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Versão dos policiais: veja o que os agentes acusados de agressão contaram sobre a abordagem a publicitário na Asa Norte

Publicado em CB.Poder

ANA MARIA CAMPOS

Ao prestar depoimento à 2ª DP, os agentes Gustavo Gonçalves Suppa e Victor Baracho Alves relataram nesta quarta-feira (09/07) a versão deles dos fatos no episódio de abordagem ao publicitário Diego Torres Machado de Campos, na Asa Norte, que provocou grande repercussão pelas imagens divulgadas por comerciantes no local.

 

Os dois agentes, integrantes da equipe da Delegacia da Criança e do Adolescente I, transportavam em uma viatura descaracterizada um adolescente, com a mãe, que estava sendo levado para prestar depoimento.

 

O adolescente é suspeito de participação no sequestro relâmpago (roubo com restrição de liberdade) na 404 Norte envolvendo uma mulher, em 21 de junho, e é testemunha fundamental para a elucidação do crime que teve grande repercussão. 

 

Segundo o depoimento prestado logo após a abordagem ao publicitário na Asa Norte, Gustavo e Victor estavam em deslocamento da 6ª DP, no Paranoá, rumo à DCA, quando, no Eixão, altura da SQN 115, a viatura realizou uma ultrapassagem do carro — um Suzuki Vitara — conduzido por Diego que, sem razão e motivo, grudou na traseira da viatura.

 

Os agentes afirmaram que, com o intuito de afastar o motorista, acionaram a sirene de maneira que aquele condutor tivesse ciência de que se tratava de um veículo policial.

 

Em seguida, segundo os policiais, Diego colidiu duas vezes na traseira da viatura e fugiu, em alta velocidade, com uma criança a bordo do veículo, pela pista do meio.

 

Ainda segundo os policiais, diante dessa situação, houve perseguição a Diego, e após reiteradas ordens de parada, o veículo entrou na SQN 113, quando foi abordado novamente pelos agentes.

 

De acordo com o que Gustavo Suppa disse à PCDF, Diego jogou o veículo que conduzia na direção de Victor, quando ele saía da viatura para abordá-lo. O agente disse que houve uma intenção de atropelá-lo.

 

Em seguida, Diego fugiu novamente em alta velocidade, entrando na SQN 112, sendo abordado na altura do bloco D da mesma quadra. No local, Diego saiu do carro, bastante alterado e hostil, ainda segundo relato dos policiais, razão pela qual foi necessário que fosse algemado, tanto para preservar a segurança pessoal quanto a integridade física dos policiais.

 

O filho de Diego, de cinco anos, estava no interior do carro. Enquanto a equipe pedia apoio e afastava as pessoas, a criança que estava muito assustada foi acolhida por uma pessoa desconhecida dos envolvidos, que pediu autorização para ligar para a mãe da criança, a jornalista Gabriella Furquim.

 

No depoimento consta que Gustavo e outro agente, que chegou em apoio aos policiais, permaneceram no local até a chegada da mãe da criança.

 

Gustavo Suppa está próximo da aposentadoria e não tem nenhum registro negativo em sua ficha funcional. Já Victor, tem pouco tempo de atividade.

 

DEFESA

O advogado Pierre Tramontini, contratado pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), está atuando na defesa dos dois agentes. Ele admite que as imagens da abordagem são fortes, mas ressalta que é preciso contextualizar. “Não foi uma simples batida de trânsito como tem sido colocado. O episódio começou muito antes, com uma colisão e fuga sem motivo mesmo quando ficou evidente que se tratava de um veículo da polícia”, afirma.

 

O advogado acrescenta: “Os agentes estavam transportando uma testemunha fundamental para a elucidação de um crime grave e o publicitário agiu de forma suspeita. Bateu duas vezes na traseira da viatura (descaracterizada) e fugiu. Não é normal uma pessoa fugir da Polícia sem motivo. Poderia ser alguém com mandado de prisão, um criminoso ou mesmo alguém envolvido no crime sob investigação”.

 

Segundo Pierre Tramontini, os fatos serão esclarecidos. Um dos agentes filmou a fuga e perseguição ao carro de Diego e o momento da primeira abordagem (veja video). Eles também buscam imagens de câmeras do DER no Eixão. A mãe do menor que prestaria depoimento e estava sendo conduzido pelos policiais também será chamada para dar o testemunho.

 

Vídeos

Muitas pessoas registraram imagens da abordagem dos policiais ao publicitário Diego Torres de Machado e Campos. Gustavo bateu na mão de Diego, deu uma gravata e o imobilizou no chão. Os vídeos despertaram revolta.

 

O caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil do DF. Gustavo e Victor foram afastados do trabalho operacional e transferidos para a área administrativa.

 

O Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial (NCap) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também entrou no caso para apurar eventual prática de crime, como abuso de autoridade, lesão corporal ou abandono de menor.

 

Ao abrir a investigação, o MPDFT sustentou:  “O caso, ocorrido em 9 de julho, ganhou visibilidade após vídeos mostrarem o uso de ‘mata-leão’ e socos no rosto do homem, que estava acompanhado do filho de cinco anos no carro no momento da intervenção”.

 

Depoimento do Diego

No depoimento prestado à 2ª DP, Diego Campos disse que o acidente ocorreu na entrada do Eixão Norte, nas proximidades da quadra 115, por volta das 15h30. Ele contou que trafegava pela faixa da esquerda, quando observou um veículo comum — sem sirene ou sinalização luminosa (rotolight) ativada — acelerando ao seu lado, na faixa da direita.

 

Segundo o publicitário, de forma repentina, esse veículo invadiu sua faixa e passou a frear bruscamente. Em reação, ele acionou a buzina. Como a freada se repetiu, ele buzinou novamente, por aproximadamente três ou quatro vezes.

 

Em decorrência da manobra inesperada do outro condutor, não conseguiu evitar a colisão e atingiu a traseira do veículo. Após a batida, ele ficou assustado e temendo pela própria segurança, desviou para a faixa da direita e seguiu em direção à quadra 113/114, fazendo a conversão por uma tesourinha.

 

Ainda segundo contou, ele passou a ser perseguido. Afirmou que, nesse momento, ouviu uma sirene, mas não associou o som ao veículo que o seguia.

 

Ressaltou que não identificou sinais luminosos característicos de viatura policial no momento da perseguição, tendo notado os rotolights apenas quando foi finalmente abordado na altura da quadra 112.

 

Diego reconheceu que fugiu do local do acidente e não atendeu à sirene, justificando sua conduta pelo receio de estar sendo seguido por pessoas desconhecidas, uma vez que se tratava de uma viatura descaracterizada e sem identificação visual clara.

 

Acrescenta que não percebeu ordens explícitas para que parasse o veículo, apenas sendo fechado por duas vezes.


Ele informou que, no momento da confusão, estava acompanhado de seu filho, Tito, de cinco anos. Após a abordagem e condução à delegacia, foi encaminhado à DCA (Delegacia da Criança e do Adolescente), onde foi feito contato com a mãe da criança.

 

Declara, por fim, que pretende ressarcir o dano à viatura e se compromete a comparecer na justiça, quando solicitado.