ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE

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UMA RELAÇÃO DE AMOR VERDADEIRO

Desde que postei INDECISÃO NO AMOR, venho colecionando comentários positivos, mas nem tudo são flores. De repente, recebi a ligação de uma amiga muito religiosa que disse que até gostou das minhas considerações, mas que eu deveria ter perguntado se o homem que mandou a consulta estava casado na igreja, porque, para ela, casamento na igreja é até que a morte os separe.

Eu realmente não sei se quem me mandou o pedido de orientação que deu origem ao texto casou na igreja. Mas imediatamente lembrei de uma situação que vivi há alguns anos com uma paciente que procurou ajuda porque o casamento dela não andava nada bem.

Depois de algumas sessões, quando começamos a discutir mais enfaticamente um possível divórcio, ela teve uma crise, caiu no chão toda rija, chorando convulsivamente, gritando que não podia se separar. Foi aí que travamos o seguinte diálogo:

Eu: – O que impede você de se divorciar?
Ela: – Deus falou, no meu casamento, que era até que a morte nos separasse!
Eu: – Nossa! Eu já casei várias vezes e Deus nunca falou nada!
Ela: – Não foi Deus, foi o padre.
Eu: – O padre que me casou também falou isso. Todo padre fala isso em casamento! Você é uma mulher de 34 anos; com 2 filhas pequenas; que trabalha feito louca fora e dentro de casa; que tem um marido que não faz sexo com você há um tempão, quase não ajuda nem nas despesas, nem nas tarefas, nem com as crianças, trabalha só 4 horas por dia e passa o resto do tempo deitado na rede com uma cueca amarelada, com aquela freada nojenta. Isso é a morte! Então você já pode se separar dele!

Nesse momento, ela arregalou os olhos e relaxou o corpo. O choro convulsivo deu lugar a um choramingo e, depois de um copo d´água, ela estava novamente em condições de conversar.

Foi quando lhe apresentei uma forma diferente de entender o “Até que a morte os separe”. Muita gente pensa na morte de um dos dois, mas creio que só o que pode realmente separar é a morte do próprio casamento, da união feliz, da cumplicidade, do tesão, do respeito, do amor que deve unir e manter unidas duas pessoas, o que nada tem a ver com suportar ou estar simplesmente acostumado ao outro, com preguiça de virar a página e começar a escrever uma nova história.

Se o leitor que mandou a consulta casou ou não na igreja; se o padre falou ou não “Até que a morte os separe”; se ele, caso desista da esposa pra ficar com a antiga namorada, vai ou não casar no religioso, não faz diferença pra mim.

Porque eu acredito que uma relação de amor verdadeiro não chega ao fim nem com a morte de um ou dos dois. E que só algo assim é capaz de tornar indissolúvel uma união, sem que nada nesse sentido precise ser dito por ninguém!

MARACI SANT'ANA

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