Esfinge de Tebas 2

O VAZIO NO PEITO E A ESFINGE DE TEBAS

Publicado em dores emocionais, Filosofia, Psicologia, transtornos

Sempre que abro o Google e olho as notícias, encontro alguma coisa sobre a morte de alguém, que não teve a causa revelada, o que me leva a pensar em suicídio consciente ou inconsciente. E quem trabalha em consultório como eu sabe que a maioria dessas pessoas, antes de tirar a própria vida, vinha dando indícios de que havia algo muito errado, inclusive verbalizando sobre a sensação de um “buraco” no peito, um “vazio” infinito e tremendamente doloroso.

 

Volta e meia falo neste Blog sobre esse “buraco”. Em SENDO A PRÓPRIA ESTRADA, estabeleço uma relação entre distúrbios psiquiátricos e o chamado “vazio interior” ou “vazio existencial”. Assim, quem sofre com essa sensação deve imediatamente procurar a ajuda de um psiquiatra, para que um eventual transtorno seja tratado, e de um psicoterapeuta, para que o “vazio” seja decifrado. Porque esse tipo de “buraco” lembra muito a esfinge de Tebas, do antigo mito grego, que exigia dos transeuntes a elucidação de um enigma dizendo-lhes “Decifra-me ou te devoro”.

 

Assim é o vazio interior – ou o desvendamos ou ele nos engole. Talvez essa minha afirmação não traga nenhuma novidade, mas há um detalhe e entendo que é aí que muitos pecam, quando colocam o enigma no centro de suas vidas e encaram seu deslindamento como sua maior, sua principal missão, aquela que exigirá todos os seus esforços, toda a sua energia, cujo cumprimento é requisito para que seu mundo volte a girar, sem o qual nada mais de bom e importante encontrará espaço para acontecer.

 

Lembro do texto “A IMPORTÂNCIA DO QUE NÃO TEMOS”, que publiquei em 2006, em que falo sobre a morte de Sandra Arantes do Nascimento, vítima de câncer de mama. Muitos acompanharam a disputa judicial travada por ela para que Pelé a reconhecesse como filha. A paternidade foi confirmada, o nome dele foi acrescentado ao dela, mas o vazio da jovem nunca foi preenchido. E ela teria dito, na véspera de sua morte, que seu último desejo era ver o pai ou receber um telefonema dele. Sua mãe teria entrado em contato com Pelé, sem retorno. Ao velório, compareceu apenas uma coroa de flores em nome dos funcionários da empresa do rei do futebol.

 

Sandra tinha muito mais do que a maioria das pessoas tem – uma mãe que, mesmo sozinha, a colocou no mundo e criou, marido e filhos. Fazia a faculdade dos seus sonhos e, como vereadora de Santos, conseguiu aprovar um projeto para realização gratuita de testes de DNA para pacientes da rede pública, o que já ajudou muita gente. O câncer que a matou pode ter sido o resultado do sofrimento dela por não ter conseguido a atenção, o carinho, o amor do pai. A doença a levou e ela deixou para trás todos os que a amavam, tudo o que havia conquistado, tudo o que havia construído.

 

Se não refletimos e ampliamos nosso olhar, tendemos a focar o que de ruim nos acontece, as dores, o que não temos e acreditamos que nos faria felizes. E, como se isso já não fosse péssimo, costumamos lançar mão de qualquer coisa para preencher esse vazio, como drogas lícitas e ilícitas, e pessoas que mesmo parecendo boas num primeiro momento, trarão para nossas vidas mais sofrimento, aumentando o “buraco”, num círculo vicioso difícil de suportar que poderá nos tirar a vida.

 

Todo mundo tem um vazio que dói mais ou menos, sempre ou de vez em quando. É incômodo, mas, como tudo tem dois lados, mexe com as nossas estruturas e, se tivermos sabedoria ao lidar com ele, grandes lições aprenderemos porque ele nos traz questionamentos e são as perguntas que nos movimentam, que movem o mundo, não as respostas que encontramos na zona de conforto.

 

O “buraco” no seu peito está doendo muito? Procure ajuda profissional com urgência e leve a sério o tratamento. Logo você estará se sentindo melhor porque a medicação que será prescrita pelo psiquiatra o ajudará, inclusive a se beneficiar da psicoterapia e a pensar e conversar sobre esse vazio apenas nos dias de consulta. Como bem dito por Nietzsch, quando você olha demais dentro de um abismo, o abismo olha dentro de você. Então, não se arrisque a olhá-lo sozinho, sem apoio, sem amparo. Nos dias em que não tiver consulta, dê ao “vazio” a importância que ele tem, nem menos nem mais. Coloque-o no seu devido lugar e toque a vida. Ocupe-se de outros assuntos, de tudo o que já preenche você.

 

O enigma do vazio precisa ser desvendado, mas com inteligência, com estratégia. Essa dica é importante para mantermos a sanidade. Lembra da esfinge de Tebas, que dizia aos transeuntes “Decifra-me ou te devoro”? Não decifrar resultava o fim da vida do passante, mas, decifrar, e aí estava o grande lance, garantia ao esperto um incrível e fortalecido recomeço. Pense nisso!

 

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13 thoughts on “O VAZIO NO PEITO E A ESFINGE DE TEBAS

  1. Eu acho que o grande mal dos tempos é focar no que não temos, no que queríamos perto e que hoje ou sempre estará inacessível. O texto é brilhante quando diz tem hora certa para olhar pro abismo é preciso ter o apoio de um profissional e ter a coragem de se cuidar.
    A gente sonha e quer um tipo de vida ou um tipo de relação com nossos pais ou outras pessoa, mas ás vezes a vida é como ela é.

  2. Fernando via WhatsApp: Gostei muito desse seu texto! Tirando a parte que leva a nos lembrar dos suicidas, a parte que menciona o vazio se aplica muito aos que sentem os resultados da solidão. Eu sinto o vazio da solidão mas, eu tenho outras coisas para dar atenção na minha vida – então – o problema da solidão fica para os cuidados terapêuticos mesmo.

  3. Boa noite! Gostei muito da sua reportagem sobre “O VAZIO NO PEITO E A ESFINGE DE TEBAS”. Não querendo incomoda gostaria de receber mais artigos sobre o assunto. “Me impressionou bastante”. Continue escrevendo! Assim, você ajudar muitas pessoas. Obrigada!

  4. Wagner Luís Pinto via WhatsApp: Oi, Mara, seus textos, entremeados de elementos de cultura e conhecimento técnico, repassam experiência e aconselhamentos profissionais. Gosto muito do paralelo entre esfinge de Tebas e o vazio que invade as pessoas, neste mundo conturbado em que vivemos. Levante a mão quem não tem esse buraco! Isso confere atualidade, universalidade e adequação. Um texto que vai direto ao ponto. Interessante que a esfinge – corpo de leão e cara de humano – mostra a fera que representa o buraco de nosso tempo, e que atinge os humanos. É possível e é preciso vencer essa fera, como fez Édipo, ganhando, com isso, o trono, ou seja, a libertação, dele e da cidade ameaçada. É assim que acontece com os humanos. Quando um se liberta, todos deixam de ser ameaçados. A decifração do enigma por Édipo mostra que temos que usar de inteligência, de estratégia para superar ou preencher o vazio do buraco. Não dá para encará-lo sem ajuda, sem amparo, como você alerta. Não dá para esquecê-lo. A esfinge é uma ameaça constante. Temos que nos ocupar dela. Mas, cuidado para fazer dela uma obsessão, o que pode levar à loucura. O buraco é mais embaixo! Parabéns, Mara. Os humanos agradecem.

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