Consumidores buscam alternativas para baratear energia elétrica

Publicado em Sem categoria

Os constantes reajustes na conta de energia elétrica levaram o consumidor a repensar os gastos com o serviço público. A inclusão do sistema de bandeiras tarifárias, o aumento de 73,74% nos últimos 12 meses na fatura da Companhia Energética de Brasília (CEB) e a possibilidade de incremento de 32,5% na Contribuição de Iluminação Pública, tem obrigado o cliente a trazer para si a responsabilidade de otimizar a relação no consumo de luz. Seja com a implantação de placas fotovoltáicas para a geração de energia solar, seja desligando eletrodomésticos com pouco uso ou trocando as lâmpadas por opções mais econômicas, o consumidor pode conseguir cortar custos e reduzir até 80% os valores da conta de luz.

De acordo com especialistas, é possível economizar energia elétrica com diferentes práticas, desde as gratuitas até aquelas que requerem um investimento mais alto. Hábitos como o de diminuir o tempo de banho, concentrar o uso da máquina de lavar e do ferro de passar em dias específicos e até mesmo desligar equipamentos eletrônicos pouco utilizados como o freezer, são apontados por engenheiros eletricistas como ações simples, sem custos financeiros e que podem reduzir a fatura em até 5% por mês.

“O consumidor residencial tem que olhar o tipo de consumo que ele tem. Por exemplo, o chuveiro utilizado pode ser de uma potência superior ao que ele precisa. Para nossa região, chuveiros de 4 kW são opções razoáveis. Mas tem exemplares no mercado de 6 kW a 7 kW, o que produz um consumo exagerado”, explica Marco Antônio Freitas do Egito Coelho, doutor em engenharia elétrica e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Para os consumidores que puderem fazer investimentos para economizar energia, a primeira aposta deve ser no sistema de iluminação. A troca das lâmpadas pode trazer uma redução de até 40%. “Se as lâmpadas da casa forem incandescentes, ele precisa trocar para fluorescente porque consome menos. Se já forem fluorescentes, o consumidor pode substituir por lâmpadas de led à medida que puder. Elas são mais caras, mas economizam e duram mais”, afirma Luciano Duque, mestre em engenharia elétrica e professor do Uniceub. As lâmpadas de led custam, em média, o dobro do preço das fluorescentes tradicionais em lojas especializadas.

   

O odontólogo Rogério Zambonato, 42 anos, optou por trocar 100% das lâmpadas do consultório no Lago Sul pelos exemplares de led neste ano. Ele conta que, em 2013, fez o projeto com 50% das lâmpadas de led porque, na época, a variedade desse tipo era pequena. Segundo cálculos de Zambonato, a substituição rendeu 40% de economia por mês. “Além da redução do consumo pela característica da lâmpada de led, ela esquenta menos, e uso menos ar condicionado também. É um benefício em cadeia”, defende.

Zambonato também está apostando nas placas fotovoltáicas para a geração de energia. O odontólogo explica que investiu R$ 50 mil em energia solar. As placas estão localizadas em sua residência e a expectativa é de sete anos para o retorno do investimento inicial. O odontólogo conta que colocou mais placas do que o necessário para suprir a sua casa porque ele pretende gerar crédito de energia para o consultório. “Como é um inversor bidirecional, o que eu gero para a CEB vira crédito que posso usar no consultório”, contabiliza.

A ideia de Zambonato é apostar cada vez mais em energia sustentável e menos dependente do serviço público. “Vou tentar o consumo mínimo da concessionária, assim me livro das incertezas energéticas do país. Outra coisa: as condições ambientais mostram que a tendência é mais de sol do que de chuva. Precisamos investir nesse tipo de energia”. Zambonato calcula que no primeiro mês de uso da energia solar, a conta de luz caiu pela metade – de R$ 740 para R$ 370.

Aposta em microgeração

   

O sistema de geração de energia por meio solar tem sido um caminho de moradores do Distrito Federal para reduzir a dependência do serviço público de energia elétrica. O DF tem apenas 34 projetos em funcionamento e a maioria está localizada em regiões como Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte. De acordo com Celso Nogueira, técnico da gerência de Análises de Projetos e Vistorias da CEB, além dos que estão em operação, outros 16 projetos estão aprovados e aguardando montagem, e existem 11 em análise. “A microgeração ainda não deslanchou como deveria. O que adia é o custo. O inversor e as placas são importados e a carga tributária é muito elevada”, explica. A distribuidora com mais projetos de microgeração no Brasil é a de Minas Gerais (Cemig), que conta com mais de 100 instalações em todo o estado.

A microgeração de energia elétrica com sistema de crédito está regulada desde 2012 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Além da demora na regulamentação, os custos altos de instalação – que podem variar de R$ 20 mil a R$ 70 mil, a depender da quantidade de placas – e a falta de incentivo de crédito são apontadas por especialistas e usuários como entraves para a operação ganhar escala. Em países como a Alemanha, a microgeração via energia solar corresponde a 10% da geração energética total do país.

Na microgeração, as placas geram energia elétrica e o excedente é jogado na rede da distribuidora por um inversor bidirecional, uma vez que no Brasil não é admitido o armazenamento de carga. Dessa forma, o projeto precisa ser aprovado pela concessionária local. O processo entre a assinatura do contrato e a instalação do inversor e das placas demora de 60 a 90 dias. A CEB tem 30 dias para analisar o projeto e mais três para vistoriar a instalação pronta. A força que é jogada na rede elétrica vira crédito para o morador. Esse sistema é diferente das placas solares usadas para aquecimento de piscinas e chuveiros.

Embora a demanda ainda esteja abaixo da potencialidade de uso da energia solar, o empresário Felipe Tadeu Stemler, 27 anos, dono da Smartly Energia Solar Fotovoltáica, conta que a procura pelo serviço aumentou em 80%. “Temos dois anos de empresa, dos 13 clientes fechados, 11 foram só este ano”, calcula. Para Felipe, falta linhas de crédito para o consumidor final para impulsionar o uso da microgeração solar no Brasil. “A incidência solar no Brasil e no DF, é muito boa. É possível estimar bem quanto pode ser gerado de energia”, comenta.

Dono de um posto de gasolina, Guilherme Coelho, 28 anos, instalou há menos de um mês 40 placas solares para que o posto fique auto-suficiente de energia. O empresário comenta que pensou durante um ano sobre o investimento, mas as contas de luz mensais acima de R$ 1 mil preocuparam. “Todo mês a fatura subia e as notícias de que ia reajustar mais me fizeram investir na microgeração”, comenta. Guilherme investiu R$ 70 mil e espera resgatar o valor em cinco anos. “Energia tem um peso significativo. Consigo ter um funcionário a mais por causa da economia de energia”, calcula. A ideia de Guilherme é só pagar a taxa mínima da CEB e colocar microgeração em outro posto de sua propriedade, em Luziânia (GO). “Agora eu escuto: ‘crise hídrica no país’, ‘vão ligar as térmicas’, ‘vai ficar mais caro’, já não me preocupo”, afirma. Em 16 dias, o sistema de Guilherme gerou 585 kW/h e ele consumiu 340 kW/h, devolvendo 245 kw/h para o sistema.