Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Com o processo de automação, uma das profissões que se encontram em risco de extinção é a de porteiro.
Muita gente pensa nesses profissionais como custo extra ou como peso no orçamento dos edifícios residenciais e condomínios. Não levam em consideração outros fatores que vão muito além da questão financeira e do possível aumento na segurança dos prédios.
Porteiros conhecem a rotina de cada morador e moradora dos edifícios onde trabalham. Mesmo que a pessoa só lhe diga bom dia e boa noite. Ou sequer isso.
Eles sabem a hora que saímos para trabalhar, passear com filhos e animais de estimação. Sabem quem acorda cedo e quem acorda mais tarde. Quem tem hábito de fazer exercícios e quem é sedentário.
Porteiros guardam chaves. Anotam recados e recebem encomendas. Avisam se alguém esqueceu o farol do carro ligado. Ajudam no caso de acidentes domésticos e urgências de saúde.
Acompanham o crescimento dos filhos dos moradores, sejam inquilinos ou proprietários. Assistem a chegada de novos casais, casamentos e separações que nem sempre ocorrem de forma tranquila. Eles também acompanham a fragilidade humana, com suas dores, doenças e finitudes.
Porteiros podem ser a única relação humana cotidiana de pessoas solitárias, independente da idade, e de pessoas idosas.
Conhecemos casos de moradores que levavam uma térmica com leite e pão para tomar café da manhã e bater papo na portaria. Ou que passam diariamente para comentar as notícias do dia. Da política ao futebol.
É verdade que a terceirização do serviço contratando empresas que fazem rodízio de funcionários na portaria é, aparentemente, é uma economia. E que uma portaria sem funcionários reduz o valor do condomínio
Para alguns, a informatização dos serviços, que extingue o serviço de portaria presencial passando para uma portaria remota, é uma solução moderna, mais barata e aparentemente segura. Até que caia a rede elétrica e a internet ou que o sistema à distância apresente problemas.
Essas pessoas não levam em conta o envolvimento humano, os vínculos afetivos e a relação de confiança que se estabelece entre moradores e porteiros. Isso não tem preço.
Segundo a Relação Anual das Informações Sociais (RAIS, 2020) há mais de 500 mil porteiros no Brasil.
Parte deles atua em prédios residenciais e condomínios. Este grupo, apesar da pouca formação, se caracteriza por ser um cuidador indireto que ajuda pessoas idosas. Eles costumam ficar “de olho”. E muitas vezes conhecem mais as necessidades das pessoas 60+ que a própria família.
Em 2010, uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), inclusive no Brasil, identificou a importância do papel desses profissionais na qualidade de vida das pessoas idosas. Uma população que cresce rapidamente no país.
Segundo a ONU (2022) somos o sexto país do mundo com maior número de pessoas idosas. Em tempos de envelhecimento populacional precisamos de pessoas e profissionais que contribuam para a saúde física e emocional das pessoas idosas. Porteiros incluídos.
E você que mora em um edifício ou condomínio, como se relaciona com o porteiro?
PS: Nesta terça-feira, 18 de abril, das 19 às 20h, acontece mais uma edição do Programa de entrevistas TERCEIRAS INTENÇÕES. Em abril a convidada é a Professora de Enfermagem e Pesquisadora Leides Moura, da UnB. Apresentado pela Professora de Fonoaudiologia da UnB Juliana Lira, o programa de abril terá como tema Idadismo e Envelhecimento. No canal do YouTube Filhas da Mãe Coletivo (link aqui).
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