Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – A dificuldade de engolir é um problema frequente entre pessoas com demência. Isso pode ocorrer com medicações sólidas, líquidos ou alimentos. E nem sempre cuidadoras familiares ou profissionais sabem como agir.
Convidamos a fonoaudióloga Manoela Dias, diretora de Comunicação da ABRAz-DF, para compartilhar dicas sobre como lidar com esse desafio.
Manoela Dias – “Pessoas com demências podem oscilar o estado de alerta. Alguns dias podem estar mais sonolentos. Em outros, podem estar mais agitadas.
Isso pode ocorrer por vários motivos. Entre eles, prótese mal ajustada, posição inadequada, ofertas de alimento sem pausas e colocando colheres muito cheias, troca de medicação que interfere no estado de alerta, dor de dente ou tratamento dentário.
Outros fatores podem ser: retenção de secreção, saliva em cavidade oral. Ou o inverso, a boca muito seca. Ou ainda um evento agudo infeccioso capaz de alterar toda a resposta esperada. Finalmente, a troca de cuidadores profissionais que ainda não têm o manejo correto com o qual a pessoa idosa estava habituada.
Se a dificuldade é engolir comprimidos, o primeiro passo é verificar com o médico que acompanha o paciente se é possível mudar a medicação para forma solúvel. Ou comprimido sulcado, aquele que já vem com uma marca de divisória para partir ao meio, tentando dar ao paciente pedaços menores.
A dificuldade pode acontecer porque já existe uma perda das funções motoras e sensoriais da deglutição, com episódios de engasgos (tosse e ou pigarros).
Neste caso, será necessário macerar a medicação e diluir na água, podendo em seguida ser espessada. Antes de macerar, consulte sempre o médico para conferir se todas medicações usadas podem ser oferecidas dessa forma.
Para ficar mais gustativa, a água pode ser saborizada com gotinhas de adoçante, pedaços de frutas ou um pouquinho de suco menos cítrico e espessado. Muitas medicações têm sabor desagradável.
Para dissimular, é possível usar um suco grosso, como frutas pastosas batidas com água, como banana ou mamão, atingindo um grau maior de viscosidade. Também é possível intercalar ou substituir o uso do espessante.
Os espessantes são substâncias em pó, que conferem aumento da viscosidade do líquido, sem nenhuma interferência nas suas propriedades. Eles são desenvolvidos para serem usados nos líquidos frios ou quentes.
A quantidade da água deve ser apenas suficiente para cobrir a medicação macerada.
A ideia é não dificultar o tempo que ficará ofertando o remédio, porque pode resultar em recusa e desperdício da medicação, interferindo no resultado e na ação do medicamento no organismo. O ideal é finalizar a oferta da medicação em até três colheradas de chá ou 02 de sobremesa.
Outra opção é macerar os remédios e colocar em cima de duas rodelas de banana, mamão ou abacate amassado e ir cobrindo o remédio com a fruta. Esta opção funciona muito bem para aquelas pessoas que já estão cuspindo ou mastigando a medicação e recusando o sabor amargo dos remédios.
Mesmo sendo medicações de jejum, essa estratégia pode ser utilizada, pois a quantidade de alimento usado é pouca. Não tem a função de alimentar, e sim, de ser um facilitador para conseguir que a pessoa doente engula, não impactando tanto na absorção medicamentosa. E ao término, é possível oferecer mais um gole de água para finalizar a varredura de sobras da medicação.
É importante verificar se a pessoa com demência faz uso de prótese dentária removível e se está bem adaptada. Existe o risco da medicação ficar presa entre o palato e a prótese, quando mal ajustada.
Antes de ofertar remédios, xaropes que geralmente são doces e aderentes, recomendo molhar ou umidificar a boca com um gole de água, porque é muito comum ocorrer o ressecamento oral na pessoa idosa.
Isso acontece por diminuição de produção do fluxo salivar e é conhecido como “boca seca”. A língua fica menos maleável, atrapalhando o controle oral e o remédio pode aderir na mucosa do palato, na própria língua que está ressecada predispondo os engasgos.
É preciso garantir que a oferta medicamentosa seja feita de forma completa, sem expor o risco de complicações no pulmão por engasgos sistemáticos. A consequência poderia ser um quadro de pneumonia aspirativa, um dos motivos de internação hospitalar.
A posição correta para oferta de qualquer dar a medicação oral é com a pessoa sentada, ou com a cabeceira elevada, de preferência próximo de 90º. Ela precisa estar alerta e colaborativa no momento da oferta. E ao final da medicação, sempre inspecione a cavidade oral (boca) para ver se a pessoa enferma engoliu tudo”
Nós (Ana e Cosette) aprendemos muitas dessas soluções por tentativa e erro, pois não tivemos acesso ao conhecimento prévio do impacto da demência no processo de deglutição. Engasgos apavoram as cuidadoras. Já informação correta dá maior segurança e pode garantir mais qualidade de vida às pessoas enfermas.
As dicas da Manoela estão disponíveis no Instagram @fonomanoeladias.
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