Segundo a delação, o principal articulador da máfia, Johnny Wesley, cobrava venda e uso a mais dos produtos médicos pelo aplicativo
A Justiça do Distrito Federal homologou as delações premiadas de Sammer Oliveira Santos, Danielle Beserra de Oliveira e Rosângela Silva de Sousa no processo da Operação Mister Hyde, deflagrada em setembro do ano passado. As três trabalhavam na TM Medical – principal empresa envolvida no esquema criminoso – e são rés na denúncia oferecida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O acordo de colaboração premiada foi assinado no fim de janeiro deste ano e homologado esta semana pelo juiz responsável pelo caso, Paulo Marques da Silva.
O Correio teve acesso com exclusividade às três colaborações que trazem detalhes de como a máfia agia com os médicos dentro dos hospitais da capital do país. Em um trecho da delação da técnica de enfermagem Rosângela, ela conta que a TM Medical tinha três grupos de WhatsApp para organizar as fraudes. Johnny Wesley, Mariza Aparecida Rezende Martins e Micael Bezerra Alves faziam parte de todos e, por eles, cobravam dos representantes comerciais as vendas superfaturadas, de produtos vencidos e com lacres violados. Segundo o depoimento, Johnny fazia perguntas no grupo do tipo: “A cirurgia do Dr Fulano usou o quê?” “Usou mais do que devia?”.
Rosângela conta que, enquanto trabalhou no esquema, ela se lembra de apenas uma cirurgia que realmente era de urgência – o paciente era um agente penitenciário que precisou fazer uma cirurgia de coluna após uma queda. “Muito embora no grupo de agendamento do WhatsApp vários procedimentos cirúrgicos eram agendados em caráter de urgência”, comenta a delatora.
Na colaboração da representante comercial da TM Danielle Beserra de Oliveira ela também faz referência a um grupo de WhatsApp onde era feito o agendamento de todas as cirurgias a serem realizadas. E que Johnny era quem fazia o agendamento no sistema e que ele sempre enviava essa programação por e-mail.
Segundo Rosângela, Johnny cuidava da parte científica da empresa, pois era ele quem aprovava ou não a aquisição de materiais pela TM, bem como a utilização do material para os procedimentos cirúrgicos. “O Dr Johnny sempre foi autoridade dentro da TM, ele quem direcionava os acontecimentos dentro da empresa, ele dava ordens a todos os funcionários”, diz um trecho da delação. A funcionária diz ainda que “quando o Dr Johnny queria falar algo de forma mais reservada (na empresa), ele ia na lanchonete de cima”.
Com base na primeira denúncia do MPDFT, 19 envolvidos foram indiciados, sendo oito médicos. Dos acusados, três continuam presos preventivamente: Johnny Wesley Gonçalves Martins, Micael Bezerra Alves e Antônio Márcio Catingueiro Cruz.
Audiência suspensa
Por causa das colaborações premiadas, a audiência da última quarta-feira (8/2) foi transferida para os dias 20 e 21 de fevereiro de modo que os advogados dos envolvidos possam ler os depoimentos e preparar a defesa.