Os integrantes do PSB se expõem em praça pública. Talvez, dizem uns, seja culpa dos prazos eleitorais, que levam os caciques a revelarem de maneira explícita a falta de unidade partidária na escolha de um candidato. Talvez, refutam outros, tenha algo a ver com a própria história do partido, que nunca foi muito dado a consensos. Basta ver os perfis dos políticos já abrigados nas asas da legenda, por exemplo o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho.
Fundado há mais de 70 anos, o PSB teve altos e baixos, como de resto todos os partidos nacionais. Mas desde o trágico acidente com Eduardo Campos — neto da figura mais importante da legenda, Miguel Arraes —, os integrantes do partido não se entendem, como se o grupo estivesse em processo de combustão, prestes a se desintegrar. A semana vai mostrar a capacidade de o partido se reinventar, estabelecendo uma mínima unidade, ou levar o fracasso de uma legenda em buscar o consenso. Pelo menos nesta eleição.
O adiamento da reunião nacional dos caciques e, depois, o cancelamento do encontro mostram a divisão interna e o jogo de sombras. Dividida, a legenda tem três caminhos: apoiar o candidato do PDT, Ciro Gomes, se abraçar com o PT ou manter a neutralidade, que, em último caso, pode significar até mesmo lançar um nome sem qualquer viabilidade para ajudar a candidatura do tucano Geraldo Alckmin. O autor da estratégia, abortada por duas vezes em 10 dias, tem nome e sobrenome: Márcio França, governador de São Paulo.
A ação de França foi tentada com Lídice da Mata (BA) e Leany Lemos (DF). Até que ponto teve apoio de correligionários locais é uma incógnita que interessa talvez até mais aos próprios integrantes do PSB. Jogos duplos ocorrem em qualquer lugar do mundo, seja na Rússia, seja em Jaboatão dos Guararapes (PE). O fato é que tal estratégia tinha como principal beneficiário Alckmin, a quem França jurou apoio, caso a tese da neutralidade — neste caso, candidatura própria e fraca — saísse vencedora. É que o atual governador de São Paulo poderia, em caso de sucesso, dizer ao presidenciável tucano: isolou o PSB, evitando que a legenda apoiasse o PDT ou o PT.
Neutralidade
Da parte dos favoráveis ao PT, a neutralidade dos pessebistas não é de todo ruim, afinal as chances de a legenda apoiar os petistas são mínimas. Assim, melar o jogo do PSB em direção a Ciro também não deixa de ser uma vantagem para tal torcida. Seria a chance de convencer o PT pernambucano a desistir da candidatura de Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, que hoje é Luiz Inácio Lula da Silva até a morte. O problema é que os próprios caciques do PT são capazes de rifar a candidatura de Marília facilmente em favor da reeleição de Paulo Câmara em Pernambuco, caso o PSB se mantenha neutro ou mire o PT no campo nacional.
Por fim, os apoiadores de Ciro no PSB tentam ganhar algo que já consideraram mais fácil desde a desistência de Joaquim Barbosa em disputar o Planalto. Por mais que a decisão tenha sido adiada, a agulha mira para Ciro. Isso não significa que o partido não entre em combustão. Não será surpresa para ninguém.