É cada vez mais comum encontrar produtos nas prateleiras dos supermercados que anunciam embalagens econômicas, nas quais, na teoria, ao comprar em maior quantidade, o consumidor pagaria mais barato. Na prática, entretanto, não é assim que funciona. Muitas vezes, não passa de uma armadilha. O comprador dificilmente faz as contas para averiguar se realmente sai mais em conta, leva apenas por achar que é vantajoso e, no fim, é ludibriado. O Correio fez um levantamento em um supermercado do DF e constatou que, de 12 itens, cinco não valiam a pena (veja arte).
De acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor do Distrito Federal (Procon-DF), se o item é anunciado como econômico, mas custa, proporcionalmente, o mesmo ou mais do que o de embalagem menor, a prática é considerada como propaganda enganosa e abusiva. “O ideal é que a pessoa leve a calculadora ao supermercado para não cair na armadilha. Caso veja que o produto não sai mais em conta, ela deve colher provas para levar a um órgão de defesa do consumidor, como fotografias e nota fiscal”, explica Todi Moreno, diretor-geral da instituição.
Confirmada a prática, o estabelecimento pode ser multado. “Primeiro, notificamos o supermercado, que é quem fixa o preço, mas o consumidor também pode denunciar o fornecedor. A multa varia entre R$ 400 e R$ 6 milhões, mas dificilmente chega ao máximo. Em situações parecidas, chegamos a aplicar até R$ 3 mil. Em caso de reincidência, o local pode ser fechado”, esclarece Moreno. Para ele, a embalagem induz o consumidor ao erro. “Com isso, a relação de consumo fica prejudicada. Muitas vezes, o comprador não tem tempo de fazer a conta ou não consegue”, destaca.
O presidente do Procon-DF destaca ainda que essa é uma prática difícil de ser percebida, por isso, o consumidor não costuma reclamar. “Quase nunca recebemos queixas dessa natureza”, diz. A coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci, acrescenta que, não é porque o produto tem uma embalagem maior mais cara que é caracterizada a propaganda enganosa. “Deve ter escrito que é econômica, pois é o que cria a falsa sensação de vantagem”, adverte.
Troca
O cliente pode pedir para trocar se perceber, depois da compra, que foi enganado. “Muitas vezes, ele não tem uma calculadora em mãos, até porque as embalagens trazem medidas diferentes, como gramas e quilos, o que dificulta ainda mais a conta”, revela Maria Inês.
A professora Míriam Mendonça, 52 anos, moradora do Cruzeiro, sempre compra produtos em maior quantidade. “Nunca calculo se vale a pena, mas acabo levando a maior embalagem por supor que sai mais barato. Na verdade, não passou pela minha cabeça que pudesse ser mais caro”, conta. Ela admite que precisa prestar mais atenção. “O dia a dia é muito corrido, nem sempre dá tempo de reparar nessas coisas, mas é um absurdo, realmente uma armadilha”, comenta.
O casal Vanessa Amaral, 31 anos, técnica em enfermagem, e Rennê Veríssimo, 33, enfermeiro, morador do Sudoeste, coloca tudo na ponta do lápis. “Calculamos tudo e só compramos embalagens econômicas se compensar, senão, levamos várias menores até atingir o volume desejado”, relata a mulher. Veríssimo reclama, no entanto, que quase nunca vale a pena. “Raramente, encontramos um produto que o maior está mais barato. Alguns são mais fáceis de visualizar. Por exemplo, essa semana compramos sabão em pó. O pacote de 1kg custava R$ 5,50 e o de 2kg, R$ 13. É uma conta fácil de se fazer”, lembra.

Segundo levantamento do Correio, em alguns produtos a diferença de preços é muito sutil e só é percebida na terceira casa decimal, ou seja, não chega a um centavo, o que dificulta ainda mais a avaliação do consumidor. É o caso, por exemplo, do achocolatado, com variação de R$ 0,001 e do leite em pó, de R$ 0,002. “O comprador deve aprender a comparar os valores. A diferença parece pequena para quem adquire o item, mas o lucro dos empresários com a prática é exorbitante”, critica Todi Moreno, do Procon.
Excessos podem levar ao desperdício
O comprador deve ficar atento não somente aos preços em relação às embalagens econômicas, mas se elas realmente valem a pena de acordo com o consumo familiar. A coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci afirma que, além do valor, o cliente deve prestar atenção para não desperdiçar. “Mesmo quando a embalagem maior sai mais em conta, é preciso avaliar se compensa. Às vezes, a pessoa compra em grande quantidade e não utiliza a tempo”, observa.
Se o consumidor desejar levar uma quantidade maior, deve prestar atenção no prazo de validade da mercadoria. “Em casas com menos de três pessoas, acontece muito de perder antes de ser totalmente consumido por conta disso, então, em vez de ganhar, a pessoa acaba perdendo”, pondera Maria Inês. Para ela, o uso da embalagem econômica deve ser uma opção para o consumidor. “Muitos, mesmo que paguem mais caro, preferem, por uma questão de estoque também. O problema é quando essa diferença não fica clara ao comprador, o que é abusivo. O cliente não deve deixar de reclamar para que a prática não passe impune”, argumenta.
Impacto ambiental
Especialistas também defendem o uso da embalagem econômica para reduzir o impacto ambiental. O superintendente da Associação de Supermercados de Brasília (Asbra), Marcelo Marinho, aponta que, quando há maior quantidade, os custos com a embalagem diminuem e, por isso, o produto deveria ficar mais barato ao consumidor. “Teoricamente, os itens com maior volume deveriam custar menos”, explica.
Reportagem de Larissa Garcia

