MÃE É MÃE

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Há onze anos, publiquei o texto abaixo, pensando nas mães que sofrem por não serem exatamente como imaginam que deveriam ser, o que, muitas vezes, corresponde à mãe que tiveram ou pensam que deveriam ter tido.

Mais de uma década depois, meu texto continua atual. Muitas ainda sofrem por esse motivo.

Mãe é mãe

Na quarta-feira, gravei um programa de TV especialmente dedicado às mães. Nele, o entrevistador me perguntou a respeito da situação da mulher que também trabalha fora de casa, dividindo o tempo entre a profissão e os filhos. Como administrar o tumulto emocional que essa repartição costuma provocar?

Essa situação nunca é fácil para mulher nenhuma. Há aquelas que nem chegam a entrar em conflito porque não podem se dar ao luxo de parar de trabalhar. Mas, para outras, o negócio fica complicado, já que se dedicar só aos filhos é uma opção. O que fazer? O que priorizar?

Acompanhar as crianças até que elas se tornem, pelo menos, um pouco independentes, correndo o risco de se frustrar terrivelmente ou de não mais conseguir retornar ao mercado de trabalho, que fica cada vez mais difícil? Manter uma vida profissional, abrindo mão de momentos importantes da vida dos pequenos, que não mais se repetirão?

O fato é que toda mulher quer ser a melhor mãe do mundo. Sonha acertar sempre, transmitir aos filhos todo amor e toda sabedoria que ela tiver ou puder obter. Mas não há uma receita. Ninguém pode garantir que se dedicar apenas às crianças trará um resultado melhor do que aquele que poderia ser obtido por uma mãe que também trabalha e estuda. Assim como ninguém pode garantir o contrário.

Sou de uma geração que lutou por mais independência para a mulher, que sempre defendeu a ideia de que precisamos trabalhar fora de casa, crescer profissionalmente, mesmo que à custa de alguns sacrifícios, inclusive no que diz respeito à maternidade. Mas confesso que cheguei a balançar com coisas simples.

Lembro de me pegar pensando que raras foram as vezes em que fui para a cozinha preparar uma comida especial para o meu filho único. Até hoje, recordo-me dos pratos que minha mãe, famosa na arte de cozinhar, tão carinhosamente fazia. Sentia como se, de certa forma, houvesse falhado na criação dele. Além de viver ocupada, com atividades nada maternais, eu, definitivamente, nunca tive a culinária como meu forte, nem mesmo remotamente.

Acontece que, noutro dia, cheguei a casa tarde, como sempre, e encontrei o apartamento com aquele cheirinho delicioso de biscoito doce assado. Na cozinha, encontrei meu filho já ao final de uma experiência gastronômica. Como se tratava de um ensaio, o resultado não foi bem o que ele esperava, principalmente porque as bolachinhas ficaram meio sapecadas. Só que elas estavam uma delícia e eu comi o quanto pude, dando a maior força para a continuidade dos experimentos.

É verdade. Realmente, eu não sou como minha mãe, uma grande cozinheira. Na minha casa, o chef tem 18 anos e se chama Igor. Mas, em compensação, minha mãe não nos dava essa liberdade para incursões na cozinha, que era um reduto exclusivo dela. E quando alguém tentava e não conseguia nada tão bom quanto o que ela costumava fazer, era logo desencorajado. Aí percebi que, à minha maneira, eu também sou uma boa mãe no que diz respeito às artes culinárias, assim como Dona Aracy, só que de uma forma diferente.

Cada ser é único. Cada mãe é única. Cada filho é único. Meu filho não guardará a lembrança de pratos deliciosos por mim preparados. Mas, certamente, lembrará de uma mãe entusiasta, que o encorajava a desenvolver um talento que parecia não ter lugar na nossa casa. Só parecia.

Neste universo infinito, há lugar para todas nós. Não precisamos e nem devemos viver agarradas a padrões. Como diriam os franceses, “Vive la différence!”. Parabéns a todas as mães!

Publicado no Tribuna do Brasil de 11/5/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando…com Maraci

MARACI SANT'ANA

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