Man-is-at-Sea-(after-Demont-Breton),-The

SÍNDROME DO PÂNICO (consulta de leitora)

Publicado em consulta, Psicologia, Sem categoria

Olá! Cá estou eu, com esse fantasma chamado passado sempre a me atormentar. É luta diária com um pânico na alma, é guerra com a vida, é responsabilidade que aumenta dia a dia. Depois de estar na vida de uma pessoa 1 ano e 8 meses, não é fácil viver o que vivi, sentir o que sentir. Estar grávida é um sentimento confuso, sentir-se grávida é um sentimento amoroso, a recepção sobre a nova vida que estava por vir é a que foi muito difícil. A família num apoio só, mas nessa hora queremos a mão o colo e o respeito do pai, infelizmente não foi isso que aconteceu. Começou ali uma nova fase de vida, um amor dentro de mim e um inferno real aqui fora. Desde o primeiro instante que foi dito a ele senti a rejeição no olhar no respirar, feliz na frente da família, sorrisos, agradecimentos, mas eu sabendo que não era verdade. Algumas horas depois ficamos só dentro de um carro andando numa estrada deserta e foi ali que começou o meu desespero. Você é culpada por isso, não quero esse filho, não quero ser pai, não quero ser dividido, eu sou o único na sua vida. Que dor eu senti naquele momento, fiquei meio zonza e desacreditando em tudo que eu estava ouvindo. Já de início sugeriu um aborto, dali começou meu desespero jamais aceitaria isso, e dali o inferno eu via hora a hora mais perto. Automaticamente me distancie, não poderia ficar perto de alguém que queria mal o próprio filho. A distância me trouxe consequências, medo, ameaças, perseguição, estupro, dor, perda, incapacidade. Foram 3 meses vividos no limite do meu psicológico, no limite do medo. Ao completar 20 semanas de gestação veio a maravilhosa notícia, é uma menina, já tinha o nome e automaticamente cheguei em casa e bordei em ponto cruz o nome da bênção concedida a mim. Nas redes sociais quis mostrar para o mundo o tamanho da minha felicidade. Tinha que ter me resguardo por um tempo, mas a felicidade gritava exalava em mim. Tornou-se um tormento novamente, pois o nome dado a ela por mim não foi de seu agrado! Sumiço após meses de tortura, mesmo assim meu medo só aumentava. Chegando até mim um tempo depois a notícia do suicídio. Reagi friamente naquele momento, me senti aliviada por ter me livrado daquilo que tanto me maltratava. E as notícias não paravam de chegar, pq ele se foi mas deixou duas gestantes sem respostas. Meses passaram e a gravidez dia a dia mais difícil, trabalho de parto com 28 semanas quase ela nasceu sem nenhum órgão formado, poderia ter perdido meu maior amor, não parou por aí fui diagnosticada com diabetes gestacional, dias difíceis de internação. Mas ela foi guerreira assim como eu e nasceu meses depois, ainda prematura mas extremamente saudável. Que alegria quando tive em meus braços, amamentei, dei banho, coisas que deixam feliz uma mãe. Alguns contatos familiares paternos, poucos mas tive, a irmã dela que tinha nascido, trouxeram até mim abri as portas da minha casa sem nenhum problema. Meses passaram começou novamente o inferno parte 2. Fui tomada pela minha primeira crise de pânico na cozinha da minha casa, diante da minha grande amiga a Vovó. Corre corre, hospital, eu piorando achando que ali era meu fim. Meu Deus como eu achava a partir daquele momento a qualquer momento seria meu último momento. Muito desespero, muita dor, muitos julgamentos familiares, difícil para eles entenderem como uma mulher saudável estaria morrendo sem ter nenhuma doença. Luta, choro, desespero, falecimento da minha melhor amiga que tanto cuidava com amor. A vovó partiu, foi descansar seu espírito cansado, seu corpo machucado pela doença. Me vi novamente só, em desespero com uma doença totalmente psicológica. Muitas coisas conversas com minha psicóloga eu relutava a ir ao psiquiatra por ser leiga achando que era médico de louco. Depois de muita luta fui! Começou ali o meu viver. Graças a Deus me adaptei na primeira medicação, os pensamentos viciosos do pânico começaram a sumir. E hoje cá estou, contando parte da minha história com detalhes espalhados, rápidos mas muito verdadeiros. És feliz? Ainda busco me encontrar nesse emaranhado de episódios tristes.

Prezada leitora,

realmente, foi um período muito triste e de forte estresse. E, pra complicar, surgiram crises que lhe davam a sensação de que seu fim estava próximo, apavorando você e quem com você convivia, trazendo também incompreensão, incredulidade.

Correr para o pronto-socorro com sintomas físicos que fazem pensar em ataque cardíaco, em morte iminente; fazer exames que nada de errado apontam; e ouvir do médico que o problema é emocional, não ajuda muito. Depois de várias consultas, tudo o que se quer é um diagnóstico e um remédio certeiro.

Nesses casos, é necessário que o paciente entenda que não vai morrer daquilo, mas precisa urgentemente buscar a ajuda de um psiquiatra, profissional indicado para prescrever a medicação que vai pôr fim aos ataques.

Só que há um preconceito contra psiquiatras e remédios que têm tarja. As pessoas temem ser consideradas loucas e ficar dependentes da medicação. Como aconteceu com você, vão empurrando com a barriga, acreditando que conseguirão ficar bem com coragem e força de vontade. O resultado é o agravamento da doença, que é progressiva e vai tornando a vida do doente cada vez mais limitada, um verdadeiro inferno.

Fico feliz por você ter sido acompanhada por um psiquiatra e um psicólogo. Isso é muito importante. O remédio adequado impede os ataques de pânico, mas o paciente pode continuar a ter crises, bem parecidas com as de pânico, por medo de novo ataque. E é na psicoterapia que ele aprende a lidar com esse medo e com as dificuldades que o levaram àquela situação toda.

Você disse “Ainda busco me encontrar nesse emaranhado de episódios tristes”. A psicoterapia pode ajudar você também nisso. É aproveitar que está livre da Síndrome do Pânico e trabalhar para desembaraçar sua vida.

Sugiro que procure refletir sobre o que a levou a se envolver com alguém com problemas emocionais tão graves, como foi o pai da sua filha. Se analisar como era a relação de vocês, é possível que conclua que já era difícil antes mesmo de você ficar grávida.

Quando nos apaixonamos por alguém, por menos que não queiramos enxergar certas coisas ou por mais que tentemos minimizar os sinais de que entramos numa fria, a verdade sempre aparece. E nunca é tarde para compreender o que nos leva a certos relacionamentos. Inclusive para não entrar em outra roubada.

Busque também conhecer bem a fundo a Síndrome do Pânico. Conhecimento é poder. Quanto mais você souber a respeito, mais protegida dela estará. A internet tem várias informações. Leia também os depoimentos de quem passou por isso. E, sempre que puder, ajude quem precisar, dando o seu depoimento. Isso vai ser muito bom para quem sofre e melhor ainda pra você.

Além disso, esteja sempre ligada. Você não precisa viver com medo de uma recaída. Mas, se o seu instinto lhe disser que alguma coisa não vai bem, retorne ao médico e ao psicólogo que a trataram.

E olho na sua filha! Entenda que o pai dela sucumbiu à depressão e que a mãe passou maus bocados com a Síndrome do Pânico. Crianças também podem sofrer de depressão e de ansiedade, o que nada tem a ver com excesso de mimos. E o suicídio também não é raro entre elas e entre adolescentes, infelizmente.

Se ela fizer perguntas sobre o pai, diga-lhe a verdade, respeitadas as limitações dela, que imagino ser ainda criança. Porque ninguém merece viver numa família de segredos e mentiras.

E, quando estiver crescida o bastante para entender o que houve, conte-lhe tudo e diga-lhe que a herança genética não é uma condenação, mas jamais pode ser subestimada.

Ensine-a a se cuidar e, para o caso de ela vir a precisar um dia, mostre-lhe o caminho das pedras.

Aproveite para ler O GÊNIO E A DOR, TAMBÉM MATERIAIS  e TAMBÉM ESPIRITUAIS.

*Os temas das consultas, assim como minhas observações, poderão ser comentados pelos leitores, que deverão ter em mente que as pessoas não estarão em discussão e que críticas a quem encaminha consulta são inaceitáveis. O Blog é para discutirmos ideias, não pessoas, sempre de forma absolutamente respeitosa.

18 thoughts on “SÍNDROME DO PÂNICO (consulta de leitora)

  1. Mulher de coragem! Enfrentou a doença como deve ser enfrentada: tratando-se de cabeça erguida! A maioria se esconde atrás dos seus medos e sorrisos por achar que se curvar a essa doença é sinal de fraqueza, mimimi. E não é! Síndrome do pânico. Sei bem o que é conviver sob a custódia dessa constante ameaça. Tema e abordagem excelentes, Dra. Maraci. Parabéns!

  2. Obrigada minha Amiga, amei sua resposta, me trouxe ensinamentos, repostas… E com certeza ficarei ligada nas possíveis recaídas, e principalmente na minha filha. Mais uma vez obrigada ?
    Beijos da Ana

    1. Muito bom! Estou feliz por você e sua filha! Essa experiência, os conhecimentos adquiridos e os que ainda adquirirá sobre Síndrome do Pânico e Depressão permitirão que seja uma eterna vigilante, pronta a ajudar seus parentes e amigos que possam estar sofrendo de uma dessas doenças, conversando, orientando a procurar assistência médica. Boa sorte! Bom trabalho!

  3. Remetido via WhatsApp por Regina Pires: “Teus textos são o máximo, Maraci. Amo. Você é um sucesso! Dá pra perceber que é com prazer q vc escreve”

  4. Remetido via WhatsApp por Segalla: “Muito legal o texto. Li ontem no Facebook e comentei. Problema dos mais difíceis de se ter controle”

  5. Bela abordagem Maraci Santa’na, é raríssimo um profissional psicólogo orientar um paciente buscar a ajuda de um psiquiatra. A maioria não indica a necessidade de medicação controlada durante a psicoterapia. É verdade quando menciona sobre o preconceito contra psiquiatras e a utilização de remédios, já senti isso na “pele”. E sem medicação na maioria das vezes os sintomas só pioram e quando buscamos ajuda a doença muitas vezes já está num estágio avançado, é horrível!!!! Em conjunto com o tratamento psiquiátrico, vem o psicólogo: ai que bálsamo!!!! Um completa o outro!!! O psicólogo é de uma importância sem medida.
    Á leitora gostaria de dizer que já passei por relacionamento abusivo que me causou muitas, mais muitas mazelas. Ja rasguei e virei várias páginas. Mas tudo passa, nos fortalecemos, aprendemos com as dores e ficamos fortes e empoderadas. A psicoterapia é sempre minha opção para me fortalecer em momentos de grande fragilidade.
    Maraci, de grande valia a maneira como se expressa ao analisar as situações que passamos.
    Me indicaram o site: http://www.mentalhelp.com.br. Adorei!

    1. Bom dia ,Me chamo Roberto Carlos sou estagiário do quinto ano de Psicologia de Brasilia Faculdade IESB, concordo com a amiga Simone quando relata sobre a importância da parceria entre Psicologo Psiquiatra, mas discordo e lanço a presente reflexão de não generalizar,pois ate onde bem se sabe o Psicologo tende a indicar sim com a diplomacia de uma equipe multidisciplinar mas no entanto entanto ,mas no entanto tem mostra se ao mesmo preucupação relevante de que o acompanhamento não se resuma ao aspecto Psiquiátrico e medicamento onde trazer a compreensão das origens do adoecimento se torne tão impressionável quanto a ação de contensão e que uma não interdite a outra.

      1. Oi, Roberto Carlos. Simone e você entenderam bem. Algumas situações não exigem intervenção medicamentosa, mas outras exigem, como a Síndrome do Pânico. Há casos em que, sem a medicação correta, é impossível o trabalho do psicólogo. O importante é que o profissional que atender primeiro e fizer o diagnóstico faça a sua parte e, se necessário, encaminhe para o outro profissional. Nem sempre o paciente do psicólogo necessita de acompanhamento psiquiátrico, mas dificilmente o paciente psiquiátrico pode ficar sem acompanhamento do psicólogo. Eu mesma não conheço nenhum caso.

  6. Postado no FB por Antonio Einar Hansen: “Estamos vivendo tempos muito desafiadores, com preocupações e más notícias todos os dias. Temos que nos apegar nas mãos de Deus, confiar Nele e tentar tocar em frente. Mas que está difícil está. Que Deus nos ajude a encontrar dias melhores. DEPOIS DA TEMPESTADE VEM A BONANÇA, QUE ASSIM SEJA!!!!!!”

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*