Recebi o texto abaixo do ALESSANDRO ABATE, da Agência de Comunicação da Uber, e achei muito interessante o que ele traz, assim como as mensagens reais via Twitter, transcritas sem os nomes dos usuários, todos de São Paulo, capital, que você pode ler na imagem destacada deste post.
É claro que, como bem diz o colega ADAM OLIVEIRA, a conversa de um passageiro aflito com um motorista de aplicativo não substitui o trabalho de um psicólogo. O trabalho do profissional vai muito além de ouvir o outro e fazer considerações como qualquer pessoa que veja o problema de fora. Mas vamos combinar que, muitas vezes, esses encontros podem até salvar uma vida.
Valeu, Alessandro e Adam, pelo trabalho e pela contribuição a este Blog! O espaço é nosso!
“Hoje, 27/8, é comemorado no Brasil o dia do psicólogo, em homenagem à regulamentação da profissão por aqui, sancionada em 1962 pelo então presidente João Goulart. E esses profissionais, que buscam compreender as angústias e inquietações das pessoas, não são apenas aqueles que atendem em seus consultórios.
A presença e atuação de profissionais da Psicologia é importante e rica nas mais diversas áreas. Há o trabalho em escolas, em empresas e corporações, em hospitais, em pesquisa, no esporte, na educação, na área jurídica e em diversas outras, sempre por credenciados Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Segundo o último relatório global da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população) no Brasil, enquanto distúrbios relacionados à ansiedade afetam mais de 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população). Em 2016, cerca de 75,3 mil trabalhadores foram afastados pela Previdência Social em razão do mal. Hoje, o país é considerado o campeão de casos na América Latina.
No meio de uma rotina de estresse, falta de tempo e esgotamento emocional, muita gente ainda confunde aquele ombro amigo com um profissional preparado para lidar com isso. Dentro de um Uber, por exemplo, é comum que os usuários aproveitem as viagens para desabafar dos problemas da vida, muitas vezes comparando os motoristas a psicólogos de forma equivocada.
‘Acho essa preocupação em não confundir papéis bastante valiosa. Enquanto eu dirijo, as pessoas não falam tanto, mas quando descobrem que sou psicólogo elas começam a comentar coisas do tipo: quem anda com você deve desabafar bastante, né?’, explica o psicólogo Adam Oliveira, que também dirige pela Uber na cidade de Santos (SP).
‘Acho válido aproveitar minha formação como psicólogo para entender o quanto a saúde mental deve ser valorizada dentro do carro para que uma viagem cordial sempre possa ser possível. Nada mais do que uma bela conversa amistosa entre as partes. Mas a terapia eu deixo para o consultório’, completa.
Adam entende que é fácil aproximar a figura do psicólogo a quem escuta desabafos, mas ressalta que a profissão requer muito rigor, e diz que qualquer credenciado da área se sentiria incomodado com a comparação, mesmo quando o motorista ajuda os passageiros ao ouvir com atenção qualquer episódio dentro do carro.
Confira as dicas do psicólogo Adam Oliveira para ajudar em um desabafo de rotina, sem assumir o papel de psicólogo:
1- Se você assim como eu está assumindo o papel de motorista particular por aplicativos, a primeira dica é sempre oferecer acolhimento. Não corte o desabafo da pessoa, não interrompa as falas e se você encontrar um momento em que o passageiro chore por conta de seu desabafo, apenas ofereça o que estiver à mão em seu carro (Água, lenços). Você não precisa ficar totalmente em silêncio, mas emitir opiniões sobre o que o seu passageiro está desabafando tem alta probabilidade de ser recebida de forma negativa por ele; acostume-se com frases como: “Posso imaginar” e “É uma situação delicada”. É comum que nós tenhamos em diferentes níveis alguma intolerância ao sofrimento alheio, por isso tentamos rapidamente conter os desabafos/choro/sofrimento das pessoas a nossa volta. É doloroso aguentar assistindo. Mas o choro é uma manifestação fisiológica necessária, nós adultos temos a mania de evitar e até mesmo esconder o choro para não demonstrar fraqueza ou qualquer outra crença que nos faça pensar que o choro não pode ou não deve acontecer.
2- Se você é um passageiro, que está passando por tempos difíceis e tem que lidar com muitas adversidades, que encontrou no carro por aplicativo um momento particular para desabafar. Minha dica é que, nesse caso, você está de fato precisando dar alguma prioridade para organizar suas ideias e disposições. Mas está jogando em uma roleta russa quando escolhe a viagem Uber como ambiente para expressar suas emoções ou contar com a empatia de outra pessoa. Seus motoristas geralmente possuem formações muito diferentes entre si. Vão de engenheiros à fotógrafos e por vezes psicólogos. Eles não necessariamente possuem alto grau de habilidade de acolhimento e de escuta qualificada(1). Isso faz com que nem sempre seu sofrimento vai ser ouvido sem algum julgamento ou um aconselhamento que pode não se adequar ao seu estilo de vida em particular. Outro aspecto muito importante é que durante a viagem o momento calmo e particular para você, se compararmos com outras soluções de transporte urbano. Seu motorista está dirigindo e prestando atenção aos inúmeros estímulos visuais e auditivos que o trânsito demanda, portanto seu motorista vai precisar gastar um pouco mais dessa atenção (que é limitada) para te proporcionar uma viagem segura. Acolher de forma satisfatória considerando estas condições é difícil e também bastante improvável. É mais adequado que você considere reservar um espaço no seu cotidiano para considerar um momento para si em um ambiente controlado e com uma condução terapêutica. Na minha área, costuma-se dizer que o primeiro passo da psicoterapia é cogitar ela.
(1) Habilidade de escuta treinada para encontrar pontos específicos do discurso que oferecem subsídio adequado para condução terapêutica.
Alessandro Abate”
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