Novos indícios do suposto envolvimento da deputada distrital Telma Rufino (PPL) na Operação Trick revelam que a parlamentar pode ter gastado mais do que declarou na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Planilhas apreendidas na casa dela pela Polícia Civil mostram que, no pleito do ano passado, Telma teria gastos de R$ 2.987.000 na campanha. No entanto, na relação entregue à Justiça Eleitoral, a despesa total apresentada é de R$ 592.184,44 — cinco vezes menos. Os documentos particulares mostram ainda que, nas eleições de 2010, a candidata teve uma despesa de R$ 251.580,25, mas o total declarado na prestação de contas do TSE foi de R$ 83.557,62 — discrepância de 301%.
As planilhas fazem parte do inquérito de investigação que está no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). A defesa, no entanto, alega que os documentos se referem a projeções de gastos para os dois pleitos. De acordo com a assessoria de imprensa da parlamentar, o total arrecadado e os gastos foram inferiores aos valores projetados inicialmente. Segundo a advogada da deputada, Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro, as planilhas são documentos particulares que não comprovam os gastos. “É com muita tranquilidade que tratamos isso. Todos que organizam uma campanha fazem planilhas de estimativa de gastos e arrecadação que podem vir a se confirmarem ou não. Essas estimativas não se confirmaram porque não se arrecadaram esses valores”, explicou.
Desde o início do mês, a situação da deputada é desconfortável. Telma sofreu um infarto em 1º de agosto durante a madrugada, em casa. O mal-estar ocorreu um dia antes de o diretório nacional do Partido Pátria Livre (PPL) julgar o pedido de expulsão da distrital por causa do suposto envolvimento dela no esquema de lavagem de dinheiro para financiamento de campanhas eleitorais. A Comissão Executiva da sigla pediu a saída de Telma, mas o caso precisa passar pela Comissão de Ética. Assim, a decisão só deve sair em 29 de agosto, a fim de dar mais tempo de defesa. Caso seja expulsa, a parlamentar pode perder o mandato por infidelidade partidária.
O secretário nacional do PPL no Centro-Oeste, Roberto Bittencourt, explicou que o parâmetro para pedir o afastamento da parlamentar foi a suposta ligação dela com Edigard Eneas, subsecretário de Qualificação e Capacitação Profissional da Secretaria do Trabalho do GDF na gestão Agnelo Queiroz (PT). Para Bittencourt, não restam dúvidas da relação dela com Edigard. “Nós avaliamos inquérito e escutas, e a deputada arrolou nove testemunhas de defesa. Todo o trâmite para a expulsão será cumprido para que ela tenha condições de se defender plenamente, mas temos convicção da ligação entre os dois. A Comissão Executiva do partido pediu o afastamento dela e agora cabe à Comissão de Ética dar uma posição e apresentar ao diretório nacional”, explicou.
Defesa
Telma Rufino deve voltar ao trabalho amanhã, dia em que termina a licença-médica da parlamentar. A assessoria de imprensa da deputada esclarece que a parlamentar apresentou defesa e aguarda decisão da reunião do diretório nacional do PPL. A Operação Trick foi deflagrada pela Polícia Civil em 30 de abril. Na primeira etapa, policiais cumpriram mandado de busca e apreensão na casa da deputada Telma Rufino e do ex-diretor do Transporte Urbano do DF (DFTrans) Marco Antônio Campanella. As próximas fases prometem revelar a participação de outros políticos. O MPDFT também participa da operação. A investigação conduzida pela Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, à Ordem Tributária e a Fraudes (Corf) envolve 55 empresas fantasmas e 19 estabelecimentos reais.
Empresas fantasmas
Os envolvidos na organização criminosa criavam empresas falsas com o intuito de pedir empréstimos ao Banco do Brasil, mas não pagavam pela operação, já que os estabelecimentos não existiam. Os pedidos variavam entre R$ 800 mil e R$ 1,4 milhão. De acordo com a investigação, Telma Rufino teria, inclusive, se aproveitado do esquema para comprar diplomas falsos de graduação e pós-graduação em uma faculdade em Águas Claras.
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