HERÓIS E BANDIDOS

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Adoro novela. Quando jovem, eu me via nas tramas. Hoje eu a elas assisto para descansar, não pensar em nada sério. Mas algo tem chamado minha atenção em Terra e Paixão, não na história propriamente dita, mas na reação do público provocada por dois personagens – Ramiro e Kelvinho, muitíssimo bem interpretados por Amaury Lorenzo e Diego Martins. Eles estão apaixonantes!

Os telespectadores riem das trapalhadas dos dois e chegam a se enternecer com Ramiro, que se apaixonou por Kelvinho, mas sofre por não aceitar a própria orientação sexual. Assim, por estarem se divertindo ou sensibilizadas com o drama do capataz, as pessoas terminam torcendo para que eles tenham um final feliz juntos, esquecidas de que Ramiro já torturou, matou e tentou matar algumas pessoas por dinheiro, do que ele até se orgulha, e que Kelvinho sabe de tudo, mas não se importa com isso.

E esse fenômeno acontece na vida real. Há alguns anos, tive uma paciente ainda jovem que vivia um relacionamento com um bandido do tipo barra pesada. Ele nunca chegou a dizer a ela, com todas as letras, que já havia matado muita gente e vivia do tráfico, ou seja, do vício, da fraqueza, da desgraça alheia. Ele só dizia que estava metido em algumas roubadas.

O que ela sabia sobre as atividades dele havia sido insinuado aqui e ali por vizinhos e conhecidos. Só que ela, uma pessoa de bom coração, totalmente do bem, pensava que as coisas não deveriam ser tão ruins assim. E seguia apaixonada e esperançosa na construção de uma família com ele. Então, vou me arriscar a fazer algumas considerações, colocando em foco as mulheres, e gostaria da opinião de vocês sobre o assunto.

A maioria das mulheres cresce desejando se casar com um herói, alguém que irá apoiá-la e dela cuidar nos momentos de dificuldade; alguém forte, capaz de tomar decisões difíceis, que seja respeitado por seus pares, corajoso, ousado, sem medo de correr riscos para atingir seus objetivos. Os heróis precisam ser assim, para proteger, para salvar. Assim também precisam ser os bandidos, para ganhar dinheiro, para se manterem vivos e fora, bem longe, das grades.

Ambos fascinam pela força, pela coragem, pela capacidade de realização. Mas, entre o herói e o bandido, existe uma enorme distância no que se refere às intenções, aos valores morais, à consciência quanto às leis que regem o Universo. E isso pode ser facilmente observado quando paramos para avaliar o conjunto da obra, exatamente o que os apaixonados não fazem. Porque, quando nos apaixonamos, vemos só o que queremos ver, ouvimos só o que e quem queremos ouvir e depositamos nossa confiança, nossa segurança e nossa vida nas mãos de quem mal conhecemos ou até de quem nada sabemos além daquilo que a própria pessoa nos conta.

Até mesmo quando o nosso amado começa a se mostrar como verdadeiramente é, continuamos ali, agarradas à nossa fantasia de que se trata de um herói, só que incompreendido como o incrível Hulk, que vai a qualquer momento se revelar doce, gentil, amoroso como Bruce Banner. No fundo, no fundo, bem lá no fundo, uma alma boa. Mas, nessa toada, muita gente termina em uma situação extremamente delicada perante a sociedade, perante a Justiça. Isso quando não perde a vida.

Estou sempre repetindo aqui que precisamos ter respeito, cuidado, amor por nós mesmas. Isso inclui procurar conhecer o mais possível a pessoa com quem estamos iniciando um relacionamento; quem colocamos na nossa vida e na vida daqueles que amamos; quem colocamos na nossa casa; quem colocamos na nossa cama. Se a pessoa por quem estivermos interessadas for alguém emocionalmente saudável, entenderá as nossas precauções e estará fazendo o mesmo. Mas, se não for, arrepiará carreira.

Todos os dias vemos mulheres mortas por seus companheiros. Muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se algumas poucas precauções houvessem sido tomadas. Então, fique atenta e, se sentir que sua vida está tomando esse rumo, procure ajuda profissional para conseguir se salvar! Há mais coisas nesse tipo de situação do que supõe nossa vã filosofia.

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MARACI SANT'ANA

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