Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – No fim de semana em que se comemorou o aniversário de Brasília, duas perdas foram registradas nos grupos de WhatsApp do Coletivo Filhas da Mãe.
Dor, condolências, solidariedade. Luto. Nenhuma de nós, apesar das doenças e das entradas e saídas de hospitais com nossos familiares, está preparada para o último adeus.
Durante os anos, ignoramos solenemente à finitude. Fazemos de conta que não existe. Que essa hora não vai chegar. Seja para o familiar querido, seja a nossa própria hora.
Toda vez que assistimos à finitude alheia, vemos, como um espelho – ainda que de forma inconsciente – o nosso próprio fim. E isso assusta muito. Não fomos educadas para envelhecer. Muito menos para morrer.
Somos diferentes, por exemplo, de culturas asiáticas como a do Japão. Eles ensinam às crianças sobre a morte de forma lúdica, desde cedo.
Basta acompanhar os desenhos de animação japonesa. Eles estão disponíveis na TV aberta ou por assinatura, em sites e no cinema. Neles assistimos à naturalização da perda e da morte.
Também aparecem diferentes crenças sobre o que ocorre após a morte. Ela é apresentada como parte natural da existência em histórias para todas as idades, mesmo para crianças pequenas.
Apesar de estarmos entre os cinco países que envelhecem mais rapidamente no mundo, seguimos fazendo de conta que somos eternas. Que a vida, pelo menos a nossa e das pessoas que queremos bem, não tem fim.
A realidade vem nos mostrar diariamente o contrário. Expõe nossas fragilidades, particularmente os medos que tentamos esconder. Com a morte, vem o choque, a dor e a tristeza, mas, para quem cuida, há muita coisa para organizar.
Quase nem dá tempo de vivenciar os primeiros dias de luto.
Há documentos que precisam ser obtidos, como o atestado de óbito. É preciso avisar familiares, colegas, amigas e vizinhos. Em famílias com condições financeiras é preciso escolher funerária, organizar o velório, decidir por enterro ou cremação e pagar tudo isso.
Depois, há diferentes aspectos legais a serem levados em consideração. Entre eles, informar o plano de saúde, ver os benefícios que a pessoa tinha direito no local onde trabalhava ou recebia pensão. Informar aos bancos, checar débitos e seguros. Em alguns casos, existe ainda partilha de bens.
Um dos momentos mais difíceis é se desfazer das roupas, objetos, medicaçôes e documentos da pessoa querida. Às vezes é preciso desfazer-se de uma casa inteira com todas suas memórias. Isso leva tempo. Sugerimos acolher esse momento. É uma forma de respeito a si mesma.
É tempo de muita carga emocional. Revivemos diferentes situações e a saudade pode pesar. Nesse período, sugerimos cercar-se de pessoas queridas e fazer os descartes ou doações na companhia de alguém. Com direito a pausas cada vez que ficar difícil.
No caso de pessoas com demências, ao lado da tristeza e da saudade, é comum as pessoas que cuidam se sentirem aliviadas. Trata-se de um sentimento legítimo, mas muitas sentem vergonha de contar por medo da incompreensão e cobrança alheia. Mesmo que tenham passado anos enfrentando os desafios da doença.
O luto é um período que pode durar até dois anos, dependendo de cada pessoa.
Sugerimos que você se dê ao direito de vivenciar esse período. Em alguns momentos sozinha, mas também rodeada de pessoas amigas e de redes de apoio, como o Coletivo Filhas da Mãe.
PS: Para ler mais sobre luto e perda, sugerimos outros textos do Blog: “A Triste Tarefa da Despedida”, “As Diferentes Formas de se Despedir”, “Existe Sim Vida Após a Morte”, “Precisamos Falar Sobre a Morte” e “As Primeiras Férias”.
PS 2: Estamos em processo de recadastramento dos participantes do Coletivo Filhas da Mãe. Participe! Link aqui
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