Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Um dia depois das comemorações do dia do cerrado, em 11 de setembro, o Distrito Federal mostra ainda não ter feito o dever de casa. Quando saímos para fora da cidade, é possível ver que o cinturão verde – que deveria proteger a região – está diminuindo perigosamente, atingindo rios e nascentes e o próprio bem-estar da população.
Em nível nacional, o governo federal deu mais um passo para a destruição da área verde do DF na semana passada.
No dia 10 de setembro, Jair Bolsonaro sancionou o projeto de lei 2.776/2020, de autoria da deputada Flávia Arruda (PL/DF), que reduz, em aproximadamente, 40%, a área da Floresta Nacional de Brasília (FLONA), a maior unidade de conservação do Distrito Federal, que protege nascentes, além de uma variedade da fauna e flora do cerrado.
A proteção da natureza e o aumento das reservas naturais deveriam estar em primeiro plano. Principalmente se levarmos em conta que, em nosso país, 85% da população vivem nas cidades, segundo o IBGE. E a maioria das pessoas tem pouco ou nenhum contato com a natureza, sejam elas crianças ou pessoas idosas.
Como se fosse pouco preocupante a vida cercada por cimento, asfalto, condomínios, garagens e escritórios, a vida comunitária é desestimulada. Estar em lugares públicos, como praças, parques e florestas não faz parte das campanhas governamentais, tampouco o estímulo a proteção da natureza e à prevenção da saúde individual e coletiva.
Restam as iniciativas individuais, de famílias e algumas escolas, preocupadas com o contato de suas crianças com a natureza. De Organizações Não Governamentais (ONGs) que estimulam caminhadas de curto, médio e longo percursos, assim como pedaladas de bicicleta em grupo nas cidades e na natureza. Ou ONGs e grupos informais ligados à alimentação orgânica e a vida em conexão com o meio ambiente.
Não por acaso o pesquisador estadunidense Richard Louv cunhou o termo “déficit de natureza” para chamar atenção para os problemas físicos e mentais decorrentes de uma vida desconectada do mundo natural. Embora o público estudado por Louv seja infantil, todos os seres humanos precisam de experiências com a natureza.
Para o autor de “A Última Criança na Natureza”, traduzido para mais de 15 países, é preciso incorporar a natureza do lado de casa. Nós acrescentaríamos a importância de pequenos projetos, como as hortas verticais em apartamentos sem sacadas e das plantas ornamentais em cidades sem planejamento voltado para a integração pessoas e natureza.
Como comenta Louv, doses de natureza são fundamentais para compensar as consequências físicas e emocionais do excesso de uso das tecnologias digitais, sejam elas celulares, computadores, televisão ou jogos eletrônicos. Esses espaços abertos, incubadores de biodiversidade, contribuem também para reduzir as consequências da reclusão e o isolamento que todos passamos durante a pandemia de Covid-19.
Mais do que as pesquisas, a experiência em ambientes naturais e o envolvimento com outras espécies são fundamentais para nossa saúde física e emocional. E também para a espiritualidade, independente da religião ou de não ter nenhuma religião. Além disso, a conexão com a natureza está diretamente relacionada a nossa sobrevivência como espécie.
Mas como fazer isso vivendo nas cidades e convivendo com pessoas idosas?
Os japoneses, que estão entre os três países com mais pessoas acima de 60 anos no mundo, sugerem o “banho de floresta”, uma forma conhecida de passar horas ou dias na natureza, como uma imersão.
Outra sugestão é praticar exercícios nas praças, parques, jardins botânicos e florestas, como fazem os chineses, o país com maior número de pessoas idosas no mundo. Em Brasília, por exemplo, é possível encontrar seguidores de todas as idades de Tai Chi Chuan e Lian Gong nos parques da cidade.
O Tai Chi Chuan, prática chinesa que surgiu no ano 1200 D.C. e que é considerado uma meditação em movimento, chegou em Brasília nos anos 70 trazido pelo mestre Moo Shong Woo. Já o Lian Gong, outra prática de exercícios que surgiu na China nos anos 60, chegou a Brasília em 1998, tendo sido incorporado pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC).
Se nada disso for possível para o seu familiar idoso, um passeio diário pelas quadras aonde mora conversando sobre flores, tipos de árvores ou pássaros da sua região, ajuda muito. Há aplicativos sobre esses temas na internet que podem ser baixados gratuitamente no celular.
Outra possibilidade é convidar a pessoa idosa a tirar fotos das árvores, plantas e flores a sua volta. E se tiver uma criança junto, essa atividade será muito mais divertida.
Quer saber mais sobre a relação entre saúde e natureza? Veja aqui.
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