Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Em meio ao Covid-19 e as suas variantes, aos 400 mil mortos oficiais no país, somos surpreendidas com a declaração do Ministro da Economia, Paulo Guedes, na terça-feira, 27 de abril.
Paulo Guedes disse com todas as letras que as pessoas de idade são um peso para economia brasileira. Disse também que as pessoas idosas querem viver até 100 anos ou mais, como se isso, em pleno século XXI, fosse um exagero.
Com qualidade de vida e em um governo que respeite a contribuição das suas cidadãs e cidadãos ao país, por que não?
Na ótica da política do Estado mínimo, comandada por Guedes, tudo deveria ser privatizado e quem tem dinheiro paga pelos serviços. Quem não tem, fica a ver navios. Sem serviços e atendimento público.
Esse Estado mínimo diminui anualmente o orçamento da educação, da ciência e da saúde, sobrecarregando o SUS, o maior sistema público de saúde do mundo. Mas mesmo reduzido quase a míngua, o SUS é o programa público que está atendendo a população em plena pandemia.
Vivemos em meio ao caos econômico, ao aumento galopante dos preços e ao fechamento de empresas de todos os portes, nacionais e estrangeiras. O desemprego cresce assustadoramente, atingindo 14,3 milhões de brasileiros e brasileiras em março. Sobra o trabalho informal, mas as pessoas estão em isolamento social e há pouco dinheiro no orçamento para consumir.
Sem políticas econômicas eficazes, que tenham em conta as diferenças sociais do país, Guedes decidiu que os culpados da vez são as pessoas idosas. Somos o “bode na sala”.
Para o Ministro, é o avanço da medicina e o “direito à vida” que causam problemas aos cofres públicos. Mas o Ministro da Economia fala contra ele mesmo, esquecendo que tem 71 anos, apesar dos bens acumulados.
Um discurso negativo e com tamanha repercussão pública vindo de um Ministro de Estado, deixa ainda mais frágil a situação das pessoas idosas. Pessoas que estão confinadas em casa com suas famílias. Aponta que o Estado não está preocupado em cuidar e defender quem trabalhou toda uma vida para o crescimento do Brasil.
É mais do que um descaso. É uma violência institucional pública, a cometida dentro do ambiente institucional contra os +60.
Aumento da Violência
Em tempos de isolamento social, a violência contra pessoas idosas cresceu 81% em relação a 2019. Isso se levarmos em consideração apenas os casos denunciados. Em 2020, segundo dados do Disque 100, canal de atendimento do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, foram registrados 87.907 casos de maus tratos.
A maior parte da violência parte dos filhos e filhas, chegando a 48% das denúncias. Seguida dos netos, responsáveis por 6% dos casos de maus tratos. O Rio de Janeiro registra o maior número de abusos contra idosos, seguido do Distrito Federal.
Essa violência pode ocorrer de várias maneiras, sendo a física a mais fácil de comprovar. Mas também existem os beliscões empurrões, tapas, ou agressões que nem sempre deixam marcas.
Existe a violência psicológica. A violência patrimonial. O abuso sexual contra mulheres idosas. A negligência e o abandono. E o abuso financeiro.
O abuso financeiro ocorre quando pessoas da família se apropriam indevidamente da renda e dos cartões dos idosos quando deveriam cuidar. Em um país onde 13 milhões de pessoas com mais de 60 anos sustentam as famílias (IBGE, 2019), isso pode ser muito mais comum do que se imagina.
Se pensarmos em uma população de 29,9 milhões de pessoas idosas, imaginem quantas vozes são silenciadas.
Pode ocorrer pela vergonha do que ocorre dentro de casa, no convívio com seus próprios familiares . Por dependência física ou emocional. Ou porque essas pessoas não têm para onde ir, tendo de viver com seus algozes, como ocorre em casos de violência doméstica contra mulheres e crianças.
A violência não para por aí. Existe uma violência social que desvaloriza a experiência e a contribuição das pessoas idosas. Se manifesta como discriminação e é conhecida por ageismo, idadismo ou etarismo. Ela não ocorre só entre pessoas mais jovens. Se repete também entre os +60 cada vez que negam a sua idade.
Enquanto isso, o Estado que deveria proteger não olha para si mesmo. Nem para a idade de quem está no comando de todas as áreas.
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