Um Centro Multidisciplinar Só no Nome

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Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Na sexta-feira, 26 de novembro, abrimos este blog para tratar da triste situação do Centro Multidisciplinar do Idoso (CMI) do Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Embora as placas do prédio público nunca tenham sido mudadas e ainda registrem Centro de Medicina do Idoso, o nome do Centro mudou em 2012. Esse nome homenageia a diversidade profissional existente. Ou que deveria existir em sua plenitude.

Hoje voltamos a falar sobre o CMI.

De sexta-feira até o momento, foram várias as manifestações de funcionários na ativa que pedem para manter o anonimato por medo de represálias, de funcionários aposentados, assim como apoiadores solicitando que sigamos defendendo o CMI.  Sim, é um serviço público que merece ser defendido. E com grande potencial.

Na sexta-feira, tratamos das deficiências físicas do CMI, que fazem com que o  serviço de formação, pesquisa e  atendimento estejam comprometidos.

Hoje vamos escrever do ponto de vista das equipes que atendem o Centro Multidisciplinar do Idoso, lembrando que são serviços especializados voltados para pacientes com demências em diferentes fases. Ou seja, exige atendimento por profissionais que conheçam as necessidades de cada caso e que possam dialogar entre si.

Embora os pacientes com demências percam as funções locomotoras no decorrer da doença, só existe 1 profissional de fisioterapia, que atende por meio período todos os pacientes. Ou seja, há fila de espera. Enquanto isso, os diferentes tipos de demência não esperam. Seguem avançando e fazendo danos às pessoas doentes.

Esses pacientes necessitam de nutricionista com experiência no setor e dieta balanceada para cada caso, levando em conta as condições financeiras da família. No entanto, não há nutricionista no CMI. E as famílias precisam  esperar em uma longa fila, porque o número de nutricionistas no HUB é de apenas 01 profissional.

Atualmente não há fonoaudióloga no CMI. Os pacientes são atendidos pelo serviço existente no estágio de graduação em Fonoaudiologia, com supervisão.  Trata-se de um serviço incipiente e insuficiente para atender a demanda, que funciona durante o período de aulas da UnB.

Em relação à Psicologia, existe 1 neuropsicóloga  que,  além do CMI, atende também todo o Hospital Universitário. No entanto, não há equipe de psicólogos para acompanhar a saúde mental das cuidadoras e cuidadoras familiares. Nem para acompanhar os transtornos de comportamento no estágio inicial das demências.

Terapia ocupacional não existe há 10 anos no Centro. Sim, 10 anos. A equipe multidisciplinar deveria incluir a terapia ocupacional, tão importante para a qualidade de vida dos pacientes. Deveria…

Tampouco existe profissional de enfermagem, que poderia contribuir muito para o trabalho médico em um Centro onde  existem apenas 3 geriatras.

Só há uma assistente social no Centro Multidisciplinar do Idoso.

Para atender as diferentes demandas dos cerca de 1.200 pacientes anuais do CMI (dados pré-pandemia). Com apenas 1 assistente social fica difícil pensar em planejamento e prevenção ou mesmo reativar o grupo de apoio aos cuidadores e cuidadoras familiares, como existia antes do Covid-19.

Como se tudo isso fosse pouco, as consultas são realizadas a cada 3 meses, mas isso não funciona para casos de demências, que exigem atenção constante, de acordo com a fase e evolução da doença.

Há possibilidade de encaixes e ficar esperando pelo atendimento. Mas os encaixes são quase como pedir por favor pelo atendimento.  E demoram. Tampouco há atendimento emergencial  nem atendimento especializado nos fins-de-semana.

Para oferecer atendimento e acompanhamento integral aos pacientes demenciados, seria necessário ter no CMI atendimento 24h. Para isso, é necessário ter equipe suficiente em todas as áreas, imprescindíveis a um tratamento eficaz e constante. Algo que  não é impossível, pois existe em outros países.

Até quando vai faltar multidisciplinaridade no CMI?

Até quando o Centro Multidisciplinar do Idoso será relegado à abnegação de seus poucos profissionais,  sem um projeto de médio e longo prazo que o torne referência, como já aconteceu no passado?

Com o envelhecimento populacional,  estamos enfrentando uma outra pandemia, desta vez silenciosa. A pandemia das demências, ainda sem pesquisa, controle, tratamento e atendimento gratuito suficientes.

Pacientes com demências podem ter maior qualidade de vida,  ainda que enfrentem o desafio de viver com doenças sem cura. Mas precisam urgentemente da implementação de projetos de médio e longo prazo no HUB. A defesa e melhoria do CMI é um deles.

PS: Recebemos uma nota da assessoria de comunicação do HUB em que contesta nossa publicação. Lembramos que os pacientes com demências e seus familiares não podem esperar até 2022 para que a precariedade física e de profissionais especializados no CMI seja resolvida. Em respeito ao trabalho do HUB não publicamos os vídeos que mostram a situação do Centro.

Cosette Castro

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