Depois do Globo Repórter, Seguimos Caminhando

Cosette Castro

Brasília – Quem cuida de quem cuida?

Essa foi a pergunta que um pequeno grupo de cuidadoras familiares de Brasília fez enquanto cuidava de seus parentes com demências, entre elas o Alzheimer, no final de 2019.

Eu era uma delas.

Recebíamos informações sobre demências, mas ninguém olhava para quem cuida de seus familiares.

Para além da sobrecarga física e emocional, estávamos adoecendo por nos sentirmos invisíveis. Essa invisibilidade também ocorria nos grupos de apoio, focados na doença.

Em dezembro de 2019 decidimos mudar essa realidade.

Criamos o Coletivo Filhas da Mãe, uma rede de apoio online e presencial para mulheres cuidadoras de familiares com demências. Acolhemos também amigas e vizinhas que cuidam pessoas com demências que moram sozinhas. E os (poucos) homens que cuidam de seus familiares.

Escrevemos no feminino porque somos maioria absoluta no Brasil, um país que naturalizou o cuidado como se fosse uma responsabilidade das mulheres. Não é!

O cuidado, seja ele familiar ou comunitário, é uma co-responsabilidade de todas as pessoas que vivem em uma mesma casa, família e em sociedade. Inclusive responsabilidade do Estado que, até pouco tempo, fazia de conta que o tema não lhe dizia respeito.

A boa notícia é que, enquanto esperávamos o Globo Repórter Especial sobre Cuidados: “Uma Puxa a Outra”, o governo federal deu mais um passo para a construção da Sociedade do Cuidado no Brasil.

Na semana passada coordenou encontro internacional em Belém (PA) que incluiu as boas práticas em políticas públicas de cuidado que vêm ocorrendo entre os países vizinhos. E passou a participar oficialmente da Aliança Global Pelo Cuidado. Aguardamos agora os próximos passos.

E o Globo Repórter?

Para nós foi emocionante ter esse espaço de visibilidade. E também ter a possibilidade de conhecer as histórias de outras mulheres. Seguem chegando mensagens de todos os Estados do país. E também do exterior, de países como Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, Austrália e da vizinha Argentina.

Durante o programa (assista na íntegra aqui),  05 grupos de apoio à mulheres foram apresentados na TV Globo.

Do Coletivo Filhas da Mãe (assista aqui) foram selecionados dois projetos mostrando que não andamos sós. Atuamos junto com amigas, com parceiras e parceiros para estimular o cuidado coletivo, o autocuidado e a construção de uma Sociedade do Cuidado inclusiva para todas as idades, corpos e desejos.

A primeira atividade mostrada foram as caminhadas que fazemos nos domingos pela manhã pelos parques de Brasília.

Em novembro de 2023, quando começaram as gravações realizamos uma caminhada temática em parceria com o Grupo Caminhadas de Brasília (GCB).

No dia que o programa foi gravado estávamos no Parque das Garças, situado no Lago Norte, em uma caminhada laranja, para chamar atenção sobre a violência contra as mulheres.

O Globo Repórter também acompanhou o Esquenta Carnaval 2024 do Bloco Filhas da Mãe. E parte da marchinha “Ninguém Solta a Mão de Ninguém”.

O que não apareceu é que, antes de chegar às ruas, realizamos oficinas pré-carnaval gratuitas de Samba no Pé, estandartes, tiaras e de customização de camisetas com apoio de mulheres artesãs do DF. E promovemos o encontro das mulheres cuidadoras em um espaço lúdico, cedido pelos parceiros do Centro Longeviver.

Em meio ao desafio de cuidar um familiar com demência que vai esquecendo de tudo, inclusive de quem cuida, é uma questão de saúde mental se dar ao direito de brincar e rir e de estar junto de outras pessoas.

No Esquenta Carnaval 2024 lembramos às pessoas “que a vida é bonita, mesmo que não pareça ser”, como diz a marchinha criada por André Barbosa Filho. Nesse dia tivemos parceria do Café Colabora e o apoio da maravilhosa banda de fanfarra Capivareta Repercursiva.

Março começou e seguimos caminhando, com a certeza de que não andamos sós.

PS: Voltaremos às caminhadas de domingo pela manhã a partir do  dia 17, terceiro domingo de março. Depois das atividades em defesa das mulheres no 8M. Aguardem!