Você Aceita Envelhecer?

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Cosette Castro & Aline Laginestra

Brasília – Vivemos em um país que teima em se considerar jovem, apesar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2023) ter apontado que existe 32,5 milhões de pessoas idosas no Brasil. E este número vai aumentar significativamente nos próximos anos.

Para refletir sobre longevidade e prevenção de demências, a convidada desta edição é a geriatra Aline Laginestra, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que também é professora e escritora.

Aline Laginestra  – “No âmbito do envelhecimento, encontramos vida, experiências, relacionamentos e fatos memoráveis que nos constroem ao longo de décadas. Assim como os anos povoam nossa mente, lapidamos o corpo cujas marcas são construídas pelos tempos vividos.

Pelo último censo do IBGE publicado em 2023, 15% da população é formada por pessoas idosas no país. Teremos, no futuro, recorde de pessoas 60+, com expectativa de vida acima dos 75 anos, mesmo com tantas diferenças econômicas, culturais e de acesso à saúde. Sim, meus caros, chegamos à longevidade.

É maravilhoso envelhecer, porém com as fatídicas impressões do tempo que branqueiam os cabelos, assinalam a face, lentificam a marcha, vem a predisposição para muitos problemas, dentre eles, as demências. As doenças que afetam a cognição, função intelectiva do cérebro, cresceram mundialmente. Ao passo que apresentaram seu ápice e, atualmente, já estão em queda em países desenvolvidos, em países como Brasil, a condição é bem diferente.

Nossas estatísticas começaram a desnudar o processo, dando visibilidade às demências. O Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (ReNaDe), de 2023, demonstrou que há aproximadamente 2 milhões de pessoas com demência em nosso país, sendo apenas 20% devidamente diagnosticados. Em sua maioria são dependentes do SUS e carentes de cuidados.

Os dados mostram que, pelos menos, 73% dos custos são pagos pelas famílias e que as pessoas cuidadoras, notadamente, mulheres, estão sobrecarregadas e exauridas em suas funções.

A demência custa muito ao mundo. E custará mais ainda aos países em desenvolvimento, principalmente pelas lacunas de enfrentamento, tanto no que tange ao rastreio, como ao diagnóstico mais preciso, tratamento, cuidados, olhar humanizado e acolhimento às famílias.

Ninguém adoece só. Existe uma rede (familiar,  amigos, vizinhos e comunidade) envolvida, ampliando o sofrimento e aumentando a complexidade em todas as esferas da vida.

Estamos vivos e estamos envelhecendo. O envelhecimento per si é um fator de risco isolado para todos os transtornos cognitivos.

Frente aos documentos elaborados e nosso desestimulante cenário nacional, o que é possível fazer?

Em primeiro lugar, não adoeça! ‘Mas Dra., não é genética?’ Sim, temos a genética, mas fatores de risco modificáveis vão manter sua reserva cognitiva a fim de reduzir o impacto das doenças ou até mesmo impedir sua manifestação. (Já ouviu falar na expressão: “muita lenha pra queimar”?).

Estes fatores, são relacionadas às nossas opções de vida e possibilidades como escolaridade, sedentarismo, vícios, falta de exercícios, ganho de peso e não tratamento de problemas como depressão, ansiedade e redução auditiva. Até mesmo o isolamento afeta!

Após premissa básica de adotar condutas para o não adoecimento, precisamos de investimento em pesquisas para diagnóstico mais certeiro, acessível e não invasivo. Mas, saibam, que nem tudo, ou melhor, muita coisa, não é Alzheimer!

É importante ter acesso a serviços de saúde em que possamos ter direito a um rastreio, até mesmo, de causas comuns. Acompanhamento médico bem-feito e especializado também é crucial. Precisamos investir em nosso SUS, no preparo de profissionais mais interessados e humanos, bem como em educação em saúde!

A equipe multiprofissional não é somente para pessoas idosas. Ela deve abarcar toda família. Precisamos de políticas públicas que incentivem, apoiem e divulguem  esclarecimentos sobre o processo de envelhecimento.  Conhecimento é tudo e inclui todas as áreas da vida. Abarca todo meio social.

Precisamos ainda planejar o futuro.  Pense como quer envelhecer e entenda o processo. Já ouviu falar em envelhescência ou gerontolescência? Trata-se do processo de envelhecimento e precisa ser organizado, inclusive financeiramente.

Envelhecer é bom, acredite! Certas benesses, adquirimos somente quando vamos ficando velhas e velhos!

Imaginem a delícia de sermos avós, de ter disponibilidade para o lazer, desenvolvendo habilidades que nunca imaginamos e, ainda, gozando de boa saúde? Tudo isso ao olhar da maturidade, ao olhar do tempo de quem já sabe o que é importante e fez suas escolhas. Palavra de Geriatra!”

No Coletivo Filhas da Mãe apoiamos o envelhecimento saudável e ativo e a prevenção da saúde. Levamos em conta que as rugas, as marcas que carregamos são parte da nossa história e experiências. Apagar nossas marcas é apagar um pouco de nós.

Cosette Castro

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