O Clube dos Homens

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Cosette Castro

Brasília – Na sexta-feira, 22/03, começou a circular no Brasil a campanha do Esporte Clube Bahia sobre a violência dos homens contra as mulheres.

Não é um vídeo fácil de assistir. É possível, inclusive, que seja um gatilho para mulheres que já sofreram violência sexual.

É impactante. E, ao mesmo tempo, urgente e necessário. O vídeo (assista aqui) mostra o lado obscuro de muitos homens.

Escancara as frases mais comuns usadas para se referir às mulheres. E é através dessas frases que revela a violência física, psicológica, moral e sexual que as mulheres sofrem todos os dias. E o medo que elas sentem.

Essas violências são tão perversas que culpabilizam a vítima,  aquela que deveria ser protegida. E assim mantêm o ciclo da violência, que retraumatiza as mulheres.

O vídeo, que pede o fim da impunidade no futebol, circulou na mesma semana em que jogadores famosos, como Daniel Alves e Robinho foram presos por estupro.

A campanha remete ainda a outra questão. A cumplicidade explícita e implícita de outros homens em todo o país. Essa cumplicidade aparece através das vozes que normalizam e “justificam” as violências.

E lembra que muitos homens, inclusive chefes e ex-chefes, questionam “SE” houve violência. Uma dúvida que inocenta o estuprador. Mesmo  que ele já tenha sido condenado.

Exemplos de cumplicidade explícita não faltam no futebol. Primeiro há o descaso histórico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) abafando casos de violência sexual. Nada a estranhar em um clube de homens que privilegia os homens.

Foi preciso que Leila Sebastião, presidente do Palmeiras, que está na Inglaterra como chefe da seleção brasileira de futebol, se manifestasse.

“Cada caso de impunidade é a semente de um crime seguinte”, denunciou. Somente depois disso, a CBF se posicionou oficialmente.

Outro caso explícito foi o anúncio do empréstimo de 1,5 milhão de euros (8,1milhões de reais) de Neymar ao “brother” Daniel Alves. Depois de protestos em todo o país Neymar Pai negou o empréstimo na última hora e Daniel Alves segue na prisão. Seus bens estão embargados por não pagar a pensão do filho.

Já Robinho, condenado pela justiça italiana por estupro coletivo, até alguns dias atrás circulava em festas no Santos entre abraços do técnico Tite e outros “parças”. Não houve manifestação oficial do Santos sobre a violência sexual do jogador nem de seus áudios menosprezando a vítima até ele ser preso.

O silêncio cúmplice ocorreu mesmo que Robinho seja modelo e referência para as novas gerações de meninos e rapazes.

Embora na vida pública pareçam boas pessoas, na vida pessoal, os abusadores, anônimos ou famosos, são verdadeiras feras. O principal alvo de caça e agressão são as mulheres. Eles se consideram donos dos corpos delas. Mas não são.

Outra consequencia da cumplicidade explícita ou silenciosa é o feminicído.

Em 2024, no Distrito Federal, seis mulheres foram vítimas dos companheiros ou ex-companheiros. Há ainda outros dois casos em análise e março nem terminou.

As violências sexuais contra meninas, jovens e mulheres são abafadas por muitas famílias. Inclusive por algumas mulheres, que calam e protegem os homens. Com isso, perpetuam a violência e a impunidade masculina.

A boa notícia é que alguns homens começaram a se manifestar. Entre eles Danilo, capitão da seleção brasileira de futebol. E Fred Bruno, ex-jogador. O presidente Lula também deu exemplo.

Quando as pessoas e movimentos sociais reagem contra as violências impetradas às mulheres é possível romper o ciclo.

Em 2023, por exemplo, a torcida do Corinthians protestou pela contratação do técnico Cuca condenado por estupro coletivo de uma menor de 13 anos na Suiça quando ainda era jogador pelo Grêmio. Depois de dois jogos e muito protesto contra ele nas redes sociais digitais, Cuca deixou o cargo.

Outras Formas de Violências

Mulheres na vida pública e em cargos de poder sofrem assédio, ameaças e violência moral. É isso que tem acontecido com a Ministra Nisia Trindade.

Não adianta ser reconhecida internacionalmente como pesquisadora. Ou ter uma longa carreira de serviços prestados ao país. Nem mesmo realizar um importante trabalho de reconstrução da saúde pública no Brasil.

Ainda assim, a Ministra da Saúde vem sofrendo violência de gênero diariamente (leia mais aqui).

A situação gerou Nota Pública da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em defesa da Ministra (disponível aqui). Uma Nota que nós, do Coletivo Filhas da Mãe, assinamos embaixo.

No Brasil, são milhões de Marias, Nisias, Marilias. E Marielles.

Basta de viver em uma Sociedade da Violência. Queremos respeito para todas as mulheres.

E você, homem, já gravou um vídeo rompendo o silêncio sobre as violências contra as mulheres no Brasil? Ou vai seguir em silêncio, no clube dos homens?

PS: Na manhã desta segunda Daniel Alves foi liberado temporariamente após pagar a quantia de 1,5 milhão de euros.

Cosette Castro

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