Uma Escuta Atenta

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Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Estamos acostumadas a falar, escrever, trabalhar, entrar e passar horas na internet, mas estamos pouco acostumadas a escutar. Particularmente quando se trata sobre o cansaço e estresse contínuo das cuidadoras familiares.

É um desafio diário cuidar de uma pessoa enferma, ainda mais se essa pessoa tiver demência.

É mais desafiador ainda para as pessoas que não têm acesso à informações sobre as características e estágios dessas doenças, em especial o Alzheimer e a Demência Vascular, responsáveis por 90% dos casos.

Dependendo do estágio da doença, a pessoa pode apresentar quadros de delírio visual  (ver bichos nas paredes, por exemplo) ou apresentar quadros persecutórios (imaginar que alguém da família ou um empregado está perseguindo ou roubando). E  ter alterações no humor.

Também pode perder o freio social. Falar ou fazer coisas impróprias, como por exemplo,  tirar a roupa e tentar sair de casa, tocar ou se mostrar de forma indevida a outra pessoa e até colocar a calcinha na cabeça sem se dar conta do seu significado.

Pode se negar a tomar medicações e cuspir comida no rosto da cuidadora familiar ou profissional. Se negar a tomar banho por dias e até semana e começar a gritar por socorro a qualquer tentativa de levá-la para o chuveiro. Ainda é possível que  se torne agressiva, atacando pessoas ou animais domésticos. (Em todos os casos citados a pessoa enferma precisa ser encaminhada a um profissional para adequar a medicação).

Muitas famílias, sem conhecer detalhes sobre as demências, tampouco olham e escutam os sinais de cansaço da cuidadora familiar.

Ela vive em constante sobrecarga física e emocional, tem perda do convívio social,  constantes perdas financeiras e endividamento pelos custos do tratamento.

O adoecimento emocional pode ser causado pela contínua sensação de frustração e desilusão por se tratar de uma doença irreversível. E ainda pela constante, mas escondida esperança de que algo mágico possa reverter a situação da pessoa enferma. Há ainda uma profunda tristeza pelo apagamento, falta de memória e reconhecimento da pessoa que cuida pelo familiar com demência.

Trata-se de um estresse crescente, seja pelo cuidado realizado de forma temporária ou até o final da vida, algo que pode durar em torno de 10 a 20 anos.  Quanto mais dependente a pessoa doente for, mais  atenção vai exigir. E, consequentemente,  mais desgaste e sobrecarga para a cuidadora.

A Síndrome de Burnout do cuidador, outro nome dado à síndrome do cuidador, está relacionada a uma reação pela tensão emocional crônica que aparece em cuidadoras familiares ou  em profissionais da saúde. Isso ocorre pelo contato excessivo com pessoas que sofrem de alguma enfermidade ou estresse.

Entre os sintomas estão traços depressivos, cansaço físico e mental, frustração,  culpa e impotência diante do diagnóstico, ansiedade, falta de concentração, problemas para dormir e irritação com a pessoa enferma. Eles começam aos poucos e vão se intensificando à medida que a pessoa que cuida se vê sem saídas para recuperar o controle da situação.

Uma Escuta Atenta

Pensando nisso, o Coletivo Filhas da Mãe vai realizar um novo projeto a partir de setembro que se propõe a contribuir com a saúde emocional das cuidadoras familiares. E também das ex-cuidadoras.

Trata-se da primeira edição da Roda de Cuidado e Autocuidado entre Mulheres Cuidadoras Familiares que vai acontecer presencialmente em Brasília (601 Sul, 2o. andar, no Centro Longeviver).

O projeto, coordenado pela neuropsicóloga Maria Motta e pela psicanalista Cosette Castro, se propõe a ofertar uma escuta atenta às mulheres durante três meses. Com início previsto para o dia 02 de setembro, os encontros, gratuitos, vão acontecer semanalmente nas sextas-feiras, de 10 às 12h. Interessadas podem se inscrever no link aqui.

Cosette Castro

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