CASAMENTO ABERTO

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Dificilmente alguém fica indiferente quando ouve falar de um casal que tem uma relação aberta, principalmente quando se trata de um casamento. Muitas coisas podem vir a nossa mente, como “Não há amor entre eles”; “Eu não toparia viver desse jeito”; “Que maravilha! Sem falsas promessas e sem cobranças”.

Recentemente, o ator Caio Blat falou sobre a relação aberta que mantém com a atriz Luísa Arraes, o que continua repercutindo na internet e nas conversas. Não faltam questionamentos e uma amiga de longa data veio me perguntar sobre como algo assim poderia dar certo. No caso desses atores, a notícia é de que vem dando certo desde 2017.

Outros casais famosos, como os filósofos e escritores franceses Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir; o ator Igor Rickli e a cantora e atriz Aline Wirley, juntos desde 2015; o ator Marco Nanini e o ator e produtor Fernando Libonati, que vivem uma união estável há 36 anos, também optaram pela relação aberta. E, recentemente, Angélica se pronunciou dizendo que ela e Luciano Huck pensam no assunto com certo interesse.

Como estou sempre dizendo, o sucesso de um relacionamento, seja ele de que tipo for, depende de autoconhecimento e de conhecermos o outro o mais possível. E uma relação aberta, embora seja o sonho de consumo de muita gente boa e nem tão boa assim, não é como estar na pipoca correndo atrás de um trio elétrico, não é um “Salve-se quem puder!”. É coisa séria que exige autorrespeito e respeito mútuo.

Para que uma relação aberta seja feliz, o casal precisa estar preparado pra tudo e mais alguma coisa. Não se trata apenas de estarem liberados para se relacionar com outras pessoas. A habitual, a banalizada, a normalmente descumprida promessa de fidelidade cede espaço a algo bem maior, que é a promessa de lealdade, artigo raro, luxuoso, que exige inteligência emocional, maturidade, responsabilidade afetiva.

Porque, em qualquer relacionamento, os parceiros passam por um período de adaptação à nova vida, à nova posição na sociedade, pressões internas e externas. Com o tempo, se tudo dá certo, as coisas vão se acomodando e eles começam a viver mais sob céu de brigadeiro do que sob pesadas nuvens. Mesmo assim, por mais amor que haja entre os dois, volta e meia surgirão turbulências que precisarão ser superadas. Faz parte!

Mas, para um casal que adota uma vida fora da convencional, as pressões são ainda maiores. Porque as pessoas costumam julgar e condenar o que difere delas, daquilo em que acreditam. Elas têm medo do que destoa do que elas consideram ser o certo, o bom, o bem. Elas têm medo de não saberem lidar com o novo. Elas têm medo de se sentirem tentadas e não resistirem. Elas têm medo de chegar à conclusão de que tudo em que acreditam tão fortemente perdeu o sentido, o que as deixaria numa espécie de limbo.

Então, se você está pensando em dar um passo nessa direção, sugiro que, antes de qualquer coisa, procure conhecer a origem da relação monogâmica, que é o que vivemos no Brasil e é adotado na maioria dos países – a união amorosa e sexual de exclusividade entre duas pessoas. Na internet, encontramos informações que vão da ideia de que a monogamia teria começado na Idade Média para facilitar a dominação religiosa à ideia de que existe uma base genética para o comportamento monogâmico.

Depois disso, pesquise sobre relações não monogâmicas. Há teorias sobre esse assunto, inclusive a de que ter múltiplos parceiros sexuais tem mais a ver com a nossa biologia e com uma necessidade inconsciente dos seres humanos de propagar sua genética, o que, para muitos, seria uma forma de se manter vivo após a morte.

Pesquise também sobre os tipos de acordo estabelecidos por quem vivem uma relação aberta. Não existe uma regra. Há casais, por exemplo, que combinam que encontros extraconjugais não precisam ser compartilhados, da mesma forma que outros consideram que não dividir essas experiências com o parceiro seria traição; há aqueles que se comprometem a não se envolver com pessoas conhecidas; há os que optam por não ter filhos; e há os que decidem que qualquer criança que venha a ser gerada será considerada como do casal.

Essas pesquisas são importantes porque, como teria dito o filósofo inglês Francis Bacon, “Conhecimento é poder”. E, quando pisamos terra estranha, precisamos saber pisar. Além disso, é importante termos sempre em mente que uma relação aberta não é nem mais nem menos segura do que uma relação fechada. A liberdade que ela traz não garante que ela será indissolúvel, mesmo porque, a qualquer momento, nosso parceiro ou parceira poderá se interessar por alguém e decidir se desligar de nós pra viver outra relação aberta ou mesmo monogâmica. Por que não?

Lembro de uma paciente cujo marido propôs um relacionamento aberto e vivia falando a ela sobre os encontros por ele mantidos. Até que, um dia, ela saiu com outro homem e contou ao marido. Só que ele entrou em choque e confessou que havia mentido todas as vezes, que fazia aquilo para que ela contasse caso ficasse com outro. Ele não suportava a ideia de ser o último a saber se fosse traído. Não é preciso dizer que o casamento foi para o espaço, com ele totalmente arrasado.

E lembro também de outra paciente que, de tanto o marido insistir, resolveu admitir um relacionamento meramente sexual a três com uma mulher escolhida por ele. Tudo correu muito bem até o dia em que as duas contaram a ele que haviam se apaixonado e decidido viver juntas uma relação monogâmica. Agora, pensem num homem arrependido que quase arrancou todos os cabelos!

Uma relação aberta, diferentemente do que muitos pensam, não é coisa de gente moderninha, já que essa prática é mais antiga do que a monogamia. E não é sinônimo de oba-oba. Não é para amadores, exige preparo e pode ser uma experiência maravilhosa que os casais têm o direito de viver, bastando que haja confiança e consenso entre os parceiros. Afinal, o que é combinado não sai caro.

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MARACI SANT'ANA

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