Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Nascemos no mundo analógico. Em um mundo palpável. Concreto. Mas, obrigadas pelo mundo do trabalho, tivemos de nos adaptar e descobrir o mundo digital .
Esta não é a realidade de boa parte das pessoas que chegaram aos 60 anos.
O que nos leva a pergunta: quanto abismo digital existe na vida dos brasileiros e brasileiras?
Se pensarmos em termos de Internet, ainda há um grande vazio que separa a geração entre 50 e 59 anos e aqueles que viraram a casa dos 60 anos ou mais.
Estudo recente do PNAD/IBGE mostrou qie apenas 44,8% das pessoas 60+ acessam Internet. Já na faixa dos 50 a 59 anos o índice de acesso salta para 74,3%.
As pessoas que não utilizam Internet e vivem apenas no mundo analógico afirmam que não sabem acessar o mundo digital. Nem mexer nos aparelhos.
Outras dizem que “não gostam” das tecnologias. Trata-se de uma maneira educada de dissimular a falta de conhecimento e o analfabetismo digital.
Para elas, a vida ocorre apenas no mundo presencial.
Elas afirmam não compreender as lógicas do mundo virtual. E é difícil mesmo. Todos nós que nascemos no mundo analógico lembramos a dificuldade de aprendizagem na passagem para o digital.
A maioria de nós ainda segue no estágio da ponte, oscilando entre os dois mundos.
É preciso sair da concretude do mundo presencial, do encontro e do toque, para a imaterialidade do mundo digital.
Quando esse passo é dado, um mundo novo se abre. Nele, o toque não é o do abraço, nem é possível sentir o calor humano. O toque acontece apenas na máquina. Independente se é grande ou pequena.
Quem não teve a oportunidade de se apropriar do mundo digital não entende a falta de materialidade. Tampouco sabe usar computadores e outras tecnologias. Ou aproveitar os recursos, programas e aplicativos dos celulares.
Aliás, o uso do celular se expandiu. Vai muito além da função de realizar chamadas, algo que as gerações mais jovens quase não fazem mais.
Os celulares assumiram a função de múltiplos equipamentos que até o começo dos anos 2000 se espalhavam pela casa e pelos escritórios.
A partir do pequeno aparelho agendamos médicos e reuniões, usamos despertador, escutamos música, tiramos fotos, produzimos pequenos vídeos e acompanhamos o número de passos nas caminhadas ou corridas. Também utilizamos bancos online ou fazemos compras pela Internet.
Há muitas outras funções possíveis e aplicativos que podem ser baixados, desde que o celular tenha memória.
A inclusão digital é muito mais do que ter acesso à conexão de internet e ter direito a banda larga. Ou poder utilizar diferentes aparelhos e conhecer os programas e aplicativos.
Inclusão requer outras lógicas de pensamento. Requer mudança de paradigmas. Requer alguém que ensine (em geral muito mais jovem) e que tenha paciência. Exige dinheiro para comprar produtos, aplicativos e novos equipamentos.
Exige também abrir-se para o desconhecido, levando em conta que o conhecimento de hoje vai durar apenas até o próximo lançamento das empresas de TI. Ou seja, o conhecimento de hoje tem duração máxima de um ano.
Depois disso, por mais que seja difícil, é preciso aprender de novo, receber mais informações e fazer upgrade de nós mesmos. Um upgrade similar ao que fazemos nas máquinas e aparelhos tecnológicos que usamos.
No caso das cuidadoras familiares, muitas vencem o medo das tecnologias por necessidade.
Quando conseguem cruzar a ponte do mundo analógico têm mais acesso à informações sobre as demências. Podem tirar dúvidas sobre os estágios da doença, sobre preços e produtos e locais de acolhimento. Podem conhecer a rede pública e agendar serviços online.
Também encontram grupos de apoio importantes na internet, no Facebook, no Instagram e em canais do You Tube. Seja para buscar informações e conhecer outras experiências, seja para desabafar.
Como um espelho da vida real, a internet também possui o seu lado obscuro onde prolifera desinformação, fake news, tentativa de golpes e vendas de produtos sem efeito. Para evitar o “dark side”, é preciso alfabetização digital.
Independente do mundo em que vivemos, educação segue sendo essencial.
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