DECISÃO 7

SOLIDÃO, ALMA GÊMEA E DECISÕES

Publicado em Filosofia, Psicologia

Quando publiquei ANA HICKMANN E O IMPACTO DA ANCESTRALIDADE (série – texto 1), recebi a seguinte mensagem de um leitor de Natal, Rio Grande do Norte:

 

“Sou solteiro e heterossexual. Mas não sou casado nem tenho namorada. Por óbvio, tenho meus problemas sentimentais que você já deve estar acostumada a analisar. Então, passando por umas dificuldades econômicas e financeiras, a primeira “certeza” que eu tive foi de que os meus problemas econômicos se deviam ao fato de eu não ter ninguém decidindo comigo (eu sozinho decidindo e fazendo tudo). Aquela ideia de que “duas cabeças juntas trabalham melhor que uma”. Qual não foi minha surpresa com esta situação da apresentadora que citei acima: todos os problemas econômicos e financeiros deles foram causados pelos dois juntos (o casal errou com duas “cabeças trabalhando juntas”). Então, diante dessa constatação, segue minha sugestão de tema: Tomar decisões sozinho, isolado, sem parceira para analisar junto. Quer dizer: quando a solidão não é motivo pra se errar.”

 

Ao ler essa sugestão de tema, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a fala de Aristófanes em O Banquete, de Platão, que aqui resumo: No início dos tempos, os seres humanos eram perfeitos e de grande força e vigor. Mas, um belo dia, escalaram o céu para investir contra os deuses. Em vez de exterminá-los, Zeus decidiu enfraquecê-los cortando-os ao meio. Assim eles passaram a ansiar e buscar por sua metade. E, no ardor de se fundirem novamente, enlaçavam-se e morriam de inércia por nada quererem fazer longe um do outro. Desde então, cada um de nós procura por seu complementar que, por amor, curará nossas feridas ao restaurar nossa antiga natureza.

 

Talvez venha daí e de outras narrativas similares a ideia de alma gêmea. Como disse Tom Jobim em Wave, “Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho”. Embora eu entenda que o maestro não se referia ao amor romântico, mas ao amor universal, é uma delícia quando podemos curtir uma relação com alguém que nos faz mais feliz, com quem podemos sonhar junto e trocar ideias, sobretudo quando precisamos tomar importantes decisões. Só que a Vida nem sempre acontece como queremos, mas como precisa acontecer. A Vida tem vida própria.

 

E de nada adianta vivermos “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Mesmo porque, muitas das vezes, a “metade da nossa laranja”, a “tampa da nossa panela”, por mais amor que nos tenha, não pode nos auxiliar como necessitamos. É nessas horas de incertezas, em que não estamos conseguindo elucidar as nossas dúvidas e acalmar o nosso coração, que devemos lançar mão de pessoas e instrumentos que podem nos ajudar no percurso, como um parente, um orientador religioso, um professor, um psicoterapeuta, um coach, um consultor, um amigo.

 

É preciso que olhemos o problema com distanciamento emocional suficiente para que enxerguemos, em primeiro lugar, as nossas incertezas, as ambiguidades. Só depois disso conseguiremos encontrar soluções e decidir da melhor forma. No caso do leitor, é possível que um curso de finanças pessoais o ajude, assim como um psicoterapeuta o faça entender que o ser humano não é uma criatura pela metade, mas completa; que o problema não está na falta da alma gêmea, mas em ainda não termos consciência da nossa completude.

 

As respostas aos nossos questionamentos já estão em nós. O nosso desafio, então, é acessá-las. E talvez esse seja o maior de todos, aquele que nos movimenta, que nos mantém vivos pela Eternidade, seguindo em frente, caindo, levantando, aprendendo que cada um de nós é um ser único, inteiro, completo, e que as criaturas que nos acompanham nessa jornada são maravilhosamente perfectíveis como nós. 

 

O mito da alma gêmea, como todos os mitos, serve para reflexão. Uma delas pode ser a de que, para encontrarmos a metade que conosco venha a formar um ser perfeito, precisamos, antes de qualquer coisa, nos tornarmos perfeitos. E o resto? “O resto é mar, é tudo que não sei contar”.

 

Gostou da mensagem que este texto traz? Então compartilhe-o! Você pode comentar este texto logo depois dos anúncios, mesmo que você não seja assinante do jornal. Ou pode mandar um comentário para mim por WhatsApp no (61)991889002, para que eu o publique. Você também pode sugerir um tema para o Blog. Aguardo seu contato. Valeu! Instagram: #maracisantanapsicologa.

Interessado(a) em marcar uma consulta? Envie mensagem para (61)991889002. Atendimento online.

15 thoughts on “SOLIDÃO, ALMA GÊMEA E DECISÕES

  1. O ” mitologia da alma gêmea ” para ter uma vida perfeita ás vezes irrita.Sinceramente fomos enganados que não seríamos completos sozinhos. O outro muitas vezes te ajuda , te acompanha ,mas e quando não? Ou quando se vai embora ou simplesmente morre, acabou a vida? Ou não tem vida quem não tem a alma gêmea. Gosto de se bastar independentemente de acompanhada ou não .Facilita muita coisas se bastar porque vai que minha alma gêmea tá cansado de procurar, encontrou outra ou outro ou se envolveu em outros afazeres ! E eu continuei aqui bem e tentando ser feliz.

  2. Anna Karenina via WhatsApp: Sempre leio seus texto, porém este me encantou muito, hj falei a uma amiga: a gente tem que aprender e saber que nossa “própria “ companhia é o bastante para ser feliz. Eu me basto e o que vem são consequências de um bom entendimento…. E por aí vai!!!!! Eu sempre leio, mais este em especial me chamou atenção. E a sua resposta ao leitor mega direta, meu estilo. Kkkkk

  3. LEITOR DE NATAL via WhatsApp: Boa noite!! Fico muito feliz em saber que um tema tão caro para o meu emocional, seja tratado por você, que já demonstrou grande capacidade de entender os nossos problemas existenciais. Fico muito feliz também de ter minha sugestão, tão bem acolhida!
    Muito obrigado!! 🙏🏼🙏🏼🙏🏼. Ajudou muito. As partes que me farão refletir daqui por diante:
    – é possível que um curso de finanças pessoais me ajude;
    – o ser humano não é uma criatura pela metade, mas completa;
    – o nosso desafio é acessar os questionamentos que estão dentro de nós;
    – o mito da alma gêmea serve para reflexão.

  4. Amanda Christina via WhatsApp: Bom dia🌻Me chamo Amanda e preciso fazer um comentário em relação à sua crônica de ontem, com tema sugerido por um leitor potiguar. Se ele estivesse triste ou se queixando por não ter alguém, depois da reflexão final, iria se matar. Achei demasiado desilusório o desfecho antes da citação. Se para encontrarmos a mtd que conosco venha a formar um ser perfeito antes precisamos nos tornar perfeitos, então NUNCA encontraremos nossa tal metade! Essa humanidade desumana que caminha pro abismo da Terra plana?? Juro que não é pessimismo, mas não consigo compartilhar dessa mesma crença (sobre eu acreditar que o ser humano caminha na direção e chegará à perfeição)… E ainda que ela seja possível, creio que é mais fácil alcançarmos a perfeição somando nossas imperfeições. Se o ser humano tiver a humildade de reconhecer que só Deus é perfeito isso seria… perfeito!!! Acredito que ninguém nasceu para ser e/ou viver só e que perfeitos jamais seremos. Mas também creio que podemos encontrar certo alento e até melhorar em algum aspecto através da convivência, compreensão e aceitação de que
    nossos defeitos e qualidades não são únicos.

  5. Leo via WhatsApp: Cuidado… A carência pode ver amor, onde não tem. Ou como diz Dr.Candido, meu terapeuta. Cuidado com a lua no posso. As vezes,tão sozinhos,e querendo mto ter a quem amar, vemos a lua no poço. Mergulhamos de cabeça… Puft! Era só o reflexo da lua no posso. Não existia!!! Kkkkkk,entrei num grupo de melhor idade, me chamou atenção um gaúcho de Porto Alegre, próximo de mim. Divorciado,bom cozinheiro (coisa que não sou) tinha os mesmos sonhos meus. Viajar…descompromissadamente. simplesmente viver. Meu terapeuta só falou: cuidado com a lua no poço. Bingo!!! A criatura, talvez até idealizava ter este perfil, mas… Era uma ilusão. Sai do grupo, já estava até pensando em mudar minha vida para encontrar a dele. Vida que segue, procurando a minha metade.

  6. LEITOR DE NATAL via WhatsApp: Boa noite! Revi aqui meu comportamento de achar que – não ter uma cara-metade para tomar decisões junto comigo seria a causa de muitos problemas vividos por mim – aí eu cheguei à seguinte conclusão: este meu comportamento (que não terei mais) se trata do que chamam de crença limitante. Já pensou quantas coisas eu deixei de fazer por que raciocinei assim: “já que não tenho ninguém pra analisar e decidir junto comigo, não vou fazer ou tomar uma decisão”.
    ??? Enfim: eu criei uma limitação de postura mental em virtude de uma visão deturpada (precisar de outra mente pra decidir e fazer)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*