RIBONDI

RIBONDI E O MEU ETERNO NAMORADO

Publicado em Espiritualidade, Filosofia, Psicologia

No sábado, Brasília perdeu um de seus mais ilustres cidadãos – Alexandre Ribondi, um mestre do jornalismo, dos palcos e das letras que teve uma trajetória marcante e fez história principalmente ao usar seu talento para tratar de temas delicados do dia a dia, inclusive os ligados à comunidade LGBTQIA+, enfrentando a ditadura militar, a falta de recursos, o preconceito, com inteligência, criatividade, generosidade ímpares.

 

Quando soube da sua morte, lembrei de um texto que publiquei em 2011, no Blog do Vicente, quando escrevia a coluna A Psicologia e o Dinheiro, que tratava de Psicologia com um gancho na Economia. Para ÍDOLOS DE VERDADE, eu me inspirei num escrito em que Ribondi falou do seu irmão mais velho de forma tão bela e íntima que não o publiquei antes que ele lesse e me autorizasse. Assim, ouso dizer que fomos parceiros, o que, para mim, foi uma grande honra!

 

Ele, ídolo de tanta gente, nunca será esquecido, nem por seus familiares nem por seus amigos nem por seus fãs! E peço que Deus lhe dê a alegria de, chegando de volta à Pátria Espiritual, poder se reencontrar, o quanto antes, com seu ídolo, seu irmão tão querido!

 

Você deixou saudade, Ribondi! Bravo!!!

 

 

ÍDOLOS DE VERDADE

                                                                                                                                                                                                               Maraci Sant’Ana

 

Na última quarta-feira, tive a felicidade de ler o seguinte texto do multitalentoso Alexandre Ribondi: “No meu primeiro dia de aula, eu usava calça curta azul e camisa branca. No bolso da camisa, estava bordado Grupo Escolar Aristides Freire. Na mão esquerda, levava uma pasta de couro e, dentro dela, um caderno e um lápis com uma borracha em forma de elmo enfiada na ponta. Com a mão direita, eu segurava a mão do meu irmão mais velho, que me dava forças para a nova grande experiência da vida. Durante toda a aula, eu via, no corredor, o meu irmão que me olhava, parado em frente à porta da sala. Enquanto eu viva, não vou esquecer, jamais, a ternura daquele olhar. Este meu irmão morreu o ano passado e eu ainda acho que tinha mais coisas para ele me ensinar.

 

Essas palavras chegaram pra mim no momento em que somos bombardeados com notícias sobre o astro teen Justin Bieber. Na semana passada, a Veja São Paulo publicou que os 5 mil ingressos da pista premium do Anhembi, para a primeira apresentação do cantor no Brasil, foram vendidos a 460,00 reais cada e em apenas 12 minutos! Essa tem sido a marca do rapazinho – ingressos, álbum, clipes, documentário que vendem como água e rendem milhões. E ele tem apenas 17 anos!

 

Ótimo para todos os envolvidos nesse projeto. Porque os fãs podem não se dar conta disso, mas JB tem uma tremenda equipe na retaguarda. Pessoas que entendem do show business, capazes de transformar quase tudo em ouro. É muito trabalho, muita gente, muita grana nesse milionário negócio. Se o jovem tem ou não talento, “são outros quinhentos”. Mas ele não deu início à lucrativa indústria de espetáculos.

 

Atire a primeira pedra quem nunca curtiu horrores uma banda ou cantor, quem nunca se apertou para comprar o último LP ou CD, quem nunca cantou, até perder a voz, os maiores sucessos, e saiu de um show sentindo a alma leve de tão lavada! Isso é lindo e faz parte da Vida! O problema está no exagero, nas atitudes sem sentido, nos milhares de adolescentes, crianças e até adultos pelo mundo afora que andam fazendo loucuras em nome da paixão pelo astro, gente que se submete a qualquer coisa para tentar chegar perto dele, que grita e chora histericamente à simples menção do nome do ídolo.

 

Fico triste quando ouço frases do tipo “Amo ele demais”, “Ele é minha vida”, “Ele é perfeito em tudo”. E fico estarrecida quando leio que, no México, garotas criaram página no Facebook oferecendo a própria virgindade em troca de um ingresso. É duro ver crianças idolatrando um desconhecido que elas acreditam conhecer. E é ainda mais duro ver pais tão despreparados para lidar com isso. Mães declarando “Ele é o genro que pedi a Deus!” e pais se endividando na compra de entradas caríssimas, passagens e hospedagens, perdendo dias de trabalho para guardar o lugar da criança na fila.

 

Pra mim, fica a sensação de se tratar de gente emocionalmente perdida. Nesses comportamentos exóticos e descabidos, o que percebo é um enorme vazio que a maioria dessas pessoas ainda nem identificou que tem, um espaço que poderia muito bem ser preenchido por um ídolo de verdade como, por exemplo, uma ou as três ganhadoras do Nobel da Paz deste ano que, segundo declarou o presidente do comitê Nobel norueguês, foram “recompensadas por sua luta pacífica pela segurança das mulheres e de seus direitos de participar dos processos de paz”.

 

Tudo bem! Entendo que a esmagadora maioria dos fãs de JB nem tem idade para entender a importância do Prêmio Nobel, para saber que a segurança das mulheres é objeto de luta ou para se preocupar com a paz no mundo. Mas um ídolo de verdade não precisa estar necessariamente envolvido com coisas assim. E um belo exemplo disso nos foi trazido pelo Ribondi, quando nos contou do irmão mais velho, que o acompanhou no primeiro dia de aula, que pacientemente o esperou do lado de fora, que se fez ternamente presente todo o tempo, que tanto lhe ensinou. Inesquecível!

 

Porque um ídolo de verdade é alguém que marca a nossa Vida, não apenas nos conquistando e fazendo com que nós o amemos, mas, principalmente, despertando em nós o amor por nós mesmos e pelas outras criaturas. Um ídolo de verdade é alguém que nos faz ter a certeza de que, não importa o quanto a Vida nos cobre, não importa quantos momentos difíceis tenhamos de enfrentar, jamais devemos perder a fé na Humanidade.

 

Se observarmos bem, todos temos nossos ídolos particulares. Se sairmos perguntando, certamente ouviremos menções a pais, mães, avós, tios, professores e até chefes, pessoas que poderiam ser classificadas de comuns, que não lançam moda, não dançam e jamais deveriam cantar, nem mesmo no chuveiro, que não são perfeitas exatamente por serem humanas, que não foram construídas por jogadas de marketing, que são o que são.

 

Conheço muitas pessoas admiráveis. Mas hoje quero falar de uma muito especial – meu primeiro namorado. Ainda tenho os LPs que ele me deu de presente, que curti dos 13 aos 16 anos. Ele sabia que eu adorava aquelas bandas. O que ele não sabia é que era ele o meu verdadeiro ídolo. Porque era ele quem me esperava na porta da escola e não apenas para ver a jovem namorada, mas preocupado com o percurso de volta pra casa, no já perigoso Rio de Janeiro dos anos 70. Era aquela mão tão jovem, mas firme, que eu segurava pelo caminho. Foi naquele peito ainda não adulto que muitas vezes chorei minhas inseguranças de garota. E foi acompanhada pelo riso dele que dei minhas melhores gargalhadas.

 

A Vida nos separou quando mudei, com minha família, para Brasília. Mas o tempo e a distância nada significaram para nós. Nesse período, sem que eu percebesse, ele continuou ao meu lado, em espírito, até que o caprichoso Destino nos reaproximasse. Hoje, 9 de outubro, meu maior ídolo completa 58 anos. E a mão que segura a minha é ainda mais firme e forte, resultado da maturidade, mas conserva a mesma juventude, a mesma suavidade, a mesma ternura que tinha aos 18. Não é à toa que eu o chamo de príncipe encantado. Obrigada por ser meu ídolo de verdade, meu eterno namorado!

 

Você pode comentar este texto logo depois dos anúncios, mesmo que você não seja assinante do jornal. Ou pode mandar um comentário para mim por WhatsApp no (61)991889002, para que eu o publique. Você também pode me enviar um texto que considerou interessante e que combina com este blog.

19 thoughts on “RIBONDI E O MEU ETERNO NAMORADO

  1. Claudia Pinheiro via WhatsApp: Perfeito o texto…essa geração perdeu o encanto…querem tudo muito rápido…eles não namoram…eles ficam…se perdem , e acham o máximo essa adrenalina toda… o famoso ídolo teem passou por várias mudanças drásticas na sua vida…de bonzinho a bad boy…suas loucuras no Brasil não lhe renderam muito…parece que melhorou depois de uma depressão profunda …lamento muito tudo isso.. não consigo entender essa geração …me desculpe…acho essa geração simplesmente inútil… possa está enganada, mas os pais são culpados…criança cresce ,por isso precisam de limites,respeito, carinho e compreensão…agora o seu relato é lindo…uma história de amor que vale a pena ser comemorada… acredito ainda no amor…quando ouço histórias de pessoas maduras… parabéns por toda sua trajetória de vida…feliz dia dos namorados ♥ para vocês…😘

  2. Regina Coeli via Whatsapp: Sábias palavras no texto dobre idolatria, desde jovem sempre achei os que idolatram turma do exagero. Tive e tenho ídolos, mas só de os ouvir ou ver pela TV ou num programa gratuito ou aquele que pude pagar e não me tirou da linha, já foi maravilhoso. Uma vez fui c amiga assistir Almir Satter q na época fazia baita sucesso e ainda jovem… menina qdo o homem subiu ao palco, show público, está amiga mudou completamente, parecia uma louca alucinada! creio q ela e maioria estouraram meus tímpanos, sai de lá rapidinho, pois entrei em pane! loucos!!! ou era eu que era carola?! elas q eram loucas! um homem simplesmente, canta bem, músicas lindas, mas me tirar do normal, tira não. Teve um tempo q fui apaixonada por Ney Matogrosso, ele não sabe, nas o conheci antes da fama qdo foi atendente(técnico endermagem) no Hospital de Base aqui em Brasília. Ele veio trazer notas de remédios dado aos pacientes naquele dia ei trabalhava nesta área de recepção destas notas. O rosto dele me cativou de imediato, achei que o conhecia de algum lugar, ia a poucos shows por morar em Tagua e ter pouco $$ rsrs. Tive todos LPs q pude comprar dele no Secos e Molhados, depois carrega solo. Nas vezes q veio a Brasília, tentei ir, ingresso estupidamente caro, tinha compromisso com contas a pagar e mais tarde filhos a cuidar. Não sou frustrada por não ir, minto! lembro ter conseguido ir num show, foi no Teatro Nacional, minha cadeira era lá atrás, mas de lá vi uma cadeira 2a fila vazia, corri e sentei, rezei para o dono não chegar, o show deu início e exalei paixão, mas comedida… assim q aprendi com meus ídolos, meus pais

  3. Marlene via WhatsApp: Tive o prazer de conhecer esse ser humano admirável. Que na outra esfera ele continue irradiando o melhor do que ele nos proporcionou aqui neste plano. Sua luz agora brilha ao lado do irmão amado! Seu sorriso contagiante, sua irreverência, seus conhecimentos ficarão eternizados entre nós.

  4. Sonia Maria Schartne via WhatsApp: Tenha um excelente dia!!! Obrigada pelos textos, obrigada por enviar faz muito bem a alma lê coisas boas, obrigada!

  5. Sueli via WhatsApp: Lindo texto!!!!!👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏😘😘😘😘😘😘😘Bom dia!!!!

  6. Fernando via WhatsApp: Li seu texto sobre o Ribondi e li o dele tb. Em breve mando um áudio comentando. Parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

  7. Fernando via WhatsApp: Olá, Maraci. Antes de tudo, eu não sabia que o Justin Bieber tinha apenas 17 anos!!!! 😯😯😯😯 Entendo que precisamos de ídolos ou pelo menos de pessoas que nos sirvam como referência. São pessoas com as quais podemos aprender, tirar exemplos do que fazer e também, como no caso do JB (Justin Bieber), preencher nosso imenso vazio existencial. O fato é que a idolatria por ele, o JB, assim como por outras pessoas é, na minha opinião, uma situação construída pelo mercado, pelo comércio. Pouco há de verdadeira admiração e muito menos de cumplicidade, fatos esses tão presentes no seu primeiro namorado que você relatou. Ali não teve a indústria do comércio obrigando você a idolatrar seu namorado. Você tinha sentimentos próprios e não construídos / moldados em relação a ele. Acho que a sua relação com seu primeiro namorado pode servir como parâmetro sobre a alegria de se admirar alguém com autenticidade. Sobre o Alexandre Ribondi, eu lembro que o primeiro contato que tive com ele foi quando eu era criança e ele era professor da única Cultura Inglesa que existia na época, na Asa Sul. Ele não foi meu professor, mas ele estava no apoio ao professor que estava aplicando a prova oral individual. Os que ainda não tinham feito a prova ficavam numa sala separada, sem poder ter contato com os outros que já tinham feito, que já tinham saído do “abatedouro”, como falávamos. Assim eles não poderiam nos dizer quais foram as perguntas e temas da prova. E, em um desses dias, o Ribondi ficou cuidando da gente na sala a espera da prova. Ele via como a gente estava nervoso e dizia que estávamos “em estado pastoso” de tão nervosos. Aí todos nós rimos um pouco. Além do Alexandre tenho vagas lembranças de ter esbarrado por lá com outro jovem ainda desconhecido na época, um tal de Renato Russo. Não posso dizer se era de fato ele, pois só o vi umas duas vezes, mas me chamou a atenção o casaco que ele usava repleto de broches (ainda não eram chamados de bottoms). Posteriormente, mais de 20 anos depois, assisti a uma peça do Alexandre, chamada , eu acho, “Judia de mim”, na saudosa e ainda fechada sala Alberto Nepomuceno, no fechado Teatro Nacional. Mais alguns anos depois, após ter comprado e lido com avidez o livro “Na companhia dos homens”, de Alexandre Ribondi, qual não foi a minha surpresa quando eu o vi e passei a ver com frequência o autor do livro passeando com um cachorro branco bem na calçada em frente ao bloco em que eu morava, na 412 norte. Liguei para minha irmã falando que eu era vizinho do Ribondi!!!! Ela sempre soube da minha admiração por ele. A minha timidez não me deixou pedir para ele autografar o livro, mas era uma honra vê-lo passeando com o cachorro. Eu não sabia que ele tinha tido um AVC. Fiquei triste com o falecimento dele. Também fiquei com raiva da minha timidez por não ter me deixado me aproximar dele. Torço para que os familiares lidem da forma menos dolorosa possível com a ausência dele. E que os fã, eu incluso, o tenham com referencial de luta, alegria e bom-humor. Alexandre Ribondi, Presente! 👏🏻👏🏻👏🏻

  8. Matheus Cellano via WhatsApp: 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻Deixou muita saudade. Estudamos no mesmo período na Dulcina 🥲 Que papai do céu compadeça de sua alma e o acolha na luz universal 🙏🏼

  9. Sara Rejane de Freitas Oliveira, via Gmail: Prezada Maraci, Primeira vez na vida que escrevo a um autor/autora para dar feedback sobre textos jornalísticos (timidez exacerbada!). Mas, dessa vez, não me contive! Coisa mais linda esse texto. Emoção pura. Quem já não teve uma mão assim em algum momento da vida? Melhor ainda que esse aperto de mão tenha perdurado em meio a tantos (des)caminhos da vida. Obrigada. Abraço, Sara

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