Já está tudo combinado com os russos. Só falta acertar com os brasileiros. Fernando Marques, o CEO da União Química, indústria farmacêutica com representação em Brasília, deve se reunir amanhã com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para tratar do trâmite para aprovação do uso emergencial da Sputnik V, vacina russa contra a covid-19, no Brasil.
Também participam da reunião representantes do Fundo de Investimentos Diretos da Rússia (RDIF). Em debate, a possibilidade do envio imediato de 10 milhões de doses da Sputnik V para o Brasil. E, a União Química garante ter capacidade para produzir mais 8 milhões por mês, só neste primeiro semestre. A fabricação poderá aumentar substancialmente até o fim do ano. A Anvisa ainda tem restrições relacionadas à fase 3 de testes, o estudo de eficácia com humanos.
Diretor de Negócios Internacionais da União Química, o ex-deputado Rogério Rosso afirma que a Sputnik V já está sendo adotada na Rússia, Bielorrússia, Argélia, Argentina, Paraguai, Bolívia, Sérvia e provavelmente nesta semana no México. Já foram aplicadas mais de 2,5 milhões de doses.
“A Sputnik tem 91,4% de eficácia e já está sendo utilizada em vários países e sem nenhuma reação adversa grave”, afirma Rosso. A CoronaVac, que começou a ser usada no país no último domingo, tem 50,38% de eficácia. Caso a Anvisa não autorize a aplicação das 10 milhões de doses sob a gestão da União Química, o imunizante deve ser transferido para a Argentina.
Na terra do “sabe com quem você está falando”, da carteirada, do favorecimento, do “me ajuda aqui que retribuo ali”, não custa lembrar que o processo de imunização contra covid-19 exige muita transparência. São poucas doses para muitos desesperados. A vacinação é uma medida que, na pandemia, pode fazer a diferença entre a vida e a morte, entre a saúde e a doença, entre a paz e o sofrimento.
Com certeza, não vão faltar tentativas de furar a fila de prioridades. Imaginem quantos pedidos chegarão ao governador Ibaneis Rocha, ao presidente Jair Bolsonaro, ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ou ao secretário de Saúde, Osnei Okumoto… Atender ou não a um pedido de favorecimento é a questão.
Principalmente nesta primeira fase, quando as doses são escassas, o critério tem que ser extremamente justo. Quem está na linha de frente contra a pandemia, quem tem mais riscos de desenvolver um quadro grave e os idosos devem ser prestigiados, assim como professores e agentes de segurança, especialmente policiais e bombeiros militares que estão na rua. Os órgãos de controle e a imprensa precisam ficar atentos. Este é um momento de comemoração e de esperança, mas não se pode permitir favorecimentos.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) não resistiu à foto histórica ao lado da primeira pessoa a receber a primeira dose da vacina contra covid-19 no DF, a enfermeira Lídia Rodrigues Dantas. Ontem, ele esteve no evento, na companhia do secretário de Saúde, Osnei Okumoto, para que sua uma imagem fique registrada e associada à agenda positiva. Só o presidente Jair Bolsonaro ainda não topou.
Entre os seis primeiros beneficiados com a primeira dose da CoronaVac, cinco são mulheres. Foram vacinados uma enfermeira, uma técnica em enfermagem, uma fisioterapeuta, uma médica, uma auxiliar de limpeza e um vigilante.
“Como já tive covid e minha taxa de imunidade é alta, meu médico não recomendou, neste momento, que eu tome a vacina. Vou seguir a ciência”. A frase é do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que, aos 39 anos, está no fim da longa fila para a vacina contra o novo coronavírus.
Ele não é servidor da linha de frente da saúde, está longe de ser idoso, não é profissional de segurança pública, tampouco professor. Não consta que tenha alguma comorbidade grave. Filho do presidente da República pula casinha?
Quem lucra com o negacionismo da covid-19?
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