Cosette Castro
Brasília – Não é fácil escrever sobre o Rio Grande do Sul neste momento. Mesmo morando em Brasília há 18 anos.
O coração apertou tanto pelos familiares, amigas, amigos e pela população em geral que voltei a tomar chimarrão depois de anos. Um ato simbólico para me sentir perto mesmo estando longe.
Pix, mensagens de WhatsApp e telefonemas diários não são suficientes. Não têm a concretude e a memória afetiva do chimarrão.
No Estado mais ao Sul do país aprendemos a tomar chimarrão desde criança. Com um pouquinho de açúcar para ir acostumando o paladar. Faz parte da identidade de ser parte do pampa, região que inclui Uruguai e Argentina. Com direito a frio, umidade e milongas.
O ato de compartilhar o chimarrão tem um sentido comunitário. É também sinal de hospitalidade e acolhimento. Nos sentamos para conversar e tomar mate em qualquer lugar. Nas praças, em casa, na praia. No campo ou na cidade.
No entanto, agora, em 446 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, já não há praças e, em muitos lugares, nem casas. Muito menos água potável e erva mate. Ou gás. Sequer há estabelecimentos com mercadorias. Falta tudo.
Mais de 2 milhões de pessoas, dos 10,8 milhões que vivem no Rio Grande do Sul, tiveram problemas por causa das enchentes no estado. Pelas estatísticas da Defesa Civil gaúcha há 145 mortos e 132 desaparecidos. E mais de 618 mil pessoas estão fora de suas casas.
Esses números devem aumentar nos próximos dias. A temperatura está caindo e segue chovendo em todo Estado. Além disso, a Lagoa dos Patos, na região Sul do estado, está inundando cidades como São Lourenço, Pelotas e Rio Grande, entre outras.
Também existem mais de 130 bloqueios nas estradas do Rio Grande do Sul, o que impede o deslocamento e a chegada de ajuda por terra.
Não dá pra ficar calada frente à tragédia anunciada desde os anos 80 pelos especialistas em meio ambiente.
No Estado que já foi referência para o Brasil em leis ambientais, o governador Eduardo Leite desmontou a lei ambiental gaúcha. Os empresários, entre várias benesses, têm o poder de autolicenciamento enquanto a população e a natureza ficaram desprotegidas.
Não se trata apenas da crise climática. Há culpados pelo desrespeito ao meio ambiente, pelo desmonte dos grupos de prevenção e da própria Defesa Civil, hoje sem orçamento.
No Rio Grande do Sul, o governo do estado, a prefeitura de Porto Alegre e outras do interior fizeram vista grossa aos riscos da crise climática e suas consequências. Preferiram manter relações próximas com os empresários.
O desmatamento, o negacionismo e os interesses pessoais e empresariais acima do interesse público não se restringem ao Rio Grande do Sul. Se espalham como doença pelo Brasil.
Há vários estados passando por desmonte das leis ambientais, inclusive o Distrito Federal.
No âmbito nacional, os presidentes da Câmara Federal e do Senado tentam passar leis que ampliam o desmatamento, empatam a votação da demarcação das terras indígenas, apoiam projetos favoráveis ao lobby dos combustíveis fósseis e fecham os olhos frente à crise energética.
É verdade que o planeta tem seus ciclos de ventos, chuvas, tempestades ou calor intensos. Mas sem proteger a natureza e sem política nacional de cuidado ambiental, o resultado será novas catástrofes. Como a gaúcha, que tende a piorar.
PS: Em ano de eleição, descubra se o seu/sua candidato/a se possue Plano de Ação Climática. E escolha pessoas historicamente comprometidas com a defesa do meio ambiente. As novas gerações agradecem.
PS 2: Quer seguir ajudando o Rio Grande do Sul? Sugiro ONGs como o CAMP, em atuação desde os anos 80 que está atuando na Ação Solidária Todos por Todos ( PIX: idhes@outlook.com.br) e THEMIS, em atuação desde os anos 90 (PIX: cnpj 970024060001-45)
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