Quando recebi, do leitor José Haroldo Segalla, o vídeo que intitulei O CORPO, A MENTE E A PENA, fiquei encantada com a interpretação dada por Miyoko Shida Rigolo ao Sanddorn Balance. O espetáculo é pura poesia, cheio de leveza, delicadeza, precisão, firmeza e um equilíbrio fantástico na montagem de uma estrutura feita com apenas algumas costelas de palmeira e uma pena.
São quase oito minutos em que ficamos de dedos cruzados e com a respiração suspensa. E não resta a menor dúvida de que aquela performance só é possível graças ao corpo e à mente finamente preparados e em harmonia da artista.
Durante o espetáculo, eu pensava como seria maravilhoso se conseguíssemos levar, para a vida, aquela capacidade de planejar de forma tão cuidadosa, aquela tranquilidade, aquela paciência, aquele equilíbrio. O sentimento que me veio foi o de que, dessa forma, poderíamos realizar qualquer coisa, tudo o que quiséssemos. Um ótimo exemplo a ser seguido.
Mas não foi só a montagem da estrutura que chamou minha atenção. Impossível não reparar na rapidez, na facilidade com que tudo se desfez. Naquele momento, o que veio à minha mente foi que, por mais que estejamos preparados e por mais cuidadosos que sejamos, se construirmos nossa vida tendo por base um único pilar, podemos ver tudo desmoronar num puxar de pena.
Em consultório, essa situação é recorrente. Pessoas completamente desestruturadas por terem vivido em função do trabalho, ou dos filhos, ou do companheiro, ou da família de origem. De repente, algo acontece e elas se sentem como naquela música: Meu mundo caiu e me fez ficar assim…
É o homem que só se ocupou do trabalho e não sabe o que fazer da vida quando a aposentadoria é inevitável; é a mulher que se dedicou exclusivamente a criar os filhos e fica perdida quando eles crescem e caem no mundo; é alguém que viveu para o companheiro e, de repente, é surpreendido por um pedido de divórcio ou pela viuvez.
Tudo é importante e merece atenção – as relações com nossos pais, irmãos, avós, tios, primos; as relações com a família que construímos; a profissão que escolhemos; o trabalho que nos dá o sustento; o exercício da fé que nos preenche e fortalece; os amigos que cultivamos; as ações sociais que desenvolvemos; os passatempos que nos ajudam a desestressar.
Vamos imaginar duas mães sofrendo a maior dor que uma mãe pode sofrer, que é perder um filho. Só que uma tinha vivido pra criar aquele filho, esquecida de que mãe é uma pessoa com várias outras necessidades além das que são supridas pela maternidade. E a outra, além do filho, tinha um casamento amoroso, uma carreira, amigos, cantava em um coral, era ativista dos direitos humanos, frequentava uma academia.
Nenhuma das duas vai esquecer o filho perdido. Nenhuma das duas vai deixar de sentir saudade. E não acredito que a segunda venha a sentir menos dor que a primeira. Mas qual delas tem mais chance de conseguir seguir em frente apesar da tragédia vivida?
E também é imprescindível estar atento para manter os pilares sempre fortes. Não basta, por exemplo, casar. É preciso fazer o casamento valer a pena sempre, encontrar tempo e espaço para conversar, namorar, manter a chama. Porque, mesmo que você tenha um trabalho que exija muito ou um monte de filhos, você é muito mais do que um profissional ou um pai ou uma mãe. Nenhum pilar deve ser negligenciado.
E aí? Sobre quantos pilares você está construindo a sua vida? E como vem cuidando de cada um deles?
10 thoughts on “NOSSA VIDA, NOSSOS PILARES”
Excelente reflexão esse vídeo, nos faz pensar em equilíbrio, serenidade, paciência, inteligência… Todos pilares necessário para pensarmos como estamos construindo nossa vida!!! Amei Mara parabéns pela matéria
Me lembro mesmo de vc falar, em seu consultório, que a vida da gente precisa estar amparada em vários pilares, pq na falta de um temos outros para nos sustentar. De fato, muitos de nós ficamos estruturados somente no trabalho ou na família, deixando de lado, por exemplo, o lazer, os amigos, a individualidade e/ou demais interesses próprios. Difícil mesmo tocar a vida qdo nos falta esse ponto de sustentação.
Seus textos, muitas vezes, vestem direitinho a gente. Parece que foram escritos sob medida. ?
remetido via WhatsApp pelo leitor PE: Sempre digo que a vida nos apresenta muitas variáveis e entendo que é preciso atenção aos ajustes que a vida nos impõe! É verdade tb que precisamos criar pilares para sustentar as imprevisibilidades/adversidades que de certa forma venham afetar ou comprometer parte ou a totalidade dos pilares já construídos na vida.
Remetido via WhatsApp por Rose Inah: É isso mesmo não podemos nos dedicar inteiramente a um só pilar…..quanto mais nos dedicarmos aos vários pilares que a vida oferece… mais fortes ficaremos, gostei muito do texto que você escreveu no nossa vida, nossos pilares ???
Amei… dos melhores textos que você já escreveu. Inspiradíssima, obrigada!
Eu que agradeço, Adriana, não apenas o elogio, mas as suas contribuições para o nosso Blog!
Remetido via WhatsApp por Lau: Refleti sobre os vários pilares também. Confesso que são poucos. Percebi isso quando me aposentei. Um dos pilares são os amigos, mas muito poucos, apesar de acharem que tenho muitos. Não, amigos eu conto nos dedos. Tá bom, 4 mãos. Mas não passa disso. A família é um pilar do qual não tenho dedos em 10 mãos. Graças a Deus. Falta-me fortalecer o pilar da espiritualidade. O do trabalho foi construído pela minha vida. Agora, passa a ser efêmero. Mas foi importante para eu realmente conhecer quem são meus amigos. Pronto. Fim.
Sandra via WhatsApp: Oi Maraci! Isso mesmo! Antes dos lutos, já tinha esses pilares, então, está sendo mais tranquilo passar por essa fase.
Gloria via WhatsApp: Muito bom.