À QUEIMA-ROUPA / Fernando Brites
Presidente da Associação Comercial do DF
Na sua opinião, a ação de retirada de moradores de rua do Setor Comercial Sul foi uma medida acertada?
Nós tivemos um trabalho altamente civilizado, altamente humano, realizado pela Secretaria de Segurança Pública. Pela primeira vez, nós vimos uma Secretaria de Segurança Pública dialogando com as pessoas, chamando as pessoas para oferecer formação profissional, oferecer a eles documentos e tudo quanto eles precisassem. Isso é uma coisa louvável. A gente não conhece um trabalho com esse padrão de qualidade feito pela Secretaria de Segurança Pública.
Por que, na sua opinião, houve resistência?
O que acontece é que no Brasil muitas pessoas fazem negócios em cima da desgraça alheia. Muita gente se aproveita disso para buscar recursos de governos. Buscar donativos e uma série de coisas e sobrevivem com isso. Não estou acusando ninguém porque a gente sabe que essas figuras existem, mas não podemos afirmar o nome de ninguém.
É uma ação política? Na Câmara Legislativa houve um debate e a oposição reclamou muito da ação…
A oposição não tem hoje uma pauta definida. Na verdade, não é exatamente a oposição. É a esquerda radical. A pauta deles faliu. Então, hoje eles vão buscar motivo para sobreviver exatamente em cima da miséria alheia. Isso é inoportuno. Não é sério. Um dia uma pessoa estava defendendo assistência social… Mas não existe melhor assistência social do que dar dignidade e cidadania às pessoas. Só se consegue isso com duas coisas: emprego e renda. Muita gente não vai querer. É uma opção. Quer viver na miséria? Vai viver na miséria.
Entre os moradores de rua ali instalados, havia criminosos que ofereciam risco?
Quem trouxe essa tragédia para o Setor sul foi uma coisa chamada Caps (Centro de Atenção Psicossocial). O Caps é uma tragédia que se abateu sobre o Setor Comercial Sul. Quando as pessoas saem de lá o que acontece? Tem alguém do lado de fora vendendo droga. Já aconteceu de a gente constatar que a pessoa pega uma quentinha e vende por três ou quatro reais para comprar uma pedra de craque ou um cigarro de maconha. A gente tem que trabalhar com a realidade. Não podemos trabalhar com a fantasia. Essas pessoas precisam ser orientadas. Precisam ser tratadas.
E retirar os moradores de rua era uma reivindicação da comunidade do Setor Comercial Sul?
Nós não queremos o CAPS ali. Ali não é lugar para o CAPS. As pessoas não moram no Setor Comercial Sul. Existe uma ladainha de que Setor Comercial é uma área central. Mas, essas pessoas podem ser atendidas em outro lugar. Mas não podemos mostrar para as pessoas que visitam Brasília que aqui nós temos uma Cracolândia a 300 metros da Esplanada dos Ministérios. Isso é uma vergonha. O Setor Comercial Sul é uma relíquia da cidade. Foi onde tudo começou.
Essa área, que já foi a mais valorizada de Brasília, está decadente. Qual é a solução?
Hoje, é a área mais desvalorizada de Brasília. Por quê? Porque os governos de Brasília negligenciaram. Nós temos que levantar o chapéu para esse governo que está aí, que comprou a ideia que nós levamos para eles de criar ali uma rua 24 horas. Foi um projeto em parceria com a UnB e que não saiu do papel porque o governo de esquerda que estava aí criou tanto embaraço que que a gente acabou se cansando de lutar. Em março do ano passado, numa reunião, eu disse ao governador que tinha um projeto de 24 horas para aquela área e ele me perguntou: “Onde que eu assino?”. Eu disse: “A agenda é sua”.
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