Valdir Oliveira: “A continuar como estamos, essa disputa fará do vírus o vencedor”

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ANA MARIA CAMPOS

Queima Roupa, da coluna Eixo Capital

Valdir Oliveira, Superintendente do Sebrae-DF

“O líder precisa exercitar a empatia, visitar hospitais e famílias que perderam entes queridos, demonstrar respeito e apoio aos profissionais na linha de frente, estar perto, conectado. A continuar como estamos, essa disputa fará do vírus o vencedor, do brasileiro a vítima e do Brasil o País da insensatez”

Qual é o principal atributo de um líder durante uma crise sanitária internacional sem precedentes?
Resiliência. Mas temos outros também importantes. Equilíbrio, empatia e ação. A sociedade precisa ter confiança e segurança no líder, saber que ele sente a sua dor e que ele jamais o deixará sozinho. A incapacidade de se aproximar da dor alheia e a inoperância em soluções ativas deixarão a sociedade desgovernada. Não há resolução possível se o foco for na procura de culpados ou de justificativas. O verdadeiro líder precisa estar no campo de batalha, junto da sociedade. Um líder, um bom governante, deve sempre atender a seus liderados porque governo que não atende as pessoas não serve para ser governo.

Pesquisas divulgadas nos últimos dias indicam que oito em cada 10 pessoas em todo o país avaliam que a pandemia está fora de controle. Na sua opinião, que medida precisa ser adotada com urgência para tentar colocar o país no rumo correto?
Vacina no braço e dinheiro no bolso. Simples assim. É incompreensível termos 3 mil mortes diárias no nosso País de uma doença que já temos a vacina. A política, nesse momento, deve estar voltada para a implementação de medidas efetivas que alteram o quadro caótico. A vida deve ser a prioridade. Qualquer outro intuito do governante, especialmente pontuado na  administração da crise com vistas à  reeleição, desemboca na troca da vida pelo voto, da racionalidade pelo populismo. Isso será punido nas próximas eleições. O país precisa de serenidade, diálogo assertivo e articulação. O líder  precisa exercitar a empatia, visitar hospitais e famílias que perderam entes queridos, demonstrar respeito e apoio aos profissionais na linha de frente, estar perto, conectado. A continuar como estamos, essa disputa fará do vírus o vencedor, do brasileiro a vítima e do Brasil o País da insensatez.

Como o Distrito Federal pode fazer a diferença em relação a outras unidades da federação?
Temos uma extensão geográfica muito pequena, com um adensamento populacional grande, mas de alto poder aquisitivo. Temos a maior renda per capita do País e somos muito solidários em momentos de calamidade. Precisamos despertar o sentimento altruísta do brasiliense. Nosso diferencial será na articulação entre o Governo e a sociedade para que possamos nos ajudar nesse momento tão difícil. Alimento e remédio não podem faltar às nossas famílias. O Distrito Federal pode mostrar ao Brasil que a solidariedade não precisa ser tutelada pelo governo ou pela política. A solução está em cada um de nós, no nosso dia a dia, na disposição de ajudar a quem precisa, sem holofotes ou reconhecimento. A solidariedade do povo do Distrito Federal pode ser um diferencial na superação da crise e ser exemplo para o resto do País.

Desde o início da pandemia, o grande dilema era como adotar medidas de isolamento social, necessárias para conter a contaminação, sem quebrar a economia, sem criar desemprego e fome. Como tomar medidas na saúde sem comprometer trabalhadores e empresários?
Uma Política de Renda Mínima será a chave para que a população seja aliada do Governo nesse instante. Não adianta proteger a saúde e deixar as pessoas morrerem de fome. Se o isolamento social é a arma de combate ao contágio, ele deve ser entendido como uma ação paliativa. Ele não resolve a pandemia, mas protege de imediato as pessoas. Os Governos devem adotar duas intervenções concomitantes ao isolamento para resolver a crise. A vacina para combater o vírus e o subsídio para o sustento dos que estão no isolamento. Quanto mais acelerar a vacina, menor será o investimento com o subsídio para os que estão isolados. E a política de renda mínima tem que ser mais ampla do que foi até agora. Temos milhões de microempresários no Brasil que não tiveram acesso a crédito, nem ao chamado coronavaucher. Precisamos implantar no Brasil, de forma urgente, uma Política de Renda Mínima Empresarial para nossos microempresários. Sem a manutenção da sobrevivência das famílias, não há o que se falar em solução via empreendedorismo. Quem está com fome precisa de comida e não de crédito. Essa deve ser a proposta de retomada do País, resolver primeiro a saude e a fome, depois a economia.

Se você estivesse no GDF recomendaria a compra de vacinas diretamente sem passar pelo Ministério da Saúde?
Sim, com certeza. A solução para encerrarmos essa crise é a vacina. O Governador nos disse em reunião que se existir a possibilidade de acesso a vacina ele não medirá esforços para obtê-la, porém esbarra no fato de que toda vacina à disposição hoje é direcionada ao Ministério da Saúde.

O que muda na política a partir da pandemia?
Penso que haverá uma redução da influência do extremismo ideológico nas eleições. O eleitor buscará uma solução de centro, de equilíbrio como opção.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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