Quando Nem Toda Família é Co-Cuidadora

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Cosette Castro & Anelize Souza

Brasília – Na mesma semana em que o Projeto de Lei sobre a Política Nacional de Cuidados foi protocolado na Câmara dos Deputados, damos continuidade ao Projeto Filhas da Mãe Contam Histórias.

A história de hoje foi enviada por Anelize Marillac de Souza, participante do Coletivo Filhas da Mãe.

Durante oito anos ela se deparou com desafios cotidianos. E descobriu a importância de conhecer o mundo dos cuidados para ajudar sua mãe, D. Maria.

Anelize de Marillac de Souza – “No dia 24/03/2017 estava na casa de minha mãe fazendo uma massa de quibe. Ela estava cozinhando um feijão para fazer tutu de feijão acebolado com linguiça. Íamos comemorar meu aniversário no dia seguinte.

Meu aniversário havia ocorrido 10 dias antes (15/03), mas não foi possível comemorar, em razão da agenda de exames de minha mãe.

Voltei para casa para ficar com minha companheira. Mas, por volta das 19 horas, a empregada da minha mãe ligou e disse que ela estava passando mal.

Como moramos perto, fui correndo para lá. Entrei em contato com o médico particular e chamei a UTI móvel. Logo soube que ela tinha tido um AVC tromboembólico.

Fomos para o hospital imediatamente. O médico que assistiu minha mãe após a internação disse que eu deveria entrar com o processo de curatela, já que ela tinha sido acometida por uma hemiplegia (paralisia) do lado direito. Com isso, a fala também tinha sido comprometida.

Entrei em pânico. E entrei com o pedido de curatela mesmo sem saber o que era curatela. Também fui surpreendida com uma “coisa” chamada Home Care.

Sou a sétima filha. A caçula.Tenho seis irmãs antes de mim. Mas passei por tudo isso sozinha. Elas só vinham para visitar.

Nenhuma delas me ajudou a descobrir o que era este universo. Tudo foi muito doloroso, sofrido, mas eu não ia desistir de minha mãe.

Fui atrás de todas as informações com a ajuda de minha companheira Daila. Também fui atrás de todas as isenções possíveis.

Tive que aprender sobre contratação de profissionais. E constitui advogado e contador. Descobri sobre reabilitação física e emocional. E sobre contratação de outros profissionais, como fonoaudióloga, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, etc.

Eu desconhecia completamente o universo do cuidado.

Era outro mundo. Tive que aprender a entender também sobre o universo jurídico, sobre prestação de contas para o Tribunal de Contas/DF, para o Ministério Público e Defensoria Pública.

Foram tempos difíceis, mas me esforcei muito.

Como comentei, nesse meio tempo, não recebi ajuda das outras seis irmãs. Apenas julgamento sobre gastos e possíveis excessos. Mesmo que todas as prestações de contas tenham sido aprovadas pelos órgãos responsáveis.

Fiquei oito anos praticamente 24 horas do dia cuidando e zelando minha mãe.

Durante esses anos, não tive férias nem tive remuneração. Apenas um pró-labore muito pequeno.

Ainda assim, permaneci ao lado de minha mãe. Dei meu amor, zelo, cuidado e ofertei qualidade de vida.

A minha companheira Daila foi uma mulher fantástica. Foi ela quem me ajudou e cuidou de mamãe ao meu lado, até o fim.

Minha mãe descansou há sete meses (11/12/23) após um segundo AVC. O processo de luto não tem sido fácil, mas aos poucos vou retomando a vida, inclusive oferecendo meus serviços como taxista para pessoas idosas ou com deficiência.

Foi muito importante ter o apoio da minha companheira e também participar de uma rede de apoio como o Coletivo Filhas da Mãe”.

PS: Conheça aqui as propostas do Coletivo Filhas da Mãe para a Política Nacional de Cuidados e para as pessoas que cuidam.

PS 2: Reserve a agenda para participar, no dia 03 de agosto, da 1a Conferência Livre Nacional sobre Pessoas Cuidadoras de Pessoas Idosas.  A Conferência acontecerá no formato online e é gratuita. Inscrições aqui.

PS 3: Já começou a 4a. edição do Projeto Filhas da Mãe Contam Histórias, um espaço para pessoas que cuidam sem remuneração enviarem relatos que serão publicados aqui no Blog. É possível enviar histórias reais em três categorias: engraçadas, tristes ou desafiadoras. Escolha um tema, escreva até 450 palavras como se estivesse conversando com alguém da família ou uma amiga. Envie para o e-mail coletivofilhasdamae@gmail.com. Esperamos vocês!

Cosette Castro

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