Em se tratando de TV aberta no Brasil, não dá para negar que a Rede Globo é imbatível. Há trabalhos incríveis, produções impecáveis e, já não era sem tempo, preocupação em discutir temas como racismo e outros tipos de preconceito, identidade de gênero e orientação sexual, violência doméstica, importância dos povos originários, a vida nas favelas, e em colocar, por exemplo, atores negros em papéis tradicionalmente ocupados por tipos europeus em produtos como telenovelas, que têm um enorme alcance. Ou alguém sacava a importância desse viés ou a Globo estaria fadada a ser como as outras.
Mas há um programa que classifico como nojento – o Big Brother Brasil, que não acompanho há muitos anos. Assisti aos primeiros porque era uma novidade e eu, volta e meia, dava entrevista sobre o que acontecia na casa. Mas ninguém merece aquilo, nem mesmo quem faz assinatura para acompanhar por vinte e quatro horas. Só que, lamentavelmente, o público adora as baixarias, as brigas recheadas de gritos e ofensas, gente bêbada passando mal e dos limites, pessoas em surto, como se alguma dessas situações fosse engraçada.
Não sei dizer como são escolhidos os participantes. Mas, se eu fosse responsável por formar o elenco de cada temporada, considerando que, quanto maior o ibope, mais patrocinadores dispostos a bancar prêmios fantásticos, assim como, quanto maiores os prêmios, mais pessoas dispostas a assistir e sonhando entrar na casa, com certeza eu apostaria no “quanto pior, melhor”. Eu colocaria todas as minhas fichas no chamado mundo cão.
O grupo por mim formado teria gente jovem que fotografasse bem na piscina e na academia; gente do balacobaco, que conhece artistas, músicas e passinhos da moda; gente tranquila, ponderada; gente da pá virada; gente de diferentes classes socioeconômicas; gente de diferentes níveis de instrução; gente de diferentes regiões do Brasil; gente de diferentes identidades e orientações sexuais; eventualmente um estrangeiro, para ver a galera rasgando o portunhol; e todos com os hormônios lá em cima para sacudir edredons.
Não poderiam faltar pessoas que, quando bebem, perdem totalmente o rumo, muito provavelmente alcoólatras que ainda não perceberam que o são; e gente com transtorno psiquiátrico, mesmo que leve, que tem grandes chances de surtar. Aliás, estar isolado do mundo, longe de importantes referenciais como família e amigos, acompanhado apenas de desconhecidos com quem é preciso se alinhar e, ao mesmo tempo, contra quem se tem que competir para evitar uma expulsão e ganhar prêmios, pira qualquer um.
E, como se isso não fosse o bastante, eu capricharia nas votações e nos jogos de críticas abertas, e nos paredões triplos e quádruplos que não permitem que os participantes saquem se eles estão sendo amados ou odiados pelos milhões de pessoas que os observam dia e noite, inclusive muitos dos seus ídolos, durante provas tantas vezes humilhantes e extenuantes, durante mentiras e conchavos. Esse cenário extremamente estressante pode tirar qualquer um do eixo, principalmente porque os brothers e as sisters veem a sua passagem pelo show como uma oportunidade de ouro para tirar o pé da lama ou dar um rumo glamoroso a sua vida. Essa é a receita para o sucesso do BBB.
O BBB 24 já teve duas sisters que “surtaram” – Vanessa Lopes não suportou, pediu pra sair com apenas duas semanas na casa e, depois de um tempo fora, deu entrevista dizendo que recebeu um diagnóstico de psicose aguda, mas que já está bem. E nesta semana, Alane, ao saber que foi eliminada no último paredão, teve uma crise de choro em que socava a própria cabeça e repetia “Sou péssima”, “Sou a pior pessoa do mundo”, “Minha mãe está com raiva de mim”. Isso provocou debates sobre saúde mental e também muitas piadas na internet, para preocupação de quem, como eu, sabe o que pode estar por trás de um evento desse tipo.
Um surto é uma situação grave que exige intervenção médica imediata porque há risco para a pessoa e para quem com ela estiver em contato. Além de confusão mental, podem acontecer alucinações e atitudes de extrema agressividade que descambem em suicídio ou homicídio. Estresse agudo, transtornos psiquiátricos ou neurológicos, doenças do metabolismo, uso e abstinência de drogas lícitas e ilícitas podem precipitar um surto ou uma crise emocional. O socorro imediato é imprescindível, mas, não menos importante é o acompanhamento para identificação e tratamento da ou das causas.
Lembro do caso de uma empregada pública cedida a um ministério que começou a trabalhar segurando o celular atrás da cabeça. Segundo ela, para cortar as energias negativas enviadas pelos colegas de sala. Todos achavam aquilo muito doido e alguns chegavam a fazer piadas. O risco disso? De um momento para outro, do nada, ela poderia entrar armada no trabalho ou lançar mão de uma faca ou tesoura e cometer um desatino. Felizmente a mãe dela foi contatada e descobriu-se que ela sofria de esquizofrenia e que tinha suspendido, por conta própria, a medicação. Assim, ela foi afastada do trabalho antes que uma desgraça acontecesse. Mas o final dessa história poderia ter sido bem diferente. Não há graça nenhuma num surto.
Pra mim, só há algo pior do que o BBB, que é a adoração, a avidez com que as pessoas consomem esse tipo de produto. Infelizmente o mundo cão faz um enorme sucesso, o que vem garantindo a continuidade do programa. É desse jeito que os comerciantes ganham dinheiro – entregando aos consumidores exatamente o que eles querem. Empatia? Isso fica para Globo Repórter, Fantástico, Profissão Repórter e outros. O lema do BBB é fazer grana. Enquanto houver público, segue o baile! E que Deus tenha piedade de nós!
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