E 2024 chegou! Que maravilha! Sempre adorei passagem de ano, de brindar para me despedir do que termina e saudar o que começa. Como disse Carlos Drummond de Andrade em O Tempo, “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente”.
Nada melhor do que sonhar, fazer planos em qualquer época, em qualquer dia. Mas, na passagem de ano, é especial. Talvez por estarem todos fazendo isso, talvez porque acreditemos que algo mágico acontece quando o relógio bate meia-noite, como se conseguir chegar a um novo ano fosse o equivalente a pular uma fogueira que finalmente ficou para trás, como se tivéssemos recebido um caderno novinho para reescrever a vida.
Muitas pessoas gostam de estabelecer propósitos nesse recomeço. E é muito bom que o façamos, mas que não deixemos as nossas intenções só na mente, que as coloquemos num papel que devemos manter à mão, não no fundo de uma gaveta como uma coisa qualquer. Afinal, nele estarão gravadas nossas mais caras aspirações para essa nova fase. Isso é importante e ajuda na ativação do nosso cérebro na direção dessas realizações. Dali pra frente, basta colocar a mão na massa, com vontade, com determinação, e correr pro abraço. Certo?
É assim que costumamos pensar, mas há algo que eu considero fundamental fazermos antes de começarmos a trabalhar nessas realizações. Estou falando em pegarmos a nossa lista para uma reflexão sobre cada projeto, sobre ele ser uma novidade ou já ter feito parte de outra ou de outras listas nossas de desejos para um novo ano. E, quer saber, fazendo isso, perceberemos que muitos nos acompanham há anos, às vezes décadas. Esses merecem de nós um olhar especial porque eles nos dão a sensação de estarmos revivendo antigas passagens de ano, como se tivéssemos parado no tempo. Só que o tempo não para nem para quem nele fica parado.
Conheço o caso de uma moça que, há pelo menos quinze anos, estuda para concursos públicos. Aliás, ela vive para estudar. E já conseguiu algumas aprovações, mas nunca obteve uma classificação que a colocasse entre os convocados para assumir um cargo. Ela é advogada, passou no exame da OAB, não se arrisca a exercer a profissão e vive como se patinasse sem sair do lugar. Mas isso não é o pior! O pior é que ela não consegue enxergar que há algo estranho nesse processo, algo que a impede de realizar o seu propósito. O que será que está acontecendo nesse caso? Muitas coisas podem estar acontecendo isoladamente ou combinadas.
Pode ser que ela, apesar do seu empenho, não esteja conseguindo entender bem os conteúdos estudados. Nesse caso, talvez possa se beneficiar fazendo um cursinho, contratando um professor particular ou participando de um grupo de estudos. Pode ser que ela tenha algum problema como dislexia, TDAH, depressão, ansiedade, que dificultam muitíssimo a aprendizagem e um bom desempenho nas provas, exigindo intervenção profissional de um psicólogo, um psiquiatra, um fonoaudiólogo ou um neurologista. E pode ser que ela, bem lá no fundo, não queira passar em concurso nenhum e, sem nem perceber, esteja boicotando os próprios esforços.
Uma coisa é certa – algo precisa ser feito. Só que, para mudarmos um resultado, precisamos examinar o processo como um todo, descobrir onde estão os gargalos e resolvê-los para que tudo flua e o produto final seja o esperado. Em outras palavras, não adianta apenas colocarmos os mesmos desejos na lista para um novo ano. Porque o resultado será sempre a frustração de não termos conseguido mais uma vez.
Precisamos ser honestos conosco mesmos; precisamos refletir sobre termos ou não condições físicas, mentais, emocionais para levar adiante cada projeto; precisamos identificar a nossa responsabilidade em cada fracasso e tomar providências, deixando de lado o pensamento mágico de que uma mudança no número do ano resolverá tudo. A palavra-chave é autoconhecimento.
Só que o autoconhecimento não é algo que se conquiste em curto espaço de tempo, se é que o adquirimos algum dia. Mas buscá-lo é absolutamente imprescindível. E não precisamos parar a nossa vida para essa busca. Ao contrário, é a vida que nos dá o empurrão para começar essa jornada, exatamente frustrando os nossos sonhos, não permitindo que as coisas sempre aconteçam como queremos, exigindo de nós um esforço diferenciado que expandirá a nossa consciência.
A máxima “Conhece a ti mesmo”, atribuída a Sócrates, filósofo ateniense que teria vivido 400 anos antes de Cristo, refere-se ao autoconhecimento, ao ponto de partida para uma vida equilibrada, feliz. Não trilhar esse caminho é colecionar frustrações, dores, tristezas, é pagar um preço muito alto, como o de jogarmos fora os preciosos tempo e saúde por pura ignorância, que nos impedirá de desfrutar o conquistado.
Sem autoconhecimento, não vivemos, apenas existimos. É como se nascêssemos no alto de uma ladeira e começássemos a rolar, sem conseguirmos nos deter, sem conseguirmos apreciar a paisagem, sem conseguirmos traçar o nosso caminho, sem conseguirmos nos assenhorar do nosso destino, até que a morte nos alcance no final da descida, completamente zonzos, aparvalhados. Como bem cantou Cazuza, “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para. Não para, não, não para”.
Que a busca pelo autoconhecimento seja uma constante em nossas existências, que, em vez da morte, outras oportunidades nos alcancem e nos encontrem cada vez mais sábios, e que, em lugar de apenas existir, consigamos ter vida em abundância. Um lindo, consciente e produtivo 2024 para toda a Humanidade!
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