REDimages

AO MEU FILHO

Publicado em Sem categoria

Nos últimos dias, têm pipocado notícias de filhos, netos, irmãos, sobrinhos de amigos e conhecidos, que conseguiram vaga para estudar na UnB. São estudantes e familiares rindo a toa. E o site da universidade traz a foto de mais de 1.500 calouros, felizes da vida, concluindo o pré-registro acadêmico.

Eu entendo bem o que eles sentem. Vivi essa alegria há alguns anos e escrevi um texto para o meu filho, publicado neste mesmo site, no Blog do Vicente, que reproduzo a seguir, por acreditar que ele traz uma boa mensagem para reflexão e conscientização.

E deixo aqui meus parabéns ao meu sobrinho Lucas Francesco, que, ainda tão jovem, acaba de ingressar na UFSC Joinville, para cursar Engenharia Ferroviária e Metroviária! Um beijo enorme da sua orgulhosa tia, para você e seus pais!

E também para outro jovem, aprovado para estudar Engenharia na UnB, Victor Araújo dos Santos, filho da querida colega Elaine Cristina. Parabéns, gatinho!

 

AO MEU FILHO

Dezesseis de fevereiro de 2009 jamais deixará minha lembrança. Nesse dia, saiu o resultado do primeiro vestibular do ano para a Universidade de Brasília (UnB) e lá estava, na lista, o nome de meu filho, Igor, aprovado para Matemática. Foi uma felicidade muito maior até do que imaginei que sentiria. Não sei dizer se fiquei tão feliz quanto o novo universitário, mas certamente comemorei muito mais. Enquanto ele se limitava a receber os cumprimentos dos amigos, eu corria a telefonar e enviar mensagem a metade do mundo. Só mesmo uma mãe que viveu essa alegria pode entender tanta agitação.

E também me surpreendi com a reação das pessoas. Os cumprimentos não eram só para ele, mas também pra mim. E todos faziam os mesmos comentários, ressaltando o prestígio da UnB, que se estende aos que lá estudam ou se formaram, e a alegria de se ter um filho numa das melhores instituições de ensino superior do Brasil que, como se isso já não bastasse, ainda é pública, uma enorme tranquilidade para os alunos e, principalmente, para os pais desses alunos.

Quando pensamos em um filho numa universidade, é natural que venham à nossa mente as oportunidades que um curso superior lhe trará sob o aspecto do mercado de trabalho e sucesso financeiro, do conforto de que ele e a família que vier a formar poderão usufruir, do prestígio social que mais portas lhe abrirá. Claro que tudo isso é importante, mas é pouco para qualquer ser humano, principalmente se ele foi agraciado com um privilégio tão grande num país de tantas desigualdades sociais como o nosso.

Porque a UnB é muito mais do que uma universidade de excelência cercada de prêmios e menções honrosas. É um dos símbolos da capital federal. E não apenas por sua preocupação em produzir, integrar e divulgar conhecimento, mas pelo compromisso de formar cidadãos éticos, socialmente responsáveis, atentos ao desenvolvimento sustentável, ao respeito à diversidade, à liberdade intelectual, à preservação e à valorização da vida.

Porque a UnB é muito mais do que uma instituição de quase meio século de uma existência efervescente, que começou com o sonho do antropólogo Darcy Ribeiro. Ela é resultado do esforço de gente do naipe do arquiteto Oscar Niemeyer; do artista plástico Athos Bulcão; dos educadores Anísio Teixeira e Cristovam Buarque; dos estudantes Honestino Guimarães, que faz parte da lista dos desaparecidos políticos, e Waldemar Alves, baleado na cabeça num confronto com a ditadura militar; dos pedreiros Expedito Xavier Gomes e Gedelmar Marques, que morreram soterrados em um acidente durante a construção.

Porque a UnB é uma sobrevivente que suportou com firmeza diversas invasões por policiais militares e pelo Exército; o pedido coletivo de demissão de 1965, em que 209 professores e instrutores protestaram contra a repressão; as armas, a destruição e as prisões; a luta dos próprios alunos contra a má qualidade do ensino e a falta de infraestrutura; os protestos que, recentemente, derrubaram um reitor acusado de improbidade administrativa. É uma verdadeira fênix, que representa a esperança e a continuidade da vida após a morte, a capacidade de renascer das próprias cinzas.

Foi por tudo isso que, ao cumprimentar meu filho naquela tarde tão feliz, eu lhe disse que procure, nessa nova fase de sua vida, não apenas sucesso profissional, dinheiro, prestígio, mas algo que está muito além disso tudo; que, na qualidade de aluno, ele não se restrinja a receber o conhecimento, mas a conquistá-lo; que não se limite ao que pode lhe trazer o uso do cérebro, mas também o do coração; que busque o crescimento intelectual, mas, acima dele, o moral; que aproveite os encontros com os colegas para fazer grandes amizades porque com muitos ele conviverá pelo resto da vida e alguns o acompanharão tal qual irmãos de sangue; e que aproveite ao máximo os ensinamentos dos professores porque alguns merecerão dele, para sempre, o tratamento de Mestre.

E, ao olhar bem dentro daqueles grandes olhos castanhos, eu lhe pedi que se comprometa a sempre usar o talento que possui e o conhecimento que certamente adquirirá em favor de todos com quem se encontrar de uma forma ou de outra; que, deixando de lado o egoísmo que ainda nos empobrece, coloque-se à disposição do Universo para fazer o possível e o impossível em favor dos necessitados, dos desfavorecidos, dos que o cercam, da Humanidade.

Porque, mais do que de profissionais inteligentes e preparados, precisamos de gente de verdade, com os pés na terra e os olhos voltados para o céu; de comprometimento; de seres humanos que entendam que as oportunidades que são dadas a alguns são resultados do suor de muitos; de todos nós que pagamos impostos, desejosos de que eles sejam empregados da melhor maneira; de pessoas que jamais pisarão o campus; de milhões de analfabetos funcionais; de brasileiros que morrerão sem ter aprendido a ler.

Assim, o que desejo, de coração, é que não apenas meu filho, mas todos os que habitam as universidades, tenham sempre em mente que os poderes de que realmente necessitamos, os que fazem a diferença, os que nos levam muito além dos nossos sonhos mais fantásticos, são os que estão mergulhados nas profundezas das nossas almas.

E, a essas criaturinhas de Deus, deixo as palavras de Chico Xavier que, no poema Amorosamente, disse que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor! Valeu, Chico! Valeu, Igor, filho amado!

Maraci Sant’Ana

Série “O Dinheiro e os Relacionamentos” – Parte 11, publicada em 21/2/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente, coluna A Psicologia e o Dinheiro.

 

 

32 thoughts on “AO MEU FILHO

  1. Lindas palavras que passou para seu filho e compartilhou conosco! Com certeza se ele leva esses ensinamentos deve ser um grande homem. E deve levar, pois você nos ensina todos os dias isso… Exemplo foi nesse trecho: “eu lhe pedi que se comprometa a sempre usar o talento que possui e o conhecimento que certamente adquirirá em favor de todos com quem se encontrar de uma forma ou de outra; que, deixando de lado o egoísmo que ainda nos empobrece, coloque-se à disposição do Universo para fazer o possível e o impossível em favor dos necessitados, dos desfavorecidos, dos que o cercam, da Humanidade.”. Compartilhar conhecimento é dar oportunidade. Então, meu muito obrigada!

  2. Faço das suas, minhas palavras. Como você também vivi essa alegria há 2 anos atrás e não consigo descrever aqueles momentos de euforia, alegria, realização, orgulho e tantos outros. Eu disse a minha filha Luiza que a UNB ia proporcionar o vislumbrar de um novo mundo, imenso, plural a ser descoberto e explorado. Muito me representa essa sua matéria!! Parabéns!!

  3. Lembro bem desse texto e do sentimento da sua felicidade!!
    Vc mereceu e merece curtir essa vitória!!
    Parabéns pelo texto é por trazer nele experiências e reflexão!!!

  4. Postado no FB por Ana Regina Gomes de Almeida: O texto é perfeito …este é a verdadeira missao dos pais com seus filhos da oprtunidade de crescimento nao so profissional mas principalmente emocional, psicologico, espiritual…

  5. Remetido via WhatsApp por Alan: Sábias palavras, sempre te admirei por que você sempre tem as palavras certas para serem colocadas nas frases certas, tenho certeza que o Igor tem muito orgulho de ter você como mãe ??????

  6. Nossa, Maraci… vc arrasou neste texto!!! Lembro de sua felicidade qdo o Igor entrou para a UnB. É uma alegria imensa mesmo. Também a senti qdo o nome do Victor constou da relação dos aprovados do vestibular da Universidade de Brasília . Mas não havia lido esta mensagem fantástica que fez pra ele. Parabéns pelas sábias palavras e conselhos mais que oportunos. Vou compartilhar com os meus, pq merece ser conhecido em qualquer fase da vida. Beijo de sua fã incondicional

  7. Remetido via WhatsApp por Mary Madureira: Mara muito interesse seu texto, vc navegou pela história da UnB, pela vitória dos meninos quando lá ingressam (meus filhos se graduaram e fizeram mestrado lá), citou com propriedade os grandes mestres, a derrocada de um reitor. O sentimento de vitória e conquista e grande. Imagine só o meu filho me fez ir a três graduações e uma defesa de artigo para mestre. Ele formado em Geografia, Licenciado em Geografia, e bacharel em Administração de Empresas é mestre em Geoprocessamento. Minha filha e mestre em Biblioteconomia e está fazendo doutorado na área de sistemas. Sinto-me duplamente abençoada com meus filhos.

  8. Postado no FB por Marcos Roberto Silva: Que profusão de bobagens! Quem foi Honestino? Meu pai estudou com ele e não são boas as informações, era apenas um falador inexpressivo e confuso, assim como este texto. Um jovem que acaba de superar um dos grandes desafios da vida, o ingresso na UnB tem mais é que ser festejado e não entupido de ideias ultrapassadas como estas… Ah, o Correio , Ah, o que foi a imprensa…

    1. Postado no FB por Mary Madureira, em resposta a Marcos Roberto Silva: Se vc acha bobagem e pq nunca sentiu a emoção de ter seu filho ingressado numa Universidade como a UnB. Pare de querer para parar o orgulho que sentimos e que sentirei para o resto de minha vida.

      1. Postado no FB por Marcos Roberto Silva em resposta a Mary Madureira: O meu terceiro filho a passar no vestibular, agora, acabou de entrar para biologia na UNB, as bobagens são dignas de quem nem compreendeu o meu texto. Tem que ser festejado sim , e muito. O que eu não faço é encher a cabeça dele com as ideias furadas que seu texto complementa… Deixa a criatura ser feliz.

        1. Postado no FB por Mary Madureira em resposta a Marcos Roberto Silva: Meus filhos são pessoas realizadas e felizes. A emoção e minha causadas pela vitória deles. Não dão bobagens são conquistas que ninguém tira de mim.

          1. Postado FB por Marcos Roberto Silva, em resposta a Mary Madureira: Mary, você ainda não compreendeu o que eu disse, então vou desenhar.
            Não crítico sua alegria pela conquista de seu filho.
            Crítico seu texto , que usou como pano de fundo a conquista Leia suas bobagens e reflita: Ela é resultado do esforço de gente do naipe do arquiteto Oscar Niemeyer; do artista plástico Athos Bulcão; dos educadores Anísio Teixeira e Cristovam Buarque; dos estudantes Honestino Guimarães, que faz parte da lista dos desaparecidos políticos, e Waldemar Alves, baleado na cabeça num confronto com a ditadura militar; dos pedreiros Expedito Xavier Gomes e Gedelmar Marques, que morreram soterrados em um acidente durante a construção.

            Porque a UnB é uma sobrevivente que suportou com firmeza diversas invasões por policiais militares e pelo Exército;

          2. Postado no FB por Maraci Sant’Ana: Marcos Roberto Silva, o texto não é da Mary Madureira, é meu. A Mary é leitora do Blog. Não rebati seu comentário. Eu apenas o postei no Blog. Mesmo não concordando com a sua maneira grosseira de comentar, comentário é comentário e, por isso, o seu foi postado.

          3. Postado no FB por Mary Madureira: Marcos Roberto Silva, não, sou leitora do blog da Mara, também não quero me estender com um homem grosso, mal educado e insensível. Aliás homem não, pois ainda não cresceu o necessário para saber falar com uma mulher. Postura de.moleque.

          4. Postado no FB por Marcos Roberto Silva, em resposta a Mary Madureira: Pensei que fossem a mesma pessoa, então , o que crítico é o texto ridículo sobre a UNB…

  9. Fiquei muito feliz pelo meu filho Victor Araújo, um jovem de 18 anos com um belo futuro pela frente, esse texto da Maraci me trouxe muitas reflexões positivas e muitas emoções, nos faz recordar, fiquei lisonjeada pelo comentário feito e meu filho muito feliz…obrigada…bjosss

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*