Estava evitando falar sobre isso, mas acho que devo algumas respostas aos amigos deste círculo. Sansão, o cachorrinho que aparece aí na foto, faleceu em julho passado, me atirando num vazio que demorei a compreender. Com seu 1,6 kg, produziu uma influência poderosa sobre mim, em minha alma. Ao seu modo, me domesticou e me fez mais humano. Partiu de repente: adoeceu no sábado; no dia seguinte, ao meio-dia, já não estava entre nós. Pancreatite, o diagnóstico. Certa vez, quando o tomei cheio de vida em meus braços, pensei: há uma chance de eu partir primeiro, e será melhor assim. O destino não quis. Espero que a Ceifadora me conceda, quando for a hora, licença pra brincar com ele no céu dos animais, onde acredito que esteja correndo atrás de uma bolinha.
Conheço essa dor. Também já perdi criaturinhas queridas como o Sansão do Bartolomeu. E imediatamente lembrei de um texto que escrevi para uma amiga que tinha acabado de ver partir um de seus cachorrinhos. Sei que só o tempo atenua a tristeza que a morte traz, mas espero que a leitura de Puff ajude a consolar não apenas o coração do Bartolomeu, mas de todos aqueles que passaram por essa dor. Não acredito na morte como o fim, mas como a primeira etapa do recomeço. E acredito que as almas ligadas pelo amor se reencontram de alguma forma, sempre. Isso me consola e dá forças pra seguir em frente.
PUFF
Publicado no Tribuna do Brasil de 27/7/2007 Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando…com Maraci.
Na semana passada, minha amiga Dalva Helena perdeu um companheiro – morreu Puff, um de seus “meninos”, um poodle todo branquinho e fofo de onze anos. Ela ficou bem triste, como era de se esperar – chorou muito, mesmo sabendo que a morte não é o fim.
O tamanho da tristeza dela me comoveu. Também tenho três gatos que são pra mim tal qual filhos. Diferentemente de outras pessoas, não vejo Frajola, Menininha e Docinho como fontes de trabalho e despesa. Nós trocamos carinhos e eles me trazem muitas alegrias. São meus parceiros de vida, verdadeiros e amorosos.
Muitos questionam a legitimidade desse tipo de relacionamento, de amor, entre um ser humano e um animal. E, em caso de morte, acham que uma grande dor só é cabível se se tratar de um parente querido ou um amigo muito próximo.
Lembro de uma paciente que estava péssima por ter sentido mais a morte do seu cachorro do que a da própria mãe. Era difícil, até mesmo para ela, entender uma coisa assim, embora o cão tenha sido um grande amigo e a mãe a tenha prejudicado terrivelmente.
Essas reflexões me fazem lembrar outra amiga que também adora cães, já tem um e, se pudesse, adotaria todos os que encontra pelas ruas. Um dia, ela me ligou angustiada, sentindo-se uma pecadora, por não ter o mesmo carinho e disposição para acolher uma das muitas crianças que estão também abandonadas. A predileção pelos animais a estava incomodando.
Acredito que, neste mundo, precisa haver todo tipo de gente – as que adorem crianças, as que curtam idosos, as que amem animais, as que prefiram se cercar de plantas. Acredito que, neste mundo, precisa haver todo tipo de gente para se ocupar e dar amor a todo tipo de criatura.
Não importa a qual espécie de ser ou a quem você dirige o seu amor. Não importa se prefere uns a outros. Chegará o dia em que nós todos nos amaremos verdadeiramente, sem distinção. Mas, até lá, não devemos nos prender àquilo que não conseguimos ainda. Devemos amar quem, como e quanto pudermos. E nos alegrar com essa conquista porque é isso o que a capacidade de amar representa – uma conquista.
Conforme dito pelo Espírito Joanna de Ângelis, no livro Amor, imbatível amor, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco, o amor é a substância criadora e mantenedora do Universo; que, quanto mais se divide, mais se multiplica; que se enriquece à medida que se reparte; que se agiganta na razão que mais se doa; que se fixa com mais poder quanto mais se irradia; que nunca perece porque não se enfraquece.
O amor está presente em todos os seres – os ditos racionais e os ditos irracionais, variando apenas de expressão e de dimensão. Ele une almas, alimenta corpos e nutre o nosso Eu profundo. Por isso é importante que esse sentimento seja lançado no mundo. Quanto mais amor, melhor.
Então, a você, Dalvinha, tenho a dizer que essa tristeza passará, como você bem sabe. Mas o amor que você dedicou ao Puff e o que ele dedicou a você permanecerão para sempre. E todos continuaremos a ser, indistintamente, por ele tocados. Temos muito a agradecer aos dois.
Psicóloga e palestrante, Maraci Sant’Ana (61) 99188.9002
é responsável pelo Blog Consultório Sentimental do site do Correio Braziliense desde 2017.
16 thoughts on “POUR PUFF, FRAJOLA, SANSÃO E TANTOS OUTROS AMORES”
Obrigado por este texto. Ficamos comovidos em nossa família.
Também fiquei comovida com a dor de vocês. Mas sei que Sansão está bem!
O amor pelos animais é genuíno. Só tendo um animalzinho para entender.
Belo texto! Todos nós, que amamos os animais, sabemos o quanto é difícil a chegada desse dia.
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá
Não estou pronta para perder meu Jack…
Ninguém nunca está.
Mais um grande texto da Maraci. Essa mulher escreve bem demais. Sabe radiografar a alma humana. Parabéns. Lembrei dos meus filhos quando se foi o gatinho deles , o Luke, nome dado em homenagem ao Skywalker. Era um gato fino elegante e sincero.
Obrigada por suas gentis palavras, Gustavo! O Luke está no “céu” porque certamente era um anjo. Todos eles são anjos!
Tenho cachorros que amo. O Pingo e a Caroço fazem parte da família, mas mesmo tendo eles comigo sinto muita falta do meu Buck que morreu com câncer na garganta. Acredito que nenhum irá tomar o seu lugar porque cada um é único com seu modo de ser e de dar carinho. Cada um é especial e inesquecível.
remetido via WhatsApp por Renata Cecchio: Lindo texto Maraci! Como sempre escrevendo com o coração. ??
remetido via WhatsApp por Ana Glória: ???❤adorei
remetido via WhatsApp por Rose Inah: Muito triste perder estes companheiros ?
remetido via WhatsApp por Amélia Alves: Lindo
remetido via WhatsApp por Adriana Ziller: Amei!!!?
Débora Laura via WhatsApp: Muito lindo seu texto. O amor é indistinto e amar os animais e a Natureza é uma extensão do amor que aprendemos a ter pelos humanos. Um gatinho que viveu comigo por apenas 11 meses me ensinou a ampliar meu amor e depois que ele se foi passei a amar muito mais todos os animais e, por consequência, os seres humanos. Os animais são puros e não nos enganam, qdo gostam, gostam e não têm atitudes de adulação interesseira como as pessoas. Por isso acho que amar um animal é muito mais fácil. Eles são grandes Mestres para quem conseguir abrir seu olhar e seu coração a eles. Sobre a perda da Solange tb já passei por isso mas ficar se questionando se agiu certo ou não só nos enche de culpa. Acredito que tudo tem sua razão neste mundo e nada acontece por acaso. Devia ser a hora da Julie ir embora, mas vale o alerta sim. Infelizmente, até clínicas consideradas boas erram. Fique bem e saiba que a Julie nunca sairá do seu coração e nem você do dela.❤️