Quando o Sapato Não É Só um Detalhe

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Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – O tema desta segunda-feira, feriado nacional,  começou  com  um pedido de informações no grupo da ABRAz-DF  e nos inspirou a escrever um pouco mais.

Escrever sobre sapatos para pessoas com demências a primeira vista pode  parecer corriqueiro, mas não é. É um tema complexo,  que exige cuidado, atenção e muita busca nas lojas.

Pessoas com demências em geral são pessoas idosas que antes de ficarem doentes tinham gostos bem definidos sobre sapatos. Algumas gostavam de usar sapatos com  salto, como a mãe da Ana, mas com o decorrer do tempo já não havia mais equilíbrio e com isso,  o risco de quedas e internações passou a  aumentar.

Aliás, a mãe da Ana, a Normita, amava sapatos, como a mãe da Cosette, a Carmencita. Ambas tinham coleção de sapatos. A diferença entre elas é que Carmencita gostava de sapatos baixos e confortáveis.

No caso da Normita, havia compulsão por compras. Comprava e não gostava. Ou tinha dificuldade de calçar e ” encostava” os sapatos. Na casa, havia sacolas de sapatos ainda sem abrir.

Para pessoas idosas com doenças como diabetes, é preciso atenção redobrada na hora de escolher sapatos.

Para esse público,  uma opção é a marca especializada Opananken. Essas observações valem tanto para a pessoa com demência na primeira fase da doença, quanto para as fases mais adiantadas, quando ocorre enrijecimento de pés, além do esquecimento sobre como calçar sapatos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de quedas ao menos uma vez ao ano é de 30 a 60% entre o público acima de 65 anos, mesmo entre pessoas idosas sem problemas de demências.

Por isso, a  escolha de um calçado é decisiva na questão da prevenção. Após os 80 anos, a possibilidade de quedas é ainda mais alta e a mortalidade chega a ser seis vezes maior.

Ana Castro, que sempre teve atenção redobrada para evitar as quedas da mãe, logo percebeu a mudança de pisada da Normita.

Ela observou um andar quase saltitante presente tanto nas  pessoas idosas como naquelas com demências, porque já não conseguem dobrar com facilidade os joelhos ou os pés.  Há casos onde as pessoas idosas arrastam os pés, o que amplia a possibilidade de tropeções e quedas. Uma das soluções encontradas foi as sandálias papete e os sapatos com velcro, mais fáceis de  abrir e fechar.

O enrijecimento dos pés da mãe da Cosette também obrigou  a aumentar o cuidado com o andar. A solução, além das sandálias papete,  foram as sapatilhas e tênis de neoprene, de diferentes cores para combinar com as roupas.

A fisioterapeuta Camila Nakata sugere aos familiares que tenham um cuidado redobrado com os pés das pessoas com demências, observando se apresentam joanetes ou dedos dobrados. A representante do Conselho Fiscal da ABRAz-DF lembra que os tênis e sapatilhas de neoprene se moldam às deformidades dos pés, evitando o sofrimento de doentes que muitas vezes sequer conseguem informar aonde dói.

Outras dicas da fisioterapeuta: “no caso de sapatos, compre aqueles com solado de até 2 cm, que oferecem estabilidade e reduzem  o risco do familiar doente virar o pé. E escolha tênis, sapatos, sapatilhas com capacidade anti-estresse para absorver o impacto da caminhada”.

Sapatos, sapatilhas, tênis ou sandálias  não são apenas uma opção estética ou símbolo de status social, como ocorre desde os tempos dos egípcios, gregos e romanos.

Podem ser também símbolo de contestação. Nos 60, tempos da ditadura civil-militar,  Carmencita e suas colegas, subiam e desciam ruidosamente as escadas da Faculdade de Serviço Social no Rio Grande do Sul, calçando tamancos de madeira estilo holandês. Sem precisar dizer uma palavra.

Hoje,  sapatos, sapatilhas, tênis ou sandálias também podem contribuir para melhorar a qualidade de vida de familiares enfermos e  suas cuidadoras, que passam horas em pé.

Em qualquer circunstância, sugerimos sapatos confortáveis, que não apertem, que  se adaptem aos  diferentes  tipos de pés e que sejam seguros e fáceis de calçar. Chinelos,  nem pensar! Devem ser abolidos porque não se prendem aos pés.

Cosette Castro

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