem o menor interesse de falar desse assunto no momento. Estamos preparando o plano de racionamento, que, esperamos, não haja necessidade de ser implantado”.
O volume morto do Descoberto é de 16% em relação ao total do reservatório – o que corresponde a 13,7 bilhões de litros. Em Cantareira é 23%, o que equivale a mais de 330 bilhões de litros. O volume morto é o local onde o ponto de captação de água não chega. A engenharia da obra de captação do Descoberto foi feita de uma maneira que a tomada fosse feita com profundidade, o que deixou pouco espaço para o volume morto.
A discussão sobre a possibilidade de uso dessa reserva surgiu por conta do baixo nível dos reservatórios do DF. O Descoberto atingiu 21,99% da capacidade e o Santa Maria, 41,77%. Dos dois pontos de tomadas de água existentes no Descoberto apenas uma está funcionando porque o outro está na zona seca. O plano de racionamento passa a vigorar quando um dos reservatórios atingir 20%. Entre as ações previstas estão o rodízio de água por região – os endereços ficariam 72 horas com água e 24 sem – e o abastecimento de escolas e delegacias por caminhão pipa.
Volume morto
A coordenadora de informações hidrológicas da Adasa, Camila Campos, explica que alto valor do uso do volume morto se dá porque é preciso investir em infraestrutura. Além das bombas de captação, a estação de tratamento de água não está preparada para a qualidade mais baixa da água da reserva. “Essa água é de qualidade inferior. Tem muitos sedimentos pela proximidade com o fundo. E o nosso sistema está adequado para tratar uma água mais limpa”, explica. Entretanto, Camila acredita que não será necessário usar o recurso. “Com as chuvas e o racionamento, os estudos da Adasa apontam que, em novembro, o Descoberto pare de esvaziar e retome a subida de nível”.
Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o volume morto começou a ser utilizado quando o Sistema Cantareira atingiu cerca de 8% da capacidade, em maio de 2014. Em dezembro de 2015, as reservas foram recuperadas e, desde então, o estado usa apenas o volume útil.
Para saber mais
Os reservatórios do Distrito Federal estão registrando os menores índices de volume da história em 2016. Por isso, a Caesb tenta diversificar os locais de captação. As apostas são a retirada de água no Lago Paranoá, Corumbá IV e Bananal. Essas obras podem aumentar em 57,8% a produção de água potável. Hoje a capacidade máxima diária é de 9,5 mil litros por segundo. Os três sistemas quando implantados em sua totalidade podem acrescentar mais 5,5 mil litros à vazão por dia. Esse incremento deve garantir a segurança hídrica até 2050, prevê a Caesb.
Tarifa de contingência de água deve valer em 10 dias: entenda como vai funcionar a cobrança
A tarifa de contingência deve começar a compor a fatura de água do consumidor do Distrito Federal nos próximos 10 dias, prazo que a Barragem do Descoberto deve chegar a 25% do volume útil, porcentagem prevista pelo decreto local que instituiu a taxa. Segundo cálculos da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), 60% dos imóveis residenciais pagarão pelo acréscimo, pois consomem mais de 10 mil litros de água por mês. Uma vez instituída, a cobrança vale até a edição de outra resolução da Agência Reguladora de Águas (Adasa) cessando a tarifa.
O que significa que mesmo que o reservatório suba e saia dos 25%, a taxa continua valendo até a agência julgar necessário. “O término da cobrança ainda não está totalmente definido. Não dá para estipular um percentual porque uma chuva pode elevar o reservatório por um dia e, no seguinte, o volume continuar caindo”, explica Cássio Leandro Cossenzo, coordenador de estudos econômicos da Adasa. “Por isso, só deve acabar quando a Adasa julgar que não há escassez hídrica, a partir de novos estudos e parâmetros”, complementa.
Os 40% a mais no valor pago na conta de água valerá para todo o Distrito Federal, independentemente da unidade ser abastecida ou não pela Barragem do Descoberto, uma vez que o sistema é interligado. Atualmente o Descoberto é responsável por quase 70% da água que chega às torneiras das residências brasilienses. Ontem, a represa estava com 28,88% do volume e o ritmo de queda continua de 0,4% por dia. De acordo com o Instituto de Meteorologia (Inmet) não há previsão de chuva suficiente para encher o reservatório até o fim de outubro. As precipitações estão previstas para novembro.
Atualmente o DF consome 16 bilhões de litros mensais de água. A previsão da Adasa é que a tarifa de contingência gere uma economia mensal de 15%, ou seja, 2,4 bilhões de litros. Porcentagem de economia que não foi atingida pela população do DF desde o início da crise hídrica de 2016. “A gente espera que as pessoas economizem água, que os condomínios suspendam a lavagem de calçadas e outros desperdícios”, analisa Maurício Luduvice, presidente da Caesb.
Segundo Luduvice, o esforço deve se concentrar para evitar o racionamento, que será instituído quando o reservatório registrar 20% de volume. Ele explica que o plano de contingência está quase fechado. “Estamos trabalhando com a hipótese do Descoberto chegar a 20% e o nosso plano está em fase final”, adianta. Entretanto Ludovice vê a possibilidade como um grande problema. “O racionamento é complexo e não é barato. Vamos ter que fechar redes para abastecer uma região um dia e no outro não. O sistema não foi projetado para isso. Fora que temos que manter água para espaços públicos como delegacias e escolas, ou seja, todo um aparato de caminhões-pipa”, alerta.
Apesar dos índices registrados, o governo se mantém otimista. Segundo o secretário de Meio Ambiente, André Lima, o volume dos reservatórios têm baixado mas a uma velocidade constante. “Percebemos uma curva menor. Se a chuva em alguns pontos mantiver e começar a chover realmente pode ser que nem chegue nos 25%”, afirma.
A aposentada Silvia Mourão, 66 anos, é a favor do aumento. Ela divide uma casa no Cruzeiro com o marido, e pagou apenas R$ 68 na última conta de água. “Eu poupo muito, até os jardins da minha casa são aguados com água reaproveitada. O aumento por gasto é justo. Tem gente na minha rua que passa horas com a mangueira ligada pra regar jardim ou lavar o carro. Agora pesando no bolso, quem sabe a população se conscientize”, argumenta.
O acréscimo de valor na conta de água devido à escassez é previsto na lei federal do Saneamento Básico. Estados como São Paulo e Ceará já fizeram uso do dispositivo. O objetivo é forçar a redução do consumo. No DF, o volume do uso de água cresce a cada ano, assim como o consumo per capita.
Tira-dúvidas:
Quem vai pagar a tarifa de contingência?
Consumidores residenciais e comerciais que gastarem mais de 10 mil litros por mês.
Quando a tarifa vai ser cobrada?
A partir do momento que o reservatório do Descoberto chegar ao nível de 25% do volume.
Qual será o valor?
Contas acima de 10 mil litros terão acréscimo de 40% no valor cobrado pela água. Como a fatura é composta por água e esgoto, o impacto no preço final será de 20%.
Como vai vir na fatura?
O modelo será similar à cobrança das bandeiras tarifárias na energia elétrica. Ou seja, o consumidor vai saber quanto está pagando por consumir mais água. Porém, o valor será somado e pago no mesmo código de barras.
Quem tem isenção?
Consumidores que gastam menos de 10 mil litros de água por mês, hospitais, hemocentros, centros de diálise, pronto-socorro, asilos e presídios.
E os consumidores comerciais?
A tarifa comercial já é mais alta do que a residencial. Dessa forma, esse grupo pagará 20% a mais sobre o valor da água se consumir mais de 10 mil litros. Como a fatura é dividida com saneamento, o impacto na quantia final será de 10%.
Como a tarifa vai funcionar no caso dos condomínios sem hidrômetro?
Para composição da tarifa, a Caesb divide o consumo pela quantidade de unidades. Se o consumo por unidade for superior a 10 mil litros, o condomínio paga a tarifa.
Crise hídrica avança e consumidores estão preocupados com valor a mais na fatura de água
Por Flávia Maia e Pedro Grigori
Os principais mananciais de abastecimento de água do Distrito Federal – a Barragem do Descoberto e a represa de Santa Maria – atingiram os menores níveis registrados desde o início da série histórica, que começou há 28 anos. No Santa Maria, o volume está em 45,64% e no Descoberto, 30,25%. A situação acendeu o alerta às autoridades e a estimativa é que a Tarifa de Contingência – que vai aumentar a fatura da água em até 40% – comece a vigorar dentro de 15 dias. A perspectiva é que os reservatórios comecem a se recompor somente a partir de dezembro, se as chuvas vierem.
Segundo cálculos da Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa), o Descoberto vem perdendo 0,4% de volume ao dia. Dessa forma, se não chover e o consumo não cair, em duas semanas, o nível do reservatório deve chegar a 25%, índice estabelecido pela resolução da Adasa para início do acréscimo no boleto mensal enviado à residência do consumidor. As normas da cobrança adicional foram publicadas na segunda-feira no Diário Oficial do DF. O adicional será cobrado para as residências que ultrapassarem o consumo mensal de 10 mil litros por mês. “Os 40% serão cobrados sobre o valor da água. Como a fatura é composta metade por água, metade por saneamento básico, o impacto no bolso do consumidor será de 20% na fatura total”, explica Cássio Leandro Cossenzo, coordenador de estudos econômicos da Adasa.
O valor adicional virá discriminado no boleto a ser pago, em modelo similiar às bandeiras tarifárias da energia elétrica. O dinheiro arrecadado pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) será destinado para uma conta contábil e a quantia só poderá ser usada para investimentos ou custos relacionados à crise hídrica. “A conta da Tarifa de Contingência será separada para melhoria no sistema como redução das perdas de água e outras fontes de captação, como estamos fazendo no Bananal. O dinheiro não pode ser usado para custeio da empresa”, afirma Maurício Luduvice, presidente da Caesb.
O acréscimo de valor na conta de água devido à escassez é previsto na lei federal do Saneamento Básico. Estados como São Paulo e Ceará já fizeram uso do dispositivo. O objetivo é forçar a redução do consumo. No DF, o volume do uso de água cresce a cada ano, assim como o consumo per capita. Em seis anos, 25 bilhões de litros passaram a ser consumidos a mais – em 2010 foram 158 bilhões de litros e a previsão da Caesb para 2016 é de 183 bilhões.
Dessa forma, o crescimento populacional e o aumento de consumo de água por pessoa reforçam o quadro crítico causado pela estiagem. Informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que, até outubro, 2016 não pode ser considerado o ano mais crítico de chuvas da década. De acordo com a meteorologista Morgana Almeida, o reflexo da escassez atual está relacionado a forte seca de 2015, em que houve queda de 19% na quantidade de chuvas. “O El Niño, que deixou as temperaturas mais altas e diminuiu as chuvas no ano passado não está influenciando em 2016. Em outubro de 2015, nos primeiros dez dias as temperaturas estavam acima de 32º, o que não está acontecendo agora”.
Consumidores preocupados
Enquanto as chuvas não são suficientes para subir o nível dos reservatórios e o consumo de água diminui em ritmo lento, a Tarifa de Contingência preocupa os consumidores. A moradora do Cruzeiro, Candida Ribeiro, 64 anos, não sabe de onde poderá tirar dinheiro para pagar mais na conta de água. “Tento economizar o máximo que posso, mas pago por mês cerca de R$170 em uma casa de três pessoas. Não acho que a crise esteja sendo causada pelo consumo da população de classe média. Deveriam aumentar a conta de empresas que gastam muita água e das mansões que têm piscina”, opina.
No lote de Renata Coelho, 35, vivem três famílias, que juntas totalizam oito pessoas. Por dividirem o mesmo relógio, as contas de água chegam ao valor médio de R$ 300, número que subirá para R$360 com o aumento. “Existem modos mais eficazes de diminuir o consumo, não dá pra colocar um limite nos gastos, pois existem famílias maiores como a minha. Terei que tirar o dinheiro utilizado em atividades básicas para pagar um aumento na conta”, relata.
Colaborou Camila Costa