Há 11 anos, publiquei um texto intitulado Cartas de Amor. E dele me lembrei ontem, durante a sessão do grupo de terapia PARA SOBREVIVER A UM GRANDE AMOR, quando falamos sobre a dificuldade de diálogo que às vezes ou sempre se abate sobre os casais. Fica a dica!
Cartas de Amor
Passam-se os anos, os séculos, mas ninguém está imune de, um dia, escrever ou ser alvo de uma dessas mensagens que mexem conosco e podem mudar nossas vidas.
E, quando digo “cartas de amor”, não falo apenas daquelas em que um alguém declara sentir o chamado amor romântico por outro alguém. Falo de mensagens verdadeiras, sinceras, honestas, amorosas, mesmo que precisem ser duras.
Aliás, em consultório, costumo incentivar os pacientes a escrevê-las. Às vezes para um marido ou esposa, às vezes um filho, às vezes um amigo. Porque há situações em que o diálogo ao vivo fica impossível, podendo virar um bate-boca, ocasião em que terminamos não dizendo o que precisaria ser dito ou dizendo coisas das quais nos arrependemos em seguida.
Quando algo vai mal, o que temos a fazer é conversar. Mas nem sempre o melhor momento para nós é um bom momento para o outro. Se tentarmos na hora errada, o papo já começará sem muitas chances de terminar bem.
Além disso, há pessoas que têm dificuldade para se expressar num tête-à-tête, assim como há quem não tenha paciência para esperar o outro falar. Os primeiros podem gaguejar ou ficar paralisados. Os segundos podem interromper e rebater o que nem foi concluído. Passa-se de uma frase mal terminada para outra e o que deveria aproximar pode afastar definitivamente.
Por isso eu defendo, nesses casos, o diálogo por carta. Quando escrevemos, somos donos do nosso tempo. Podemos colocar no papel tudo o que sentimos, sem o risco de sermos interrompidos, de deixarmos coisas pela metade ou mal ditas. Além disso, damos ao outro a respeitosa oportunidade de não ler nossa carta, ou de lê-la em prestações, ou de lê-la várias vezes, no tempo dele, sem atropelos, imposições.
Então, se você tem algo a dizer e não está sendo possível fazê-lo pessoalmente, experimente escrever. Procure começar realmente pelo começo, como por exemplo: “Quando nos conhecemos…”. A partir daí, fale dos seus sentimentos. Seja verdadeiro, intenso. Deixe de lado a vergonha. Permita-se ser piegas, gargalhar ou chorar sobre o papel ou o teclado. Fale como se fosse sua última oportunidade de dizer o que lhe vai na alma.
Depois, descreva os bons momentos que tiveram juntos, em detalhes. Recorde as alegrias, as fantasias, os projetos. Não economize, nem demonstre arrependimento do que viveram, mesmo que, hoje, tenha a certeza de que tudo não passou de uma grande mentira.
Em seguida, e só nesse momento, diga o que está incomodando, o quanto fica triste ou enfurecido, o que não pode aceitar. E, então, peça ao outro que responda, de preferência, em carta. Ou, se for o caso, dê o relacionamento por encerrado, respeitosamente, amorosamente.
Escrever assim é sempre positivo. E, mesmo que o alvo de sua mensagem jamais chegue a lê-la, não importa porque o ato de escrever, em si, certamente provocará em você uma conscientização libertadora.
E, para quem curte filmes, recomendo um sobre o tema que considero lindíssimo, intitulado “Cartas de Amor”, com Laura Linney e Steven Weber. Vale a pena assistir para se inspirar.
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